Uma cena brutal terminou com um jovem de 24 anos assassinado na QE 40 do Guará 2. Daniel Junio Rodrigues Freitas foi espancado até a morte, em um bar da quadra, na noite em que comemorava o aniversário com os amigos. Durante a celebração, houve um desentendimento do grupo com quem a vítima estava e outro que bebia no estabelecimento, segundo as investigações. Quando o jovem deixou o local acompanhado dos colegas, por volta da 1h, a briga se estendeu. Daniel foi agredido com garrafadas e chutes por vários metros, até uma praça, onde acabou morrendo.
O crime ocorreu na madrugada do último domingo (10/10). Um vídeo gravado por uma testemunha mostra o jovem caído no chão, enquanto recebia golpes desferidos por, aproximadamente, cinco pessoas. Um policial militar da reserva, que lanchava com o filho perto do local da briga, tentou apartar a confusão. Ao perceber a cena e que os agressores não interromperam a ação, Sidney Sebastião da Silva, 53 anos, atirou para o alto, na tentativa de dispersar o grupo. Em seguida, acionou o Corpo de Bombeiros.
Segundo-sargento da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal, Sidney acompanhou o caso de perto. “Eu estava lanchando com meu filho na hora e vi várias pessoas correndo, gritando. No começo, achei que estavam curtindo. É comum ver jovens brincando depois de sair de uma festa de madrugada. Depois que percebi que o grupo estava espancando um rapaz, eu me levantei e agi”, relatou.
Sidney contou que pediu aos agressores para interromperem a briga, mas não foi atendido. Por isso, o militar da reserva atirou para o alto, até que o grupo parasse de agredir Daniel. “Precisei disparar duas ou três vezes. Mesmo assim, eles continuaram por perto. Só se dispersaram quando me identifiquei como policial”, contou.
Após atirarem uma garrafa de vidro na vítima, que caiu no chão, os ataques se intensificaram, segundo o relato. “Havia umas garotas aplaudindo, pessoas gritando ‘Bate! Bate! Espanca!’ Quando o rapaz caiu, os outros o viraram para continuar batendo”, detalhou Sidney. Além disso, pessoas que também lanchavam no local viram a cena e continuaram as atividades, de acordo com o policial da reserva. Elas só deixaram a área depois de ouvirem os tiros. “As pessoas ficaram perplexas, ninguém teve a reação de ajudar. Continuaram comendo e bebendo”, completou.
Especialista em segurança pública, Leonardo Sant’Anna comenta que casos como esse são esporádicos e não ocorrem de maneira padrão. No entanto, ele ressalta que alguns tipos de pensamento levam os agressores a agir. “Há uma percepção de impunidade. As pessoas praticam aquele ato porque sentem que podem cometer o crime sem serem agredidas ou porque tem um poder social e econômico maior ou porque podem pagar um bom advogado. Quando alguém sofre um tipo de violência nesse nível, geralmente (os responsáveis) sabem que terão uma possibilidade muito pequena de (a vítima) se voltar juridicamente contra elas e se sentem mais confortáveis para essa prática”, analisa.
Gritaria
Daniel teve uma parada cardiorrespiratória e foi reanimado com urgência, no local do crime. Com os sinais vitais restabelecidos, ele foi levado para o Hospital de Base, mas não resistiu aos ferimentos e morreu horas depois. A 4ª Delegacia de Polícia (Guará 2) investiga o caso. O delegado-chefe da unidade, Anderson Jorge Damasceno, afirmou que os agressores devem responder pelos crimes de homicídio e de roubo, porque levaram o telefone da vítima. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso.
A polícia continua as investigações para identificar os suspeitos de matar Daniel. O delegado informou que a vítima tinha um mandado de prisão em aberto e histórico criminal por prática de roubo. No entanto, o investigador enfatizou que isso não teve relação com o assassinato. “Ele não foi morto pela ficha dele. Tudo indica que foi por causa da confusão que começou no bar. (A vítima) comemorava o aniversário, pois completou 24 anos no último dia 8. Houve essa briga no estabelecimento e, quando Daniel saiu, tinha um grupo que esperava por ele lá fora (do bar)”, detalhou Anderson Jorge.
O Correio esteve no local onde tudo começou. No estabelecimento comercial onde o jovem comemorava o aniversário, um dos responsáveis pelo local informou que não sabia da briga, apenas do que ocorreu do lado de fora, na rua. Testemunhas que presenciaram as agressões também relataram que viram o desentendimento na frente do bar. A vítima tentou correr, mas o grupo a alcançou e deu continuidade ao espancamento, inclusive com arremesso de garrafas de vidro.
Uma pessoa que frequenta a região há muitos anos e pediu para não ter o nome divulgado contou que brigas na área são comuns após o fechamento dos comércios. Ainda assim, a gritaria da madrugada do último domingo assustou moradores da QE 40 e pessoas que passavam pela quadra.
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Memória
10 de agosto de 1993
Marco Antônio Velasco, 16 anos, foi espancado até a morte por 10 jovens que faziam parte da gangue Falange Satânica. O crime aconteceu na 316 Norte, por volta das 15h. Um dos agressores se entregou voluntariamente à polícia, sem saber da morte da vítima e por pensar que responderia pelo crime de lesão corporal grave. Cinco adultos acusados pelo assassinato foram condenados a 28 anos de prisão, e quatro envolvidos que tinham menos de 18 anos foram apreendidos e levados ao antigo Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje).
21 de agosto de 2006
O promotor de eventos Ivan Rodrigo da Costa, 22 anos, conhecido como Neneco, foi espancado por um grupo de lutadores que saíam de uma boate na Asa Norte. A vítima passou nove dias internada na unidade de terapia intensiva (UTI), mas não resistiu aos ferimentos. No dia do crime, Ivan estava com um amigo, que também foi agredido, mas sobreviveu. Em 2013, a Justiça do DF condenou os cinco acusados — que responderam por crime de homicídio triplamente qualificado —
a 19 anos de prisão.
5 de fevereiro de 2021
O estudante de direito João Victor Costa de Oliveira, 19 anos, foi espancado até a morte na madrugada de 5 de fevereiro, em Planaltina (DF). As agressões teriam sido consequência de uma discussão em um bar entre a vítima e um funcionário do estabelecimento. O Corpo de Bombeiros esteve no local do crime para atender a vítima, mas João Victor não resistiu aos ferimentos. No mês seguinte, a Justiça do DF liberou os quatro réus para aguardar o julgamento em liberdade. Eles são acusados pelo crime de homicídio duplamente qualificado.
Colaborou Jéssica Gotlib