Moda e turismo traçam a virada econômica do DF
A moda brasiliense sobe à passarela para se apresentar como uma atividade de importância econômica, social, histórica e cultural neste momento de retomada no contexto da pandemia. O lançamento do livro Brasília, capital dos criadores, em comemoração ao cinquentenário do Sindicato das Indústrias do Vestuário do Distrito Federal (Sindiveste-DF), abre uma frente importante para a recuperação do setor e a consolidação de Brasília como polo relevante na indústria têxtil.
Diversidade
Em formato de catálogo, o livro de quase 300 páginas resgata a trajetória criativa das gerações de estilistas da cidade. Marcada pela diversidade, assim como a capital dos brasileiros, a moda brasiliense ostenta diferentes estilos e propostas. A Brasília formal, alinhada em ternos e vestidos, está representada em marcas tradicionais, como Magrella. Mas há gente boa trabalhando com ideias e tendências contemporâneas, como formação de coletivos e sustentabilidade. O despojamento da Dane-se e as biojoias de Susana Rodrigues são apenas algumas vertentes da vanguarda brasiliense.
Oportunidades
Walquiria Aires, presidente do Sindiveste-DF, está confiante quanto às perspectivas. Segundo ela, há importantes nichos a serem explorados no vestuário brasiliense. Ela cita, como exemplo, o segmento de uniformes. “Há uma grande demanda, e as empresas brasilienses estão de fora”, constata. Roupas para profissionais de saúde e educação, além do guarda-roupa de estudantes, são exemplos de oportunidades para a confecção brasiliense.
Agenda
Até o fim do ano, o Sindiveste está empenhado na realização de dois eventos on-line para mostrar a força do setor, que tem 7,1 mil empresas cadastradas. O primeiro será Uniforms Collection, na próxima semana, voltado exclusivamente para roupas profissionais.
É primavera
O segundo, previsto para outubro, reforça os vínculos da moda brasiliense com a cidade, que tem o design como característica natural. O Spring Collection pretende reunir 10 marcas em 10 pontos turísticos de Brasília. A parceria com a Secretaria de Turismo busca valorizar a produção local, além de estimular o turismo, atividade essencial para a recuperação econômica em tempos de pandemia.
Rural é tudo
O turismo rural é outro segmento que segue firme no esforço de retomada econômica, além de estimular a convivência harmônica entre o homem urbano e a realidade rural. Segundo levantamento do Sindicato de Turismo Rural e Ecológico do Distrito Federal e Entorno (Ruraltur), o setor registrou um crescimento de 30% durante a pandemia. Trata-se, portanto, de uma atividade importante para a economia criativa e do agronegócio brasiliense.
É só visitar
Somente o Ruraltur contabiliza 30 empreendimentos cadastrados, que recebem visitação e oferecem hospedagem. Eles estão localizados em oito regiões administrativas: Lago Oeste, Brazlândia, PAD-DF, Gama, Paranoá, Planaltina, Ceilândia, Lago Norte, São Sebastião e Formosa (GO).
Dia especial
“Brasília tem a agricultura e a pecuária no seu DNA. Da área total do DF, 70% estão estruturadas para o turismo rural. Essa característica faz da cidade o quarto polo nacional do segmento”, ressalta a secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça (foto). Uma contribuição importante ao turismo rural parte da Frente Parlamentar da Agricultura, Pecuária e Hortifrutigranjeiro, presidida pelo distrital Roosevelt Vilela (PSB). Ele é autor da lei que institui o Dia do Turismo Rural, comemorado na última sexta-feira.
Esquece isso
A condução, aos trancos e barrancos, da reforma administrativa no Congresso preocupa o presidente da Associação Nacional dos Advogados da União (Anauni), Clóvis Andrade (foto). Ele lamenta a pouca discussão sobre pontos relevantes da PEC 32. “Do jeito que se encontra, gostaríamos que ela não passasse”, disse. O representante da Anauni considera a proposta enviada pelo Ministério da Economia um desastre. “Atropelou os servidores”, segundo ele.
Perplexo
Clóvis Andrade também critica a postura do governo federal em relação aos precatórios. “Ficamos perplexos com a declaração do ministro Paulo Guedes de que o governo foi pego de surpresa”, disse o presidente da Anauni. Segundo ele, ao menos três vezes por ano a Advocacia-Geral da União atualiza a situação dos precatórios com as diferentes instâncias do governo federal.
Só papos
“A vacinação era para começar ontem (15) nos adolescentes acima de 12 anos. Sabe quantos já tem vacinados no Brasil? Quase 3,5 milhões. Como é que nós conseguimos coordenar uma campanha de imunização dessa forma?”
Marcelo Queiroga, ministro da Saúde
“100% errada a decisão do Ministério da Saúde de suspender a vacinação em adolescentes. Até quando vão tratar a pandemia com uma abordagem clínica, e não coletiva?”
Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (RS)
Mandou mal
O relator da reforma administrativa, deputado Arthur Maia (DEM-BA), complicou ainda mais a tramitação da PEC 32, ao apresentar um parecer que desagradou gregos e troianos. O consenso ainda está longe em relação à proposta, que deve ser votada esta semana no Congresso.
Mandou bem
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), reforçou o compromisso inarredável de defesa da democracia brasileira. Por ser muito jovem, ela comete “erros, acertos e tem seus arroubos”, acredita o senador. Mas ele avisa: “A democracia é algo inegociável e não retrocederá”.
À QUEIMA-ROUPA
Bartolomeu Rodrigues
O secretário de Cultura
do DF, Bartolomeu Rodrigues, comemorou na última semana o reforço orçamentário de R$ 91 milhões para o Fundo de Apoio à Cultura. Em meio a polêmicas, como a reforma do Teatro Nacional e o Museu da Bíblia, ele só tem uma certeza: “Se não fosse pela cultura, já estaríamos, hoje, todos loucos”. Confira a entrevista.
Como avalia o momento da cultura brasiliense? Estamos em retomada?
É inegável que a pandemia prejudicou bastante o setor. Assustou, mas não nos dobramos a ela. Criamos condições para sobrevivência e não houve um só mês nesse período todo em que deixamos de realizar ações voltadas para todas as áreas culturais da cidade, com uma preocupação maior voltada para os artistas da periferia.
Com o aporte adicional de R$ 91 milhões aprovado esta semana, o Fundo de Apoio à Cultura cumprirá seu objetivo? Quais são as metas?
O objetivo é empenhar os recursos ainda este ano. Com os R$ 53 milhões que já transformamos em editais no primeiro semestre, temos mais de R$ 144 milhões que serão injetados na economia criativa do DF. É o maior aporte à cultura do país em 2021. Estamos, a rigor, criando as condições para a retomada das atividades de importantes segmentos culturais no pós-pandemia, gerando emprego e renda a pelo menos 50 mil pessoas, num cálculo por baixo.
O governo não é o único agente fomentador da cultura. O empresariado local poderia contribuir mais?
Sim, e temos oferecido condições para isso por intermédio da Lei de Incentivo à Cultura (LIC). Por ser um instrumento bem mais simplificado do que a Lei Rouanet, tenho pessoalmente me reunido com empresários para explicar os benefícios fiscais de que pode usufruir financiando projetos culturais. É um trabalho de conscientização, pois os benefícios são enormes. Todos ganham na medida em que mantêm vivos os movimentos culturais, seja um show, seja uma peça teatral, seja a publicação de um livro. A cultura tem essa capacidade de destravar a economia.
Por que é tão difícil reformar o Teatro Nacional?
Porque perdemos muito tempo organizando a bagunça que governante do passado nos deixaram quando decidiram fechar o teatro. Encontramos um projeto de restauração totalmente desorganizado, incompleto e com falhas gritantes. Em razão de sua complexidade e exigência dos órgãos financiadores da obra, gastamos muito tempo organizando mais de 400 plantas e um sem-número de itens de engenharia e arquitetura. Temos uma equipe trabalhando nisso ininterruptamente. Mas estou otimista que este ano será lançado o edital. Aí, então, teremos um vislumbre da obra.
Qual a expectativa para o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro?
O festival é um exemplo cabal da resistência da cultura no DF em tempos de pandemia. Quando tudo parecia perdido, no ano passado, o festival, que antes estava restrito à sala do Cine Brasília, foi visto em todo o Brasil em transmissão por canal de streaming. Segundo registro oficial, foi visto por quase 1 milhão de pessoas. Este ano, nos organizamos melhor, em parceria com a associação Amigos do Futuro, escolhida por meio de edital público, e tudo indica que será um sucesso outra vez. Neste momento em que conversamos, já temos mais de 40 filmes inscritos. Ninguém segura o Festival de Cinema!
Brasília precisa de um Museu da Bíblia?
Ao desenhar o Plano Piloto, Lucio Costa destinou aquele canteiro enorme do Eixo Monumental a museus. O da Bíblia é apenas um deles. Só bem recentemente foram definidas as áreas projetadas para outros quatro. Este saiu na frente por várias razões: já havia destinação regulada em lei aprovada em 1995, além de recursos garantidos pelo segmento evangélico, principal interessado. Tudo está sendo feito com total transparência, sendo o projeto submetido a concurso público, que, aliás, encerrou na semana passada e terá seu resultado divulgado em breve.
Artistas e líderes comunitários reivindicam ações em defesa do patrimônio cultural de Brasília fora dos limites do Plano Piloto. Há uma defasagem entre a área tombada e outras localidades históricas, como Vila Planalto e Gama?
Reivindicações justas, que, diga-se, encontraram respostas no atual governo. Exemplo clássico é a Fazendinha, na Vila Planalto. Um sítio histórico de grande importância para a memória de Brasília estava, literalmente, no chão. Árvores caíam por cima de construções de madeira que abrigaram, no passado, o Itamaraty. Para que chegasse a esse ponto, alguém negligenciou no passado, pois nada se deteriora tanto em dois anos e meio.
O que foi feito?
Arregaçamos as mangas, limpamos toda a área, retiramos o entulho, trouxemos a carga patrimonial para a Secretaria de Cultura e, nos próximos dias, vamos lançar o edital de licitação que o governador Ibaneis Rocha determinou para a restauração completa. E, no Gama, o Cine Itapuã já está em nossas mãos para ser reformado. Quando estive lá, a sensação é que o cinema foi atingido por um míssil. Fiquei me perguntando: como deixaram chegar a esse ponto?
Cultura e turismo são alavancas fundamentais para gerar empregos e recuperar a economia. Como fortalecer a economia criativa do DF?
As condições estão sendo colocadas pelo governo e, nesse ponto, o DF passou à condição de protagonista no cenário nacional. Os benefícios de um pacote como este que acabamos de lançar, por exemplo, vão além de um mero socorro. Beneficiam toda a sociedade. Fora os recursos do FAC, temos a LIC, da qual me referi antes, e mais de R$ 20 milhões que já executamos este ano de emendas parlamentares. Veja bem: já executamos. Não estarei de todo exagerado ao dizer que passaremos dos R$ 200 milhões investidos na cultura este ano.
O que esse esforço significa?
Recentemente, ministros da Cultura dos países que formam o G20 redigiram a Carta de Roma. Lá pelas tantas, destacaram os benefícios da cultura para a saúde mental da humanidade. Parece até que me ouviram. Estou rouco de dizer que, se não fosse pela cultura, já estaríamos, hoje, todos loucos.