PANDEMIA

Covid-19: adultos também devem orientar crianças sobre riscos da pandemia

Embora quantidade de casos e mortes seja pequena entre crianças com 11 anos ou menos no Distrito Federal, adultos devem assegurar que elas cumpram medidas de segurança contra o coronavírus

Além de adolescentes de 12 e 13 anos, outro grupo vive um cenário de incerteza quanto à imunização: as crianças. Ainda em fase de estudos, projetos de pesquisas tentam descobrir qual tipo de vacina será mais seguro para o organismo infantil. Apesar de jovens desenvolverem quadros graves da covid-19 com menos frequência, 43 mil pessoas com menos de 19 anos foram infectadas e 15 morreram no Distrito Federal desde o começo da pandemia, em março de 2020.

Diante da possibilidade de haver interrupção da vacinação, o presidente da Sociedade de Infectologia do DF, José Davi Urbaez, lembra que a imunidade coletiva só será alcançada se 80% da população geral tiver tomado as duas doses recomendadas por enquanto. “Esse percentual inclui as crianças. Por isso, imunizá-las também é necessário, para que existam barreiras ao avanço da covid-19. Até o momento, seguimos o curso natural de liberar os imunizantes, primeiro, para adultos e, depois, diminuir a idade (do público-alvo). Isso é algo comum da metodologia científica e atende a questões éticas”, destaca.

Consultora de atendimento, Larissa Monteiro, 30 anos, é mãe de duas crianças — Levi, 6, e Mariah, 3. Sem saber quando os filhos terão acesso à imunização, a moradora do Jardim Botânico precisou conscientizá-los sobre os riscos da doença. “Quando começou a pandemia, explicamos em casa o que era o vírus, sobre a importância de usar o álcool (em gel), a máscara e quais eram os cuidados necessários. A escola também enviou vários vídeos educativos para os dois assistirem e entenderem o que estava acontecendo”, conta Larissa.

No Distrito Federal, 16,3 mil meninos e meninas de até 10 anos contraíram a covid-19, do início da crise sanitária até essa quinta-feira (15/9). Cinco deles morreram. Com medo de colocar os filhos em risco, Larissa reduziu a frequência dos passeios de família. “Em casa, temos uma piscina inflável e um parquinho, então, não vamos muito para a rua. Exceto em alguns aniversários. Mas eles sempre ficam de máscara, pois sabem usar direitinho. Também costumo andar com um potinho de álcool em gel e, quando vejo que (as crianças) estão fazendo muita estripulia, mexendo nas coisas, pegando no chão, vou limpando as mãos deles”, detalha.

Protocolos iguais

Estudante e mãe de quatro filhos, Fausta Neiva, 41, teve de lidar com a doença em casa. Apesar de tomar diversos cuidados, a família dela se infectou. “Ficamos muito preocupados. A primeira a sentir os sintomas foi minha caçula, de 6 anos. Ela ficou febril e com muito mal-estar. No dia seguinte, meu filho do meio teve febre. Logo depois, todos da casa começaram a ficar mal. Só um dos meus filhos não sentiu nada”, relata a moradora da Candangolândia.

Fausta ficou preocupada, também, com a mãe, de 83 anos. A idosa mora na casa da filha. “Ela tinha acabado de receber a primeira dose da vacina. Graças a isso, ela teve sintomas leves, porque meu marido e eu ficamos bem ruins. Eu fui parar no hospital três vezes, com dificuldade para respirar”, recorda-se. “Foi bem complicado, porque todo mundo ficou doente, e não tinha quem desse toda atenção às crianças ou conseguisse cuidar do outro”, completa a estudante.

Anamélia Lorenzetti Bocca, professora do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (UnB), destaca que os cuidados para evitar o avanço da transmissão da covid-19 em crianças devem ser os mesmos seguidos pelos adultos: “Distanciamento social, uso de máscaras e de álcool em gel. Na volta para a escola, as medidas de restrição e a diminuição de contato (com outras pessoas) também são importantes”.

A especialista observa que, mesmo que muitas crianças tenham dificuldade para entender a gravidade da pandemia e a importância do uso das máscaras, várias delas têm aderido adequadamente às medidas de prevenção da doença.

“Por isso, é importante ter uma conversa franca, para conscientizá-las enquanto não há vacina. Mas ela pode chegar. A Pfizer, por exemplo, tem feito ensaios e pretende pedir à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a liberação das doses para pessoas com mais de 5 anos”, ressalta Anamélia. “Para vencermos a pandemia, a imunização do maior número de pessoas é essencial.”