ESTUDO

Pandemia: DF ficou até 30% mais silencioso durante fase de restrições

Pesquisa sismológica feita na Universidade de Brasília (UnB) também analisou mudanças de deslocamento na capital federal em dias de grandes eventos, como jogos da Copa do Mundo e manifestações

Correio Braziliense
postado em 14/10/2021 22:38 / atualizado em 14/10/2021 22:47
Durante a vigência do primeiro decreto distrital que previa medidas restritivas para enfrentamento da covid-19, publicado em março de 2020, DF teve redução de 20% a 30% dos ruídos provocados por ação humana -  (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 15/4/2020 )
Durante a vigência do primeiro decreto distrital que previa medidas restritivas para enfrentamento da covid-19, publicado em março de 2020, DF teve redução de 20% a 30% dos ruídos provocados por ação humana - (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press - 15/4/2020 )

Um artigo publicado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) na revista estadunidense PLOS One revela, por meio da leitura de ruídos sísmicos, que o Distrito Federal chegou a ficar de 20% a 30% mais silencioso durante o auge da adoção de medidas restritivas contra a covid-19. O resultado sugere que houve adesão às medidas de isolamento social naquele período, em 2020.

Os professores Susanne Maciel, da Faculdade UnB Planaltina (FUP), e Marcelo Rocha, coordenador do Observatório Sismológico (Obsis) da universidade, usaram dados coletados por uma estação no Parque Nacional de Brasília. No mesmo endereço, o laboratório gerencia a Estação de Infrassom da Rede Internacional de Monitoramento de Explosões Nucleares — única desse tipo no Brasil.

Os pesquisadores que assinam a publicação fazem parte da equipe técnica do projeto Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization (CTBTO), uma rede mundial que recebe aporte de recursos da Organização das Nações Unidas (ONU) para compra de equipamentos que monitoram explosões nucleares, como forma de colaborar para o banimento desses tipos de armas.

As leituras consideradas no artigo científico geralmente são descartadas nesse tipo de monitoramento, por representarem interferências humanas no ambiente. Elas incluem vibrações produzidas pelo deslocamento de veículos e de torcedores em um estádio, por exemplo. O trabalho também contou com a colaboração do professor Martin Schimmel, do Instituto de Ciencias de la Tierra Jaume Almera (CSIC), em Barcelona, na Espanha.

Metodologia

Os pesquisadores iniciaram o processamento e a interpretação de dados a partir da separação entre ruídos captados pela estação sismológica e informações usadas no monitoramento de armas nucleares. No Parque Nacional de Brasília, uma antena de estação de banda larga fica enterrada a 100 metros de profundidade e grava 100 amostras de dados por segundo.

Normalmente, esse tipo de observatório fica instalado longe da cidade, para evitar ou minimizar a ocorrência de ruídos provocados por ação antrópica. A estação sismológica do parque fica a cerca de 30km do centro de Brasília, mas próxima o suficiente da cidade para captar os ruídos que analisados no estudo.

Os pesquisadores avaliaram dados gravados pela estação entre 2013 e 2020 no DF. Nesse período, os cientistas procuraram, para fins de comparação, dias e momentos que destoassem do comportamento médio de registros de ruído sísmico.

Durante a vigência do primeiro decreto distrital que previa medidas restritivas para enfrentamento da covid-19, publicado em março de 2020, o DF teve redução de 20% a 30% na quantidade de ruídos provocados por ação humana.

Privacidade

Antes de começar as análises, os pesquisadores notaram que o monitoramento da adesão às medidas de isolamento social pelas autoridades ocorria a partir de dados telefones celulares, com uso de informações pessoais não identificadas, e decidiram buscar formas mais anônimas de fazer o acompanhamento.

Apesar de os dados não serem divulgados nominalmente, por estarem conectados a cada dono de celular, a questão ética persistiu na mente dos pesquisadores. Porém, após ler um trabalho internacional sobre monitoramento sísmico de ambientes no contexto da covid-19, os cientistas da UnB decidira fazer a leitura dos dados normalmente descartados.

Eventos

Citada no estudo, a greve dos caminhoneiros de maio de 2018 também gerou momentos de quietude na capital federal. Outros eventos destacados no estudo, como exemplos de momentos ruidosos, foram dias de jogos na Copa do Mundo de 2014, das Olimpíadas de 2016 e o dia da votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016.

As variações analisadas pelos pesquisadores aparecem em um gráfico, e os deslocamentos dos registros são considerados em nanomilímetros. Certos períodos do ano, como o de férias escolares, são facilmente observáveis nos resultados, assim como a diferença entre dia e noite.

Os pesquisadores consideraram os registros normais da cidade — que têm picos durante a semana e quedas de ruído nos fins de semana — como o padrão a partir do qual analisaram os outros eventos. Os principais motivos dos declínios nos gráficos aos sábados e domingos se dá pelo reduzido número de pessoas em deslocamento para o trabalho e pelo menor número de veículos em circulação.

 

Com informações da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília (Secom/UnB)

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