ESTELIONATO

Golpe do falso médico no DF

Grupo de criminosos se passava por profissionais das redes pública e privada de saúde para pedir dinheiro a famílias de pacientes internados em estado grave. Três envolvidos foram identificados e presos pela Polícia Civil

» CIBELE MOREIRA
postado em 23/10/2021 00:32
 (crédito: Divulgação/PCDF)
(crédito: Divulgação/PCDF)

Grupo chefiado por detento de Mata Grande, em Rondonópolis (MT), fez, ao menos, duas vítimas em Brasília pelo golpe do falso médico. Os criminosos se passavam por profissionais da rede de saúde, pública e privada, para pedir dinheiro às famílias de pacientes idosos internados em estado grave. Outras 20 pessoas desconfiaram da ação e registraram boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) que, em parceria com a Polícia Civil de Mato Grosso (PCMT), identificaram três envolvidos na prática ilegal e se encontram à disposição da Justiça.

Segundo as investigações, o esquema era comandado de dentro do presídio em Mata Grande com apoio da namorada do chefe do grupo — que não tem ficha criminal — e de um ex-companheiro de cela que estava em regime semi-aberto pelo crime de homicídio, com monitoramento eletrônico. Um outro suspeito também teve a participação identificada, porém está foragido. Para a PCDF, mais pessoas devem estar envolvidas na prática que vitimou também famílias de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás.

O golpe consistia em obter dados de pacientes internados em estado grave, principalmente idosos, em diversos hospitais do país. Em seguida, um dos criminosos fazia contato telefônico com as famílias se passando por médicos e as induzia a efetuarem depósitos em contas bancárias de terceiros, informando a urgente necessidade de exames e procedimentos, por se tratar de caso de risco de morte.

Desesperados, os familiares acabavam transferindo quantias em dinheiro aos criminosos, chegando até a fazerem empréstimos bancários. “Nenhum médico ou hospital liga para a família de pacientes para pedir transferência de valores de exames, medicamentos ou outro procedimento. Se isso ocorrer, é melhor tratar pessoalmente. Desconfie sempre”, ressalta a delegada. O grupo pedia valores que variavam de R$ 4 a R$ 9 mil, que eram repartidos entre os envolvidos. Durante as diligências, foram encontrados R$ 3 mil em espécie, com o integrante que estava em regime semi-aberto, que inclusive, foi encontrado num motel, gastando o dinheiro do golpe aplicado.

Segundo a Polícia Civil, há fortes indícios de que alguns dos suspeitos também sejam integrantes do Comando Vermelho. Durante as diligências, a equipe policial localizou outras duas vítimas do estado de São Paulo e do Rio de Janeiro, que caíram no golpe na última quarta-feira. O grupo ainda tentou o golpe com outras oito pessoas.

“Esse é um crime da atualidade. Não só idosos podem cair, mas qualquer pessoa. Por isso, é importante a denúncia desse tipo de prática e ficar sempre alerta com ligações e mensagens suspeitas”, reforça Cyntia Cristina de Carvalho, delegada da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, ou por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin).

A polícia ainda apreendeu vários celulares, chips, anotações contendo a contabilidade do grupo, bem como números de telefones de hospitais do país inteiro, com ramais de unidade de terapia intensiva (UTI’s), quartos, áreas de covid-19, além de contas bancárias de “laranjas” utilizadas para depósitos dos valores obtidos com o crime. Foram encontrados também vários cadernos com instruções de golpes feitos por telefone pelos internos dos presídios, inclusive um roteiro orientando o que falar como falso médico.

Esquema
Segundo a Polícia Civil, os aparelhos celulares entraram na penitenciária por meio de drones, a um custo médio de R$ 10 mil. A hipótese levantada pelos policiais é que o grupo utilizava o dinheiro que recebia pelos golpes para pagar toda a operação do esquema. O grupo opera desde 2018 e cometeu diversos crimes, entre estelionatos contra idosos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa.

Se condenados, os investigados podem responder pelos crimes de estelionato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. Se somadas, as penas podem passar dos 20 anos de reclusão. Há, ainda, pessoas que foram vítimas desse golpe e não registraram o boletim de ocorrência. A polícia ressalta a importância de comparecer à delegacia mais próxima para efetuar o registro, a fim de que esses crimes também possam ser elucidados.

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