Os bobos da corte
Em meio a um festival de ridicularias proporcionado pelo governo brasileiro na viagem aos Estados Unidos para fazer o discurso de abertura na Assembleia da ONU, fica difícil escolher o acontecimento mais patético. A terça-feira foi um daqueles dias em que qualquer brasileiro decente ficou com vontade de botar uma folha de parreira na cara de vergonha, como diria Nelson Rodrigues.
Primeiro, o presidente negacionista e sua comitiva de bajuladores tiveram de entrar pela porta dos fundos do hotel para fugir de manifestantes que bradavam contra a irresponsabilidade na gestão da pandemia, com um saldo de quase 700 mil brasileiros mortos, sendo muitas delas evitáveis.
Em seguida, a trupe desastrada se viu compelida a comer pizza em uma calçada de Nova York, em uma cena humilhante, porque a cidade exige o comprovante de vacinação e o protocolo sanitário para circular nas lojas e nos restaurantes. As imagens rodaram o mundo e viraram motivo de chacota internacional.
Tudo porque o presidente é um terraplanista de carteirinha, que se recusa, ou supostamente se recusa, a se imunizar, uma vez que impôs um sigilo de 100 anos sobre o cartão de vacinação. Vários integrantes da comitiva tomaram vacina, ainda que escondido, para não desagradar o chefe, mas permaneceram na rua em solidariedade ao líder da insciência.
Como se não bastasse, na saída do hotel, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, mostrou o dedo do meio para um pequeno grupo de manifestantes que protestava contra o presidente. Queiroga se apresentou na condição de representante da ciência, mas, aos poucos, retira a máscara e revela a verdadeira identidade.
Apareceu em live indicando que tem feito estudos no sentido de permitir a circulação sem máscara. Na semana passada, afirmou, sem qualquer fundamentação científica, só para bajular o chefe, que não era necessário vacinar os adolescentes. Ainda bem que os governadores recusaram a recomendação irresponsável e continuaram a imunizar os mais moços.
Como uma pessoa com essa pusilanimidade pode cuidar da saúde de todos os brasileiros em plena pandemia? Queiroga está se revelando um Pazuello com diploma de doutor. Para culminar, ele foi infectado pela covid-19. Quer dizer, saíram do Brasil apenas para espalhar mentiras e a covid-19 em Nova York.
E o clima da trupe brancaleônica nas Nações Unidas parece que contaminou o ministro da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário. Depois de ser questionado, com fatos e argumentos, pela senadora Simone Tebet, na CPI da Covid, sobre a omissão em fiscalizar compras suspeitas da vacina Covaxin, Sua Excelência apelou covardemente, chamando a parlamentar de “descontrolada”. Na verdade, sem ter resposta, ele se descontrolou e atacou Simone, que jamais abandonou a postura elegantemente firme, altiva e digna.
Por que tantas autoridades perdem a compostura, fazem gestos obscenos, tomam vacina escondidos, submetem-se ao ridículo diante do Brasil e do mundo? Porque compõem uma galeria de ineptos, de incompetentes e de desasados que só teriam espaço em um governo comandado por um negacionista da democracia, da educação e da civilização.
É a oportunidade da vida deles; por isso, agarram-se a ela ferozmente, abrindo mão da dignidade pessoal. Nunca mais ocuparão os cargos a que foram alçados, pois carecem de qualificação mínima. Não é uma questão ideológica; é de competência. As únicas credenciais que ostentam para ocupar altos postos da República são as de capachos, de sabujos e de bobos da corte.