Nos últimos cinco anos, a taxa de suicídio vem crescendo em países com severos problemas sociais, como o Brasil. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), estima-se que tenha aumentado 17%. As razões para que o suicídio aconteça são variadas e jamais devemos reduzir a um único fator. Dentre os fatores, dois chamam bastante a atenção: diagnóstico de transtornos mentais sem tratamento adequado e, com os problemas econômicos da pandemia, o chamado suicídio econômico, que está intimamente ligado à dignidade humana de poder se alimentar, ter um teto, se higienizar, ter uma boa noite de sono, algo que os 14 milhões de desempregados no Brasil não têm. Sobre o primeiro fator, é importante lembrar que se trata de uma doença e que seu tratamento não se assemelha a uma infecção, cujo paciente ingere antibiótico, e seu corpo biológico faz o resto do trabalho com o remédio. Estamos falando de uma doença que é causada por perdas na vida (seja de pais, parentes, amigos, filhos), violência social, violência psicológica (relacionamentos abusivos, bullying ou assédio moral no trabalho, por exemplo), sentimento de exclusão de grupos sociais, deficit de aprendizagem, limitações por outras doenças degenerativas, dentre outros vários fatores. Não conseguimos controlar tudo sobre nosso futuro a fim de evitar perdas e/ou sofrimentos, mas é importante observarmos como atravessamos estes infortúnios e tragédias em nossas vidas. Quando não tratamos, emoções e pensamentos autodepreciativos se cristalizam a ponto de mudarmos a forma como enxergamos a nós e ao mundo em volta. Quando digo tratar, é de buscar profissionais reconhecidos para tais demandas, como psicólogos, psiquiatras e demais profissionais da saúde. Pseudoterapeutas não entram nesta lista. Muitos até causam traumas piores por lidarem com demandas para as quais não tiveram formação.
Mas o que leva pessoas induzirem outras ao suicídio? Na verdade, o importante é perguntarmos sobre as vítimas: geralmente, são pessoas emocionalmente vulneráveis. No caso de jogos, são jovens que têm poucas relações sociais fora na vida real, tendendo a supervalorizar o que acontece no mundo virtual como verdade e também as pessoas deste mundo virtual. Portanto, para diminuir o risco de pensamentos suicidas, é importante que tenhamos boas relações sociais (de familiares ou de amigos ou de colegas e vizinhos) e que sejam marcadas por afetos positivos. Além disso, os cuidados com o corpo físico (boa noite de sono, alimentação saudável e atividades físicas) e cuidados com a saúde mental, tendo bons momentos de risadas e prazer na vida.
Mas por quê esse fenômeno ainda é tão recorrente tendo em vista tantos avanços da ciência? Ao longo das décadas, tivemos muitas perdas sociais que eram importantes para manutenção da nossa saúde mental, como encontrar com amigos, ter relações saudáveis e ser menos dependente de regras sociais, como a roupa da moda, aplicativo da moda, filtro de foto da moda, dentre outros.
Como detectar quando há um risco? É muito importante verificar se houve mudanças comportamentais bruscas (por exemplo: a pessoa começa a se fechar e fica mais isolada ou fica muito irritada facilmente), se a pessoa começou a apresentar alguns medos que antes não existiam, se a pessoa tem tido perdas de amizades tidas como construtivas e/ou diminuindo o desempenho escolar, da faculdade e/ou do trabalho. São indicadores que familiares e amigos podem perceber mas que devem orientar ou levar a pessoa a um profissional capacitado para uma avaliação psiquiátrica e psicológica sobre a situação.
Vitor Barros Rego é psicólogo, mestre em Psicologia UnB e coordenador do curso de Psicologia do Centro Universitário Unieuro