No segundo ano da pandemia da covid-19, o Distrito Federal registrou uma alta nas notificações de condutores que dirigem sob a influência de álcool. De janeiro a agosto de 2021, foram 16.419 flagrantes contra 11.943 registrados em 2020 — um crescimento de 37,5%. Deve-se levar em conta que, no ano passado, a capital do país passava por medidas restritivas de locomoção, como toque de recolher, e diversos setores da economia estavam fechados ou funcionando por meio de home office. No entanto, o índice de 2021 está se aproximando do observado em 2019, período anterior à pandemia, quando, entre janeiro e outubro, houve 18.690 notificações de embriaguez ao volante.
Os dados são de um levantamento do Departamento de Trânsito (Detran) do DF a pedido do Correio. Para especialistas, a conduta de dirigir alcoolizado é um risco assumido por quem realiza a prática e precisa de fiscalização mais forte. O Detran realiza uma ação conjunta com outros órgãos, a fim de reforçar a patrulhamento.
A corporação ainda não fechou os dados de setembro, mas, apenas no último fim de semana, o Detran flagrou 362 motoristas que dirigiam sob o efeito de álcool. O presidente da Associação Brasiliense de Medicina Legal (Abrml) e professor de medicina legal da Universidade de Brasília (UnB), Malthus Galvão, afirma que os perigos de quem dirige sob efeito de álcool vão além dos danos materiais. “Muitas pessoas pagam com a vida, delas ou de terceiros. É preciso entender que, quando se ingere bebidas alcoólicas, a pessoa está assumindo um risco”, diz.
O professor explica que o álcool mexe, principalmente, com os reflexos de quem o ingere. “O embriagado perde algumas habilidades como a de administrar máquinas e veículos e a capacidade de respostas rápidas, como os reflexos. Também têm a sensação de que conseguem fazer de tudo, o que é o mais perigoso. Perde a consciência das consequências de seus atos”, comenta. Malthus acredita que a fiscalização no DF precisa ser maior. “Apesar da certeza das penas, as pessoas continuam dirigindo sob efeito de álcool”, complementa.
Um especialista em marketing, de 28 anos, conta que foi pego na blitz uma vez, após sair do aniversário da namorada. O casal e alguns amigos se reuniram na Asa Sul e, depois, iriam para o Lago Norte. “A minha intenção era não beber. Mas, chegando ao local, acabei tomando uma cerveja. Quando fomos voltar para casa, fui parado em uma blitz na entrada do Lago Norte”, comenta. Ele se recusou a fazer o teste do bafômetro e se dispôs a realizar outros testes para provar que estava em condições de dirigir. “O policial foi bem educado. Mas, de qualquer forma, minha carteira ficou retida, e minha irmã precisou buscar meu carro”, lembra. “Depois disso, nunca mais combinei álcool com volante”, diz o jovem.
Combate
A fim de combater a prática de beber e dirigir, o Detran realiza fiscalizações constantes. Bárbara Martins, 22, é uma das pessoas que deixa de beber quando está dirigindo. “Tenho medo de perder a carteira ou de me envolver em algum acidente. Há casos na minha família de pessoas que foram pegas na blitz e tiveram de pagar um valor muito alto. Eu nem cogito essa possibilidade”, diz a moradora do Guará. A publicitária, que dirige desde 2017, diz que tenta influenciar amigos e familiares a terem a mesma postura que a dela. “Muitas vezes, me chamam de chata, mas eu não consigo, se vou sair para beber, prefiro pedir um uber”, complementa.
A jovem explica que vê muitos amigos embriagados que optam por dirigir nessa condição. “Quase nunca aceitam a minha sugestão de não fazer isso. Mas, quando vejo que algum amigo está bêbado e vai dirigir, eu evito pegar carona com ele”, comenta. Bárbara reforça que não ingere nada de álcool quando está no volante. “Tenho bloqueio”, diz.
Para o professor de psicologia e pesquisador em trânsito da UnB Hartmut Gunther, a pandemia agravou o problema da bebida no DF, e, somando à fiscalização mais pesada, há o aumento de infrações registradas. “É algo que noto; houve aumento no consumo de álcool durante a crise sanitária. As pessoas estão mais estressadas, preocupadas e acabam descontando”, diz. O professor ressalta que o problema não é a bebida em si, mas, sim, as consequências dela no organismo. “A pessoa perde a capacidade de reação e de julgar se está apta ou não a dirigir. E, assim, ocorrem fatalidades”, complementa. De acordo com a pesquisa Vigitel, entre 2019 e 2020, o DF registrou um aumento de 0,8 pontos percentuais de adultos que relataram ingerir quatro ou mais doses de bebida alcoólica em uma mesma ocasião.
Ações
O Detran-DF, em parceria com a Polícia Militar do DF (PMDF), Polícia Rodoviária Federal e Departamento de Estradas e Rodagem (DER), realiza, todo fim de semana, a Operação Força Conjunta. Com o lema “O crime passa pelo trânsito”, a operação busca unir forças para promover maior segurança viária à população, coibindo, por exemplo, alcoolemia ao volante, entre outros delitos e infrações que ofereçam risco ao tráfego.
O diretor de Policiamento e Fiscalização de Trânsito do Detran-DF, Glauber Peixoto, explica que, com o retorno do funcionamento pleno de bares e restaurantes e a volta de realização de eventos, a fiscalização foi intensificada. “Mapeamos os locais para ver onde vai acontecer, a fim de nos programarmos e montarmos as ações”, diz. Além disso, ele manifestou uma preocupação com as festas de fim de ano. “Em dezembro, devemos intensificar ainda mais. Temos muita preocupação com os acidentes que podem ser causados por bebida ao volante”, comenta.
O que diz a Lei?
De acordo com a Lei 9.503/1997, o condutor que ingerir qualquer quantidade de bebida alcoólica e for submetido à fiscalização de trânsito está sujeito à multa no valor de
R$ 2.934,70. A infração é gravíssima e condutor terá o carro apreendido e a suspensão do direito de dirigir por 12 meses. Em caso de reincidência, o valor da multa é dobrado. A sanção penal prevê detenção de seis meses a três anos.