Integrante titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc) e coordenadora do Centro de Oncologia do Hospital Santa Lúcia, a oncologista Patrícia Schorn afirma que a taxa de cura de pacientes com câncer de mama é superior a 90%, segundo um estudo norte-americano. No entanto, a especialista ressalta que o resultado tem relação com o diagnóstico precoce da doença. Ainda nesse tema, ela abordou a importância da realização de mamografias anuais, não apenas do autoexame; explicou a relação entre o histórico familiar e a enfermidade; e mencionou um tipo de tratamento que previne um dos principais efeitos da quimioterapia: a queda do cabelo. Confira os destaques da entrevista da médica à jornalista Samanta Sallum, nessa quinta-feira (22/10), no programa CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília.
Qual é sua avaliação sobre ao autoexame? Ele continua sendo importante?
Esse é um ponto extremamente importante e delicado, porque esse tempo em que o autoexame veio para a mídia e ficou foi o período em que tivemos muito mais diagnósticos de câncer de mama avançado. Por quê? Porque uma mulher que faz o autoexame está preocupada em achar uma lesão, mas ela não está capacitada para isso. E ela, na maioria das vezes e até por um estímulo da imprensa, acabou substituindo uma coisa pela outra. Passou-se a fazer o autoexame porque é uma rotina muito simples e barata, deixando de ir ao médico e de fazer a mamografia. Onde está a questão disso? A mamografia é um exame que permite a identificação de lesões não palpáveis, milimétricas. Por isso, ela é tão efetiva para a prevenção. Conseguimos ter uma redução da mortalidade para o câncer de mama quando fazemos a mamografia. O autoexame, não. A mulher que percebe um nódulo na mama, já apalpa um tumor, o qual tem, no mínimo, 1 centímetro. Existe uma diferença que chamamos de prognóstica e com valor preditivo completamente diferente entre uma lesão que tem 1 milímetro versus uma lesão que tem 1cm.
A partir de que idade a mulher deve fazer a mamografia? E com que regularidade?
O principal fator de risco é o histórico familiar de câncer de mama. Mulheres que não os tenham devem fazer a mamografia uma vez ao ano, a partir dos 40. Quando identificamos uma que tem fatores de risco, trazemos a data inicial da mamografia para os 35 anos. E vamos imaginar que uma mãe teve câncer de mama aos 38. Então, iniciamos o rastreamento (da saúde) da filha 10 anos antes da idade que a mãe teve o câncer. Nesse caso, a filha passaria a fazer a mamografia a partir dos 28.
O principal fator para desenvolvimento do câncer é a predisposição genética, ou o estilo de vida das últimas décadas acelerou o número de casos?
A maior parte dos cânceres em geral — e o de mama também — não é hereditária. A doença hereditária é essa em que a mãe passa para a filha. Mas todos são genéticos, porque dependem de um erro do DNA celular. E esse erro pode ser programado. Aí, temos a doença hereditária. E ela também pode ser adquirida. Aí, vêm os fatores ambientais, o hábito de vida. Noventa por cento dos cânceres dependem dos nossos hábitos, não da nossa herança genética. Por isso, estimulamos tanto a questão de uma alimentação saudável, de abandono do álcool, do tabaco e (da adoção) de uma prática de exercícios frequentes.
Qual seria o tratamento mais leve e o mais difícil?
O tratamento curativo do câncer de mama é a cirurgia. Acrescentamos à cirurgia, antes ou depois dela, algum protocolo de quimioterapia. Mas não é todo mundo que precisa fazer. E acrescentamos a essa cirurgia também, em algumas situações, a radioterapia. O tratamento mais doloroso ainda é a quimioterapia, sem dúvida. Porque é sistêmico. É uma medicação que entra no organismo e passa por todo o corpo. E ela diminui a imunidade, faz o cabelo cair, permite feridas na boca, diminui muito a qualidade de vida da mulher durante o período terapêutico... Aí, vem o que podemos fazer para diminuir esse mal-estar durante o período de tratamento oncológico, que realmente é o mais doloroso. Uma das coisas que considero fundamental é a autoestima de uma pessoa durante o tratamento. E, hoje, conseguimos durante o período de quimioterapia, em alguns protocolos, preservar o cabelo (da paciente). Isso se dá por meio de uma touca. Chamamos de crioterapia. É uma touca que se resfria a menos de 26°C durante a infusão do quimioterápico, e isso diminui a queda de cabelo até 80% das vezes.
Podemos falar em percentual de cura ou isso também depende da faixa etária e do tipo de câncer?
Há um dado americano, não é um número nacional: mais de 90% das mulheres se cura do câncer de mama. Mas isso vai depender do diagnóstico precoce ou não. Por que insistimos tanto na necessidade de fazer uma mamografia e cuidar da prevenção? Porque sabemos que, quanto menor for o tumor, maior é a chance de cura.
*Estagiária sob supervisão de Jéssica Eufrásio
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