ENTREVISTA

Cerca de 50 mil crianças e adolescentes do DF enfrentam pobreza menstrual

Titular da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), Marcela Passamani chama a atenção para importância de assistir público que está em situação de vulnerabilidade menstrual

No Distrito Federal, a pobreza menstrual atinge aproximadamente 50 mil meninas, entre 12 e 17 anos, que não têm condição de comprar absorventes e acabam deixando de frequentar a escola ou a praticar esportes. Nesta semana, o presidente Jair Bolsonaro vetou a distribuição gratuita de absorventes para alunas de baixa renda. A secretária de Justiça e Cidadania do Distrito Federal, Marcela Passamani, em entrevista ao programa CB.Poder — programa do Correio em parceria com a TV Brasília — falou à jornalista Adriana Bernardes sobre a importância de levantar esse debate na sociedade e sobre o projeto da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (Sejus) que vai distribuir 10 mil absorventes nas escolas do DF. Além disso, a titular da pasta abordou a reintegração de jovens do sistema socioeducativo para o mercado de trabalho e a ampliação das unidades do Na Hora nas regiões administrativas. Confira trechos da entrevista:

O governo está com um programa para meninas em questão de vulnerabilidade menstrual?
A questão menstrual nos acompanha sempre, mas a gente não tinha espaço de fala e crescemos envergonhadas e constrangidas de trazer esse debate à mesa. Hoje em dia, a gente sabe que muitas meninas deixam de frequentar a escola ou praticar esportes por causa da vulnerabilidade menstrual. Estamos falando de uma desigualdade de gênero do ponto de partida para essas jovens. Como a Sejus se faz uma secretaria responsável para segurança pública dessas adolescentes, estamos iniciando essa campanha sobre a dignidade feminina de meninas a mulheres, com menos tabu e mais cidadania. É um projeto que levamos para as escolas como roda de conversa, palestras e muito mais, não apenas a distribuição de absorvente, mas a informação.

O projeto começa com quantas escolas?
Como é um assunto de interesse social, mas com a abordagem muito voltada para a mulher, nós temos esse programa convidando as secretarias, cujo as titulares são mulheres, para que possamos fortalecer ainda mais esse projeto, e em parceria também com as secretarias de Saúde e Educação. Todas as escolas em que faremos palestra serão conduzidas pela Secretaria de Educação, que já nos passou alguns nomes iniciais de quatro escolas. Já temos 10 mil absorventes de doação para iniciar o projeto.

No DF, há quantas meninas que se enquadram nesse contexto de pobreza menstrual?
É um dado muito preciso, fornecido pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes). Aproximadamente 50 mil meninas, entre 12 e 17 anos, estão em situação de vulnerabilidade. O governador já determinou esse projeto de governo para cuidar de todas as mulheres, mas nós iniciaremos esse recorte via escola, comunidade escolar.

Nessa semana, houve a reinauguração do posto do Na Hora da Rodoviária. Foi apenas uma reforma na estrutura ou agora há mais serviços para a população?
Eu sempre falo que nós temos três pilares de atuação na Sejus. Temos os projetos que aproximam o cidadão do Estado, que roda em todas as cidades, temos a inclusão produtiva por meio de cursos profissionalizantes, oportunidades para toda a população em vulnerabilidade social e temos o atendimento ao público pelo Conselho Tutelar, Procon e o Na Hora. Desde que eu assumi, é uma prioridade essa atenção com o Na Hora, no qual a gente atendeu em 20 anos de funcionamento mais de 11 milhões de pessoas no DF. Precisávamos dar uma atenção em relação à otimização do tempo do usuário. Hoje, atendemos, somente na Rodoviária do Plano Piloto, mais de cinco mil pessoas por dia. Então, com a reforma conseguimos entender melhor o usuário desses serviços. Essa reforma vai ocorrer em todas as sete unidades, contando com a de perícias médicas, que no DF é vinculada ao Na Hora. Já estamos reformando a unidade de Brazlândia, e depois iremos para a de Ceilândia. Nosso objetivo é oferecer um Na Hora muito melhor, mais rápido e humanizado para a população do DF.

O que temos para o público jovem que está encarcerado, na área de saúde, profissionalização e educação?
Temos aproximadamente três mil jovens vinculados ao sistema socioeducativo, e é uma tensão muito grande. No nosso trabalho, acreditamos na ressocialização e na educação por meio de toda a ruptura do ato infracional. Quando você garante a oportunidade para esses jovens, você dá um poder de escolha para que eles possam romper com o círculo do ato infracional e escolher uma nova história para suas vidas. Fazemos isso com cursos profissionalizantes de dentro do sistema, como o Senac, Sesi e Sesc.

*Estagiária sob a supervisão de Adson Boaventura