Uma ação conjunta de fiscalização vistoriou, nessa quinta-feira (23/9), o Hospital Regional da Asa Norte (Hran) para averiguar as condições da unidade de saúde. Durante a inspeção, o grupo constatou falta de materiais básicos de higiene, leitos para pacientes com covid-19 e de recursos humanos — como médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem.
O grupo contou com representantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa (CLDF); do Conselho Regional de Saúde; do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal (SindEnfermeiro-DF); e da Comissão de Direito à Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no DF.
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Um dos problemas presenciados pelo grupo inclui a transferência de pacientes com covid-19 pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para outro hospital, devido à falta de leitos para tratamento da covid-19 no Hran. A unidade de saúde voltou a atender pessoas sem a doença no início deste mês.
A presidente do SindEnfermeiro-DF, Dayse Amarílio, destacou que o Hran também tem sofrido com a falta de enfermeiros e médicos de contrato temporário, principalmente para dar suporte na emergência. A rotatividade desses profissionais é alta, segundo informado ao grupo. "Encontramos quatro leitos bloqueados por falta de recursos humanos, principalmente técnicos em enfermagem na UTI (unidade de terapia intensiva). Havia risco de outros dois serem fechados por causa disso", comentou a presidente.
A força-tarefa flagrou, ainda, a repetição de medicações em pacientes por dois dias — devido à não renovação de prescrições —, além de uma pessoa intubada no pronto-socorro, não na UTI. A mais recente atualização do painel InfoSaúde, portal vinculado à Secretaria de Saúde, indica haver 17 leitos na unidade de cuidado intensivo (UCI) do Hran. Um está vago, e três, bloqueados.
O deputado distrital Fábio Felix (Psol), presidente da Comissão de Direitos Humanos da CLDF, observou, por exemplo, que o trânsito de pessoas com e sem a doença no hospital é feito pelo mesmo lugar. Além disso, a falta de recursos humanos tem resultado no atendimento por um mesmo profissional de saúde para diagnosticados com a covid-19 e não infectados.
"As primeiras impressões são muito ruins, especialmente em relação à falta de recursos humanos. Há um esforço enorme da gestão local e dos trabalhadores para que o atendimento ocorra da melhor forma, mas, infelizmente, há um deficit grande, principalmente de técnicos em enfermagem, enfermeiros e médicos", comentou o parlamentar.
Falta de materiais
A força-tarefa também listou a falta de insumos básicos para limpeza, como papel higiênico, papel-toalha, sabonete líquido e álcool. "Outra preocupação é a retaguarda no hospital, pois os leitos disponíveis são de UCI, não de UTI. Além disso, os contratos dos hospitais de campanha acabam em 1º de outubro, e não sabemos se haverá renovação. O Hran é uma panela de pressão a ponto de explodir", alertou a presidente do SindEnfermeiro-DF.
Após a visita, o grupo vai elaborar um relatório e encaminhar o documento ao Executivo local. A intenção da ação conjunta é fazer sugestões para a Secretaria de Saúde. Procurada pelo Correio, a pasta destacou, em nota, que desmobilizou leitos para pessoas com covid-19. No entanto, pacientes nessa condição que chegam ao hospital são "acolhidos e direcionados" para as unidades de campanha, de acordo com as necessidades individuais e a liberação de vagas.
"Os pacientes são removidos pelo Núcleo de Apoio de Remoção do Paciente, sempre acompanhados por um médico ou pelo Samu, a depender do quadro clínico apresentado. O Hran dispõe de 10 leitos de retaguarda para internação de pacientes covid-19 no pronto-socorro, além de três leitos de UCI para casos de agravamento. Hoje (quinta-feira), no pronto-socorro, 67 pacientes estão internados, o que supera a capacidade da unidade, que é de 52 leitos", detalhou a nota.
A secretaria também informou que a terceirizada responsável pela limpeza do Hran foi notificada quanto à falta de materiais básicos em quantidade suficiente para atender a demanda, que aumentou devido à pandemia. "No contrato, o insumo deve ser reposto sempre que acabar. Quando acontecem situações como essa, o executor do contrato notifica a empresa, e ela regulariza a questão. As unidades que observam esse desabastecimento estão notificando e descontando dos serviços que não estão sendo realizados", completou o texto.
A reportagem procurou a empresa, mas não teve retorno até a última atualização deste texto. O espaço segue disponível para manifestação.