Apesar dos impactos da pandemia da covid-19, a atividade econômica do Distrito Federal registrou, no primeiro semestre de 2021, o maior crescimento apontado pelo Índice de Desempenho Econômico (Idecon-DF) desde 2012 — quando o indicador deu início à série histórica. Segundo o levantamento, realizado pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), a economia brasiliense cresceu 3,8% em seis meses, quando comparada ao mesmo período do ano passado. Para o último semestre do ano, especialistas esperam que o crescimento se perpetue.
Segundo o Idecon, os resultados do segundo trimestre de 2021 também bateram recordes. Em relação ao período de abril a junho do ano passado, a economia cresceu 7,5%. Renato Coitinho, pesquisador na gerência de contas e estudos setoriais da Codeplan, explica que o cenário era esperado. “Vemos uma recuperação em relação ao ano passado, e era algo esperado para quem acompanha os dados. Sempre que temos uma contração forte ou pontual causada por um fator externo, espera-se uma recuperação mais rápida”, diz.
Apesar do otimismo para 2022, Renato afirma que não é possível fazer projeções certeiras. “Por causa da pandemia, é um cenário muito incerto”, complementa. O pesquisador comenta que o Idecon tem uma metodologia próxima ao da utilizada no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) nacional (leia Metodologia). “Pegamos dados de vários setores produtivos e capturamos a variação da economia com base no volume e na receita das categorias, além de outras pesquisas”, comenta.
No último semestre, a indústria puxou o resultado positivo, com alta de 6,2%. Dentro do setor, a categoria de construções foi a que mais cresceu, com 9,2% de variação positiva. Para o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Adalberto Valadão, a redução dos juros pelo Banco Central foi o principal responsável pela alta, e a expectativa para o segundo semestre é positiva. “O mercado ainda está aquecido, apesar dos juros terem aumentado”, diz.
Roberto Rubinger, 47, dono de uma empresa de construção, também está confiante para o próximo ano. “Estamos sentindo um arrefecimento na velocidade da inflação, e acreditamos que a taxa básica não chegue a dois dígitos. Se isso se confirmar, acredito que o ano será bom para o mercado imobiliário, apesar da tragédia que vivemos”, diz.
O setor de serviços, que representa 95,3% da economia local, teve um crescimento de 3,7% nos primeiros seis meses deste ano. Dentro da categoria, o comércio foi o que teve maior crescimento, somando 6,7% do total. Apesar disso, os comerciantes ainda estão de olho no próximo ano. Leandro Nunes, 36, é dono e chef de um restaurante na quadra 103 da Asa Norte. Após sentir os impactos negativos da pandemia, ele está confiante com o futuro. “Adotamos delivery e take out em outubro de 2020. Com eles, conseguimos dar a volta em 2021, porque é algo que está chamando mais os clientes ultimamente. Ano que vem, espero que seja bem melhor”, comenta.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do DF (Fecomércio-DF), José Aparecido, considera que 2022 será de consolidação da recuperação. “Realmente, sentimos uma melhora no primeiro semestre de 2021, com bons resultados de vendas e consumo no Dia das Mães e Dia dos Namorados. Para o ano que vem, esperamos que o Natal deste ano impulsione uma recuperação ainda mais forte”, diz.
A consultora e especialista em concepção e gestão de negócios Ju Guimarães avalia que os resultados são consequência das mudanças impostas pela pandemia. “No início da crise, muitas empresas tiveram que alterar o atendimento ao cliente de forma muito rápida. Agora, elas estão melhorando o que foi implementado”, comenta. A forma de consumo não deve voltar ao que era antes da covid-19, e empresários e prestadores de serviços devem adotar modelos mais modernos de atendimento. “A pessoa que conheceu a facilidade de um delivery por aplicativo, de consumir as coisas de casa, não vai voltar à rotina antiga. Por isso, as empresas que conseguiram sobreviver à crise vão ter que se adaptar a essa nova realidade”, complementa.
Projeções
Em retrospecto, o GDF considera que, este ano, houve equilíbrio das contas públicas e que há uma projeção de aumento de 16,54% na arrecadação tributária. “Grande parte da projeção de bom desempenho do governo vem por conta das medidas de apoio ao setor produtivo e de justiça fiscal promovidas pela Secretaria de Economia durante a pandemia da covid-19”, explica o secretário de Economia, André Clemente.
Segundo a pasta, os resultados obtidos no ano, até agora, são melhores do que se esperava. “Mesmo em período de crise, crescemos, nominalmente, 13% entre janeiro e agosto, comparado com o mesmo período do ano passado, o que dá em torno de 5% de crescimento real. Isso significa R$ 600 milhões de aumento de arrecadação”, completa Clemente. Com o otimismo, a secretaria propôs, para o ano que vem, um orçamento anual 9,1% maior que os R$ 44,18 bilhões previstos para 2021.
“Vemos uma recuperação em relação ao ano passado (...) Sempre que temos uma contração forte
ou pontual causada por um fator externo, espera-se uma recuperação mais rápida”
Renato Coitinho, pesquisador da Codeplan
» Palavra de especialista
Expectativa de retomada
Com o início da pandemia, tivemos um período de retração forte e inesperado, pois, antes, estávamos com expectativa de crescimento. As pessoas, na época, deixaram de sair, de consumir da mesma forma que antes, e isso afundou ainda mais a economia. Porém, essa “pausa” foi acumulando os desejos das pessoas, e, à medida que avança a vacinação, cria-se um clima melhor e as pessoas voltam a consumir. A abertura do comércio também favoreceu.
Já víamos a tendência de melhora desde o início do ano, mas ela se firmou mesmo em setembro e deve ser ainda mais positiva após outubro, e, principalmente, em dezembro, devido às comemorações de fim de ano. Além disso, a tendência é que Brasília vá retomando aos poucos os empregos. Tudo isso aponta para uma melhora gradativa nos próximos meses e para 2022. A recuperação é rápida. Vai ser um crescimento um pouco menor do que o esperado, mas deve ser positivo.
César Bergo, economista e presidente do Conselho Regional de Economia do DF