Em diferentes tons e formas, as silhuetas femininas se apresentam fortes e audazes, postura digna de guerreiras vitoriosas. Impressas em totens, as imagens de oito mulheres brasilienses que enfrentam o câncer estão em exposição durante o mês de outubro em importantes espaços públicos para lembrar aos visitantes que o diagnóstico de câncer de mama é, acima de tudo, um irrenunciável convite à batalha.
A partir desta quinta-feira (30/9), como parte das ações do Outubro Rosa, Senado Federal, Palácio do Buriti e Câmara Legislativa do DF recebem a exposição fotográfica Simplesmente Amor, uma iniciativa da ONG Recomeçar — Associação de Mulheres Mastectomizadas de Brasília para sensibilizar sobre a doença e dar visibilidade a algumas das protagonistas por trás das estatísticas. A exposição também alerta que, com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, o câncer de mama não é, necessariamente, uma sentença de morte.
A força e beleza dessas mulheres foram captadas pelas lentes da fotógrafa Luciana Ferry, com intuito de levar uma mensagem de esperança para outras pessoas doentes. Joana Jeker, 45 anos, presidente da ONG e uma das personagens da exposição, fala sobre a importância desse tipo de abordagem. “Fazemos essa ação desde 2013 e temos repetido por impactar muito as pessoas em geral, não só as mulheres, que estão passando pelo tratamento. A partir da visualização das imagens de mulheres que estão vencendo a doença e tratando de uma forma positiva, isso passa a motivar outras que vivem o mesmo processo”, afirma.
Joana destaca que muitas vezes o diagnóstico fragiliza a paciente e que ao ter a mama afetada muitas ficam inseguras sobre a própria beleza. “O tema dessa exposição será o autoabraço, o autocuidado, o amor-próprio. São mulheres que se amam, se cuidam e são empoderadas a partir da informação sobre a doença e o tratamento que realizaram”, explica. Um amparo que a ONG oferece a muitas pacientes, tanto por meio da escuta e projetos como a exposição, como por meio da doação de próteses. “O maior projeto da instituição é a doação de próteses e sutiãs adaptados para mulheres que foram mastectomizadas. Desde 2014, temos uma sala no Hran para realizar esse atendimento”, complementa.
A diarista Joelma Carlos da Silva, 42 anos, está entre as atendidas pela iniciativa. Ela conta que descobriu a doença recentemente e ainda está passando pelo tratamento. Mãe de dois filhos, o convite para participar da exposição trouxe alegria e ânimo para ela. “Às vezes eu me olho no espelho e me sinto feia, triste, vendo como eu era antes e como estou agora. Por isso, quando eu fui convidada para participar da exposição eu fiquei muito feliz e emocionada. Fazia tempo que eu não me via tão bonita do jeito que eu fiquei. Aquela sexta-feira, para mim, foi muito importante, minha autoestima melhorou”, emociona-se.
Prevenção
O câncer de mama é o segundo mais frequente no mundo e o primeiro entre mulheres. No Brasil, é a principal causa de mortes de mulheres. Se por um lado as estatísticas assustam, os exames preventivos para um diagnóstico precoce podem fazer toda a diferença. De acordo com a oncologista Rosângela Andrade, a identificação do câncer precocemente aumenta as chances de cura e da melhora da qualidade de vida das pacientes. “Identificar o câncer de mama nas fases iniciais ou o diagnóstico precoce — que trata da abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença — é umas das grandes estratégias para um tratamento eficaz e aumenta muito as chances de cura. Com perspectivas melhores, muitas vezes os impactos da doença são minimizados”, constata.
Ela explica que para que exista a intervenção prematura, a prevenção é fundamental. “Nessa estratégia, destacam-se a importância da orientação de mulheres para o autoexame nas mamas, o reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos por parte dos profissionais de saúde, bem como o acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde de referência para investigação diagnóstica”, esclarece. Além disso, a oncologista alerta para que as pessoas mantenham hábitos saudáveis.
Autoamor
A artesã Cíntia Cerqueira, 45 anos, descobriu a doença a partir de uma campanha do Outubro Rosa. Ela ressalta que a exposição é necessária para as mulheres que estão enfrentando essa luta. “Elas estão passando por isso, mas não estão sozinhas. A doença é difícil, mas há um outro lado, a gente consegue se sobressair, além de passarmos a mensagem de que é preciso fazer os exames regularmente”, frisa.
A artesã tem procurado retirar importantes lições desse processo e afirma que é preciso se amar, independente do tipo de corpo. “Eu não tenho mais a mama e me amo. Amo meu corpo, hoje, do jeito que ele é. Não tenho vergonha. Vejo minhas cicatrizes e sinto orgulho, de tudo que eu já passei e venci, eu me amo dessa forma. Mesmo com as marcas, as assimetrias da mama, eu vejo como um ponto positivo para todas que estão passando por isso”, enfatiza orgulhosa.
Segundo a psicóloga Letícia Rosa, o sistema imunológico tem ligação direta com o emocional. “Estão diretamente interligados. Quadros depressivos costumam prolongar a internação e dificultar a resposta do corpo ao tratamento adotado. O desânimo, associado a tristeza, em alguns casos é encarado pelo próprio corpo do paciente como desistência. Desistência de si e da própria vida. Entretanto, em outros casos pode ser apenas um período de descanso diante de uma doença tão assustadora”, esclarece.
Ela afirma que o apoio psicológico, em muitos casos, é necessário. “O empoderamento desta mulher é fundamental para sua autoestima e auxilia muito no tratamento médico em curso”, explica.
Exposição fotográfica Simplesmente Amor
Data: 30 de setembro a 29 de outubro
Locais: Senado Federal, Palácio do Buriti e Câmara Legislativa do Distrito Federal
Informações em: recomecar.org
No Dia Internacional de Combate ao Câncer de Mama (19/9), das 19h às 22h, serão projetadas no prédio principal do Congresso Nacional frases de conscientização sobre a doença, dados da incidência no país e fotos da exposição.
*Estagiária sob a supervisão de Juliana Oliveira