Câncer de pulmão em fase avançada, perda de 40% do órgão direito e o risco iminente de um quadro de metástase. Foi com essa realidade que a servidora Claudia Lopes, 56 anos, decidiu que não havia mais tempo a perder. Moradora do Noroeste no Distrito Federal, em 2021, ela completou o Caminho Francês de Santiago de Compostela — roteiro turístico com cerca de 800 km que atrai peregrinos do mundo todo rumo ao suposto túmulo de Tiago, um dos apóstolos de Jesus. O percurso é conhecido pela experiência transformadora que muitos visitantes relatam e, mesmo com o pulmão comprometido e com uma doença incurável, Cláudia sentiu que precisava viver essa experiência.
Ver de perto os castelos medievais do destino europeu, conhecer as histórias dos cavaleiros templários, visitar igrejas encantadoras e vilarejos garantiram a Claudia o prêmio por sua determinação e a dimensão do privilégio que é viver. Entretanto, chegar até o momento de deleite não foi fácil. Muito antes de estar entre plantações, florestas, pastos, rios, entre a França e a Espanha, ela se deparou com muitas idas e vindas a consultórios, tratamentos dolorosos, mas sempre mantendo a fé.
Diagnóstico
Em 2014, Claudia mantinha uma rotina sem sobressaltos até que, por meio de exames de rotina, descobriu a existência de um câncer no pulmão. “Foi por acaso. Sentia dores abdominais e fiz uma tomografia. O exame pegou a base do pulmão e mostrou algumas alterações. O médico desconfiou e pediu mais exames. Assim, acabou se confirmando o câncer”, relata. Na época, ela chegou a fazer uma cirurgia e retirou cerca de 40% da base do pulmão direito. “Além disso, fiz quatro sessões de quimioterapia e fiquei acompanhando a evolução da doença”, afirma.
Quatro anos depois, a situação piorou. “Apareceram múltiplos nódulos nos dois pulmões, e o câncer se tornou, do ponto de vista médico, incurável. Assim, tenho que fazer controle para o resto da vida”, completa Claudia. Para moderar o avanço da doença, ela fez mais duas sessões de quimioterapia intramuscular quando descobriu uma mutação das células e passou a tomar os medicamentos de forma oral. “Desde agosto de 2018, utilizo essa medicação que controla o câncer. Continuo com nódulos, mas estabilizou”, conta.
Mesmo assim, quando as células cancerígenas se adaptam ou se tornam resistentes ao remédio, ela precisa ajustar o tratamento. Por isso, a cada três meses, a aposentada precisa realizar exames para verificar se o produto que usa ainda é eficaz para controlar a doença. “Quando ele para de funcionar, temos que trocar o protocolo”, explica.
Conforto na corrida
Apesar da situação de saúde complicada, ela aprendeu a conviver com as adversidades e não abandonou uma das suas maiores paixões: a corrida. “Quinze dias antes de descobrir o câncer, eu havia participado de um prova de 10 km. Depois de diagnosticada, continuei correndo. Em 2019, participei da São Silvestre”, comenta Claudia. Com sede de viver, ela não se deu por satisfeita com as corridas e caminhadas locais. “Em abril de 2019, fui para Portugal e fiz o percurso do Caminho Português de Santiago de Compostela. Foram 240km”, diz.
Segundo ela, a ideia era testar os limites. Caso conseguisse completar os 240km iria tentar avançar para os quase 800 km da rota. “Queria ter voltado à Europa em 2020 para completar esse desafio. Porém, com a pandemia, adiamos os planos”, conta. Em setembro do ano passado, ela e a família compraram as passagens, mesmo sem a certeza de que conseguiriam ir.
“Quinze dias antes do dia para o qual estava programada a viagem, abriram as fronteiras para o Brasil, e eu pude participar dessa aventura”, comemora. Lá, Claudia resume a experiência com uma palavra: fantástica. “Não é fácil, até por causa do câncer em si. Foram 36 dias, sendo 34 caminhando. Paramos duas noites para dormir porque senti desconforto e peguei um resfriado durante a noite. Entrei em contato com meu médico, peguei uma medicação, tomei descansei e depois continuei com o remédio e com a caminhada”, lembra.
Perspectiva
Mesmo com o futuro incerto por causa da doença, Claudia afirma que encontra forças na fé e na família. “Quando fui diagnosticada, não contei para todos. Eu não queria que as pessoas olhassem com dó para mim, como se já estivessem decretando minha morte”, relata. Segundo ela, apesar de estar sempre otimista, a forma de encarar a doença mudou ao longo dos anos.
“Quando completei cinco anos de diagnóstico, abri para todos essa questão e, a partir desse momento, comecei a mostrar que existe esperança após um diagnóstico”, completa Claudia. Para ela, a forma de encarar a doença influencia em como a pessoa vai viver e no tratamento. “Ressignifiquei muita coisa. Eu não preciso de um papel que me diga que eu estou curada. Se consigo fazer o que eu quero, dentro de algumas limitações, eu me sinto viva”, afirma.
Câncer de pulmão
O câncer de pulmão é o segundo mais comum em homens e mulheres no Brasil. A doença foi responsável por 26.498 mortes em 2015 no país. Os sintomas geralmente não ocorrem até que o câncer esteja avançado, mas algumas pessoas com câncer de pulmão em estágio inicial apresentam sintomas. Os mais comuns são: tosse persistente; escarro com sangue; dor no peito; rouquidão; piora da falta de ar; perda de peso e de apetite; pneumonia recorrente ou bronquite; sentir-se cansado ou fraco.
Fonte: Instituto Nacional do Câncer (INCA)
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