Enquanto a pandemia da covid-19 se apresenta como realidade, diferentes setores da sociedade se adaptam a uma rotina de cuidados praticamente ininterruptos — mas necessários. Entre eles está o da educação. Na última terça-feira, completou-se um ano desde que os estudantes da rede privada voltaram às salas de aula no Distrito Federal. E, para a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe-DF), Ana Elisa Dumont, muitas mudanças serão incorporadas ao dia a dia: “Nosso antigo normal não existe mais. Tem coisas que a pandemia trouxe e vieram para ficar, como as inovações tecnológicas dentro da escola”. Em entrevista ao Correio, a educadora comenta os desafios para o pós-pandemia, as expectativas com avanço da vacinação e o que deve se tornar tendência nesse ramo.
Como foi a volta às aulas em meio à pandemia de covid-19?
As escolas particulares do DF retornaram com as aulas presenciais em 21 de setembro de 2020. As instituições estavam preparadas desde julho, quando houve o decreto autorizando e, em seguida, a decisão judicial suspendendo o retorno. O Sinepe-DF trabalhou junto com instituições públicas de saúde e elaborou o Guia para aulas nas escolas particulares do DF, disponível no site do Sindicato, a fim de orientar as escolas para que propiciasse um ambiente seguro e adequado para todos os alunos. As escolas passaram por treinamentos, testagens. O primeiro momento foi difícil, mas era sabido da necessidade que os alunos tinham de estar no presencial, terem contato social e cuidarem do seu emocional. O desenvolvimento cognitivo era importante, mas o psicológico, motor e social também.
Que lições podem ser tiradas deste período tão desafiador?
Nunca é tarde para aprender algo. Estamos todos sempre em constante mudança. Não podemos achar que a gente já estudou o suficiente, já aprendeu tudo. Temos de estar sempre preparados para mudar e aprender coisas novas, porque é isso que o mundo nos exige hoje — habilidades que não tinham sido desenvolvidas com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) em que estudamos, mas acompanhar essas modificações para atender a necessidade dos nossos alunos do século 21. Temos que ser eternos aprendentes.
Como está o setor, hoje, em termos de investimentos e empregos?
Houve investimento alto para as escolas se adaptarem ao ensino remoto no primeiro momento e, agora, no ensino híbrido, para oferecer aos pais a oportunidade das duas modalidades — on-line e remota. Na escola particular, é uma opção da família, tendo em vista que ainda estamos vivenciando uma pandemia. Mas já percebemos a necessidade desses alunos estarem no presencial, porque faz diferença no seu desenvolvimento, na parte colaborativa e criativa.
O que é o Selo Escola Legal? Como ele contribui para o setor?
Certifica as escolas filiadas por serem aprovadas e reconhecidas pelos órgãos competentes. A iniciativa traz um diferencial para a sociedade, principalmente para os pais, no momento de escolher a escola para seu filho. As instituições que têm o selo são constantemente capacitadas e orientadas pelo Sinepe-DF por meio de assessorias jurídica, contábil, pedagógica, administrativa e formação continuada com cursos, palestras, debates, seminários e congressos.
Qual a expectativa para 2022, com o avanço da vacinação?
Que continuemos nos cuidando para controlar a pandemia. Com a sociedade vacinada, é esperado que haja um pouco mais de normalidade para dentro das nossas escolas. Os estudantes precisam comemorar as suas conquistas, da forma como nós, brasileiros, gostamos. Isso já está acontecendo em outros ambientes, mas, na escola, ainda não, devido ao protocolo rígido que é seguido, mesmo com a flexibilização do governo em outras áreas. Nosso antigo normal não existe mais. Tem coisas que a pandemia trouxe que vieram para ficar, como as inovações tecnológicas dentro da escola.
O modelo híbrido de ensino será mantido nos próximos? Por quê?
A nomenclatura correta é remoto com transmissão simultânea. Para crianças até 3 anos de idade da educação infantil e também do fundamental anos iniciais não há permissão para continuar com o híbrido, como está hoje. Foi uma exceção aberta em virtude da pandemia pelo Conselho Nacional de Educação, trazendo a possibilidade devido à instabilidade vivida. Já no fundamental anos finais e no ensino médio, há proposta do ensino híbrido e propostas que funcionaram muito bem durante a pandemia, as quais as escolas tendem a manter, como plantão de dúvidas de forma virtual. No entanto, ficou comprovado a necessidade desse aluno ter espaço para interação, discussão, debates, para conviver com pessoas no mesmo ambiente. Então, a proposta é ficar, mas em algumas etapas e que não saia completamente para as crianças menores, mas não da forma que está hoje. A tecnologia fica; contudo, a criança precisa desenvolver também a parte corporal, de coordenação motora, de orientação espacial, pois auxiliam na escrita, no raciocínio lógico, no pensamento e no cognitivo.