Jornal Correio Braziliense

Palavra de especialista

Danos a todos

“O fogo no Cerrado, nesta época do ano, é humano. Ou é criminoso ou é negligência. As causas do fogo natural no Brasil são os raios, e nesses casos, acontecem ou no começo da estação chuvosa, ou no fim da estação. Em algumas ocasiões, as pessoas tentam um manejo do fogo para alguma atividade agrícola, não possuem pessoal suficiente nem planejamento, e o fogo sai do controle. Mas há os incêndios totalmente acidentais da ação humana. O risco é que, nesta época, as chamas tendem a ficar descontroladas. Mesmo a vegetação campestre, que tem certa resistência, sofre muitos danos. Além disso, o efeito pós-fogo é muito severo. Se tem um incêndio que queima 15 mil hectares, por exemplo, toda a fauna que ocupava a área vai ficar sem alimento por vários meses. Nesta época do ano, também há muitas frutas que fazem parte do fornecimento de água para os animais, porque os rios temporários estão secos. No fim das chamas, o ciclo de água é diretamente impactado, porque, depois, aquele solo não terá a mesma absorção, e, quando a chuva vier, vai levar o solo e causar erosão. O impacto nas nascentes também é grande. O fogo, no auge da seca, é ruim para todo mundo. Para a flora, para a fauna, para a proteção da água e para a visitação”.

Maria Carolina Camargos, bióloga e analista ambiental do ICMBio