Atire a primeira pedra quem nunca tomou vinho barato e deu um tapa na pantera na Praça do DI, em Taguatinga, nos anos 1990 e início dos 2000. A trilha sonora era, basicamente, o rock ‘n’ roll, apesar do dance ensurdecedor dos carros tunados que passavam pelas ruas que contornam a Praça Santos Dumont (sim, esse é o nome oficial. DI é a abreviação do antigo Departamento de Imobiliária da Novacap, que funcionava por lá na década de 1970, quando a praça foi inaugurada).
Os cheiros de erva e de urina eram comuns, mas não atrapalhavam a diversão de ninguém. A parte de trás do half de skate, geralmente, era o banheiro público dos meninos, enquanto que as meninas (nem todas) pediam para usar o banheiro de um dos vários bares da região. Batik, Tuza’s, Distribuidora Papaléguas, Bar do Primo, de um senhor libanês que não lembro o nome, o seu Milton da pimel e da farmacinha (pingas doces, o corote saborizado da época)... Descendo a praça, abaixo da Avenida Comercial Norte, ficava o clássico Botiquim Blues.
Amizades foram formadas, ideias debatidas e diversão garantida naquele quadrado com bancos de concreto quebrados, árvores regadas a urina e muita gente de preto. Era espaço para rappers, roqueiros, skatistas, headbangers, punks e skinheads. Como não lembrar da famosa noite das garrafadas, uma briga generalizada entre os skins e o resto da praça, com cascos de cerveja voando sobre nossas cabeças.
Tinha o Dog do Leo, para matar a larica, e o coreto, palco de shows musicais e abrigo para moradores de rua. Aliás, foi por essa última serventia que alguém decidiu derrubá-lo, e o DI foi ficando, aos poucos, sem cultura, sem diversão e chato com a política de higienização. Com pretexto parecido, colocaram abaixo a pista de skate. Alguns comerciantes alegaram que o local era ponto de usuários de drogas (toda a praça era, ora bolas). A administração da cidade resolveu demolir o half em 2014. Vale lembrar que, a poucos metros da pista de skate, havia uma base da Polícia Militar.
Moradores da região iniciaram uma campanha para tornar a praça um ambiente familiar. A juventude de preto foi substituída pelo vazio e por poucos senhores jogadores de damas ou de dominó. Uma falsa sensação de paz passou a dominar o local — falsa porque o crime ainda dá suas caras pela região, evidentemente. Um tiroteio aqui, um roubo à residência ali... Ora, ora, derrubar o half ou o coreto parece não ter acabado com a violência nas redondezas, muito menos com as drogas. Interessante.
Ao menos ainda restam quadras poliesportivas e dois parques infantis, que foram reformados no ano passado. Na ocasião, o GDF anunciou que essa era a primeira reforma na praça, após quase 50 anos (isso mesmo, cinco décadas). Antes viva e animada, a Praça do DI, hoje, está vazia e triste. Alguns bares e restaurantes ainda resistem no local e sonham com dias melhores e mais movimento na região.
O DI podia reviver o que tinha de bom nos anos 1990: skate, apresentações musicais, alegria jovial e comércio próspero, por exemplo. Cinema ao ar livre, por que não? Cultura e diversão não fazem mal para ninguém, e Taguatinga precisa de ambos. O poder público deve combater o crime (óbvio), e não lugares que poderiam ser mais aproveitados pela comunidade e em prol dela. Fica a ideia: ocupar o DI e fazer dele uma praça da cultura.