O vendedor de chapéus
Comprei um chapéu de gaúcho que não cabe em minha cabeça de baiano. O vendedor parecia cearense, mas dizia ter nascido no centro de São Paulo. Talvez, lá, na Pauliceia, ele tenha nascido para a vida ao virar vendedor. Falou um pouco sobre sua história para três homens, que estavam em uma mesa antes da minha, em um boteco de Taguatinga Sul. Depois, veio até a mim com a mesma abordagem.
Dei ideia, após minha companheira dar a ideia de comprar um chapéu para meu pai, grande colecionador do acessório. Nenhum que ele estava a vender interessaria a meu pai — talvez o de gaúcho, mas seria muito quente para a Bahia, e ele prefere os Panamá. O vendedor perguntou quanto eu pagaria no chapéu. Falei R$ 30, mas ele pediu o dobro. Logo desisti da compra, com a desculpa de que nem eu ou meu pai usaríamos o acessório. Seria uma das várias coisas que compramos sem querer ou precisar, mas apenas para ajudar alguém. Mas eu não tinha os R$ 60, e o vendedor não aceitava Pix.
Ele desistiu do negócio e começou a falar sobre sua vida. Mora com a mãe, em Samambaia, e quer arrumar um emprego decente, de preferência com carteira assinada, para poder ver mais o filho e dar uma vida melhor para ele, que mora com a mãe no Núcleo Bandeirante. Tem experiência como eletricista, técnico de refrigeração e com manutenção em geral.
Enquanto conversávamos, ofereci calabresa acebolada e uma bebida para ele. Falou que em sua vizinhança há muita gente passando necessidade. Que, às vezes, as pessoas não têm nem o que comer direito. “É a crise, a pandemia. Qualquer coisa já ajuda muito, e muita gente”, disse, enquanto degustava o tira-gosto, sempre sendo necessário minha insistência para ele se servir à vontade.
Ele também falou que quer conhecer uma moça direita, de igreja, que não tenha vícios, como tabagismo ou café (não entendi, mas a cafeína o preocupa um pouco), porém, revelou que gosta de tomar uma cervejinha. Após quase 30 minutos de prosa, ele abriu sua bolsa e me entregou uma cópia do seu currículo. No fim, aceitou os R$ 30 pelo chapéu e eu acabei tendo de comprá-lo. Neste exato momento, estou olhando para a minha nova aquisição, que está pendurada na estante. Meu pai, que está a me visitar, acabou gostando do acessório e já o confiscou. Vai chegar no interior da Bahia com ele na cabeça, falando “Oxi, moço. Bah, tchê”.
O nosso vendedor de chapéus e eletricista chama-se Fábio. Para dar uma força ao rapaz, basta ligar no (61) 9 8242-2359 ou (61) 9 9409-8988. Também vale lembrar que, nesta semana, foi notícia no site do Correio um senhor que veio de Santa Rita de Cássia (BA) para Brasília em busca de trabalho. Atualmente, ele mora na rua. Próximo à Câmara Legislativa, fixou uma faixa para pedir uma oportunidade. Erasmo tem experiência com jardinagem, e quem quiser ajudá-lo pode ligar no (61) 9 9882-1968. Boa sorte, meus caros.