Os familiares e amigos de Amariah Noleto — bebê de 6 meses que morreu após ser deixada em uma creche na Vila Buritis, em Planaltina (DF) — despediram-se da pequena, nesse sábado (22/10). Na Capela 1 do cemitério da cidade, o sentimento era de indignação. O pai, Valdemir Noleto, 23 anos, falou pela primeira vez sobre o caso e disse que a filha vai deixar saudades. “Nunca vai se apagar da memória. Ela era luz, todos gostavam dela. Só lembramos de momentos bons”, afirmou. A mãe, muito abalada, não conseguiu se pronunciar.
Durante o enterro de Amariah, os cerca de 30 familiares e amigos da família entoaram hinos e orações. “Agradecemos o apoio de todos. Nossa experiência como pais foi curta, mas muito boa”, disse Valdemir. Ele foi o primeiro a receber a notícia de que a filha estava morta. “Na última quarta-feira (20/10), eu estava de folga. De manhã, levei a Amariah para a creche e saí para resolver algumas questões pessoais”, contou Valdemir.
Por volta das 17h, ele voltou à escolinha para buscar a filha. “Fiquei 20 minutos esperando no portão, e nada de me entregarem ela. Quando questionei a demora, me disseram que queriam ter uma reunião comigo e com minha esposa”, completou.
A mãe da menina, uma jovem de 20 anos identificada apenas como Carol, estava trabalhando em uma loja quando recebeu a ligação do marido. “Ela disse que não tinha sido avisada de nenhuma reunião. Neste momento, já fiquei desconfiado”, disse o pai .
Assim que encerrou a ligação com a esposa, uma das responsáveis pela creche, Marina Pereira da Costa, 22 — presa preventivamente por suspeita de causar a morte da criança —, ligou para Valdemir e requisitou a presença dele e de Carol no Hospital Regional de Planaltina (HRPl), local para o qual haviam levado Amariah. “Não me disseram em momento algum que ela estava morta. Só soube quando cheguei lá”, relatou Valdemir.
Melhores condições
Valdemir e Carol estão casados há pouco mais de um ano. A primeira filha, Amariah, foi planejada com amor e cuidado. Segundo a mãe de Carol e avó da bebê, Jaqueline Lisboa, 40, o casal mudou a vida para receber a menina. “Eles moravam no Arapoanga (Setor Habitacional de Planaltina) e queriam se mudar para ter mais espaço e uma vizinhança mais tranquila para criar a filha”, relatou. Segundo ela, os dois se mudaram para o centro de Planaltina há menos de um ano.
“Carol protegia demais a Amariah. Ela não queria deixá-la em uma creche, mas precisava porque tinha que voltar para o trabalho”, completou a avó. A creche localizada na Vila Buritis, também em Planaltina, foi indicação de uma conhecida. “A mãe decidiu de cara deixar Amariah lá. Eu, particularmente, não gostei do local. Achei que havia poucos adultos para muitas crianças”, comentou Jaqueline. Por não gostar do ambiente, Jaqueline planejava se mudar para mais perto dos pais de Amariah para poder ficar com a neta. “Queria tirá-la de lá. No dia em que ela morreu, eu estava olhando casas por perto”, acrescentou.
A perda da neta foi um choque. Ela estava na creche havia dois meses. “Era minha primeira neta. Muito calma, feliz, fácil de cuidar e saudável. Queremos entender o que aconteceu e queremos justiça”, disse a avó. Ela relata que o momento em que Carol soube da morte de Amariah foi traumático. “Ela amava demais a menina. No hospital, ficou umas duas horas abraçada com a filha, sem querer soltar. Foi preciso a ajuda de uma psicóloga”, detalhou Jaqueline.
Fiscalização
A creche em que Mariah morreu funcionava irregularmente há três anos. Segundo a Secretaria DF Legal, responsável por fiscalizar a situação das instituições, a maior parte das fiscalizações desses estabelecimentos é realizada mediante a apresentação de demandas que chegam pela Ouvidoria ou após solicitação da própria instituição, quando a mesma pede registro de funcionamento.
“Enquanto elas não possuem todas as autorizações dos órgãos responsáveis estão proibidas de iniciar seu funcionamento. No caso de Planaltina, ela possuía praticamente todas as autorizações, restando apenas o aval da Vigilância Sanitária e da Secretaria de Educação, ambos em análise”, explicou a pasta por meio de nota. De acordo com a instância fiscalizadora, quando as instituições não cumprem as regras para funcionamento, os responsáveis podem ser multados, o estabelecimento interditado e, em caso de desobediência, os donos podem responder na Justiça.
“A Secretaria DF Legal informa que foi ao local, mas que não foi possível fazer a vistoria, pois o estabelecimento se encontra fechado para a perícia. A equipe retornará ao local, assim que possível, para a tomada de providências”, completa a nota do GDF. A secretaria de Educação do DF informou que é recomendado aos pais ou responsáveis, antes de efetivarem a matrícula, verificarem se a unidade educacional está em situação regular junto à pasta, o que pode ser feito no site: educacao.df.gov.br/rede-particular-escolas-credenciadas.
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