Condenado à pena mais alta da história do DF por tráfico de drogas, Wesley do Espírito Santo, vulgo Macarrão, ganhou respeito e prestígio dentro da cadeia. Em reportagem exclusiva publicada neste sábado (30/10), o Correio trouxe detalhes, após análises de processos e investigações conduzidas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), sobre quem era Wesley e como ele coordenou um esquema criminoso de tráfico de cocaína que abastecia a capital. Macarrão foi executado a tiros na sexta-feira passada (22/10) enquanto trabalhava, em uma loja de som automotivo, na QSC 19 de Taguatinga.
O Correio conversou com uma fonte policial que teve contato com Wesley no Complexo Penitenciário da Papuda. Por algumas vezes, o criminoso confessou que estava aguardando sair do presídio para retornar à Ponta Porã (MS), divisa com o Paraguai. “Disse que quando saísse iria para lá provavelmente para mandar drogas para o DF”, afirmou.
Wesley foi preso em 2013, após ser alvo de uma megaoperação da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) que durou 1 ano e quatro meses. Uma denúncia anônima feita em 2012 foi o pontapé para a polícia desarticular uma quadrilha que tentava trazer 110kg de cocaína de Ponta Porã para o DF. O esquema foi articulado por Macarrão na companhia de, pelo menos, outras 10 pessoas (todas condenadas à época).
Respeito
Macarrão recebeu a maior pena da história do DF por esse tipo de crime, a 45 anos e 9 meses em regime inicial fechado. No Complexo Penitenciário da Papuda ele chegou a ficar alocado no Pavilhão de Segurança Máxima (PSM) na Penitenciária do DF 1 (PDF 1, uma das alas mais perigosas da cadeia, que abriga integrantes de facção, como o Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) — organização da qual Wesley chegou a se associar em Ponta Porã e Paraguai.
No entanto, ele não ficou nessa ala por ser considerado o mais perigoso, mas por ter sido ameaçado por outros presos na ala comum. “Ele puxou (cadeia) muito tempo nessa ala, para preservar a integridade física”, revelou a fonte policial. Dentro da cadeia, Wesley era considerado um detento com bom comportamento, sem registros de desobediências. “Típico de quem queria cumprir a pena e voltar logo para a rua”, completou. O criminoso também não "levava jeito para bandido". "Era diferenciado dos detentos. Tinha um alto grau de inteligência e sabia articular muito bem."
Com o auxílio de bons advogados, Wesley recebeu a progressão de regime semiaberto antes mesmo de ficar 10 anos no fechado e foi para o Centro de Progressão Penitenciária (CPP), no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), onde era respeitado pelos outros presos. Como prevê a determinação da Justiça, internos do CPP têm direito à “saidinha” de 15 em 15 dias.
Só este ano, o traficante conseguiu uma carta de emprego, o que lhe permitiu sair todos os dias para trabalhar no conserto e instalação de som automotivo em uma loja de Taguatinga. Segundo relatou a fonte, Wesley tinha evitado sair antes para trabalhar por medo, até que decidiu pôr os pés na rua. Com uma semana trabalhando, Macarrão foi surpreendido por um homem que, armado com uma pistola com seletor de rajadas, efetuou, ao menos, 15 tiros, segundo contou uma testemunha ao Correio.
Prisão
Em 16 meses, a PCDF reuniu elementos contundentes que comprovaram a prática criminosa e deflagraram, em 2 de junho de 2013, a operação Makar, que custou mais de R$ 200 mil. O caminhão foi interceptado na BR-060 com 78kg de escama de peixe, onde a grama custa cerca de R$ 80, e 32kg de pasta base de cocaína. Segundo as investigações, o público alvo dessa droga eram as classe média e alta do DF e a venda poderia gerar um lucro de R$ 5 milhões.
“Foi uma grande operação na época e a maior entre vários anos. Ele era o cabeça. A gente conseguiu sequestrar vários bens dele. Inclusive, na casa dele encontramos um colar avaliado em R$ 65 mil”, detalhou o delegado que coordenou as investigações na época, Alexandre Gratão.
No mesmo dia, os policiais civis cumpriram mandados de busca e apreensão na casa dos presos. Na residência de Wesley, foram apreendidos três carros, incluindo uma caminhonete, R$ 149 mil, oito relógios de marca de luxo, um cordão de ouro avaliado em mais de R$ 65 mil, uma espingarda calibre 5.5 e um revólver calibre .38.
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