O resultado do inquérito que apura o suposto crime de maus-tratos que teriam sido cometidos por Maruzia das Graças Brum Rodrigues, 52 anos, foi apresentado ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que decidirá se denunciará ou não a economista. A mulher é acusada de maltratar e manter em cárcere privado o marido, um servidor aposentado do Banco Central (Bacen), de 49 anos. Em um longo desabafo, em vídeo, a mãe da vítima, Aída Nunes, 76, afirmou que quer a guarda do filho e que precisa cuidar dele.
Maruza foi indiciada pela 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro) no art. 136 do Código Penal, que dispõe sobre o crime de maus-tratos e está sujeita a uma pena de dois meses a um ano. Caso o MPDFT ofereça a denúncia à Justiça e seja acatada, a mulher torna-se ré.
Como consta no documento de indiciamento da PCDF, ao qual o Correio teve acesso, Maruzia apresentou um atestado médico de 15 dias para não prestar depoimento. Segundo ficou constatado pela Polícia Civil, ela “oferece sérios riscos para a vítima pelos motivos expostos”. “Além disso, verifica-se que a autora submete a vítima à forte pressão psicológica, o que faz temer por represálias e, somada a sua vulnerabilidade, provavelmente, se recusar a confirmar os fatos nesta delegacia.”
O caso veio à tona na semana passada. A filha mais velha de Maruzia procurou o Correio, na última quinta-feira, para relatar o caso. Na segunda-feira, a reportagem trouxe detalhes de uma rotina de abusos sofridos há anos pelo servidor aposentado. Em entrevista exclusiva, o irmão da vítima, Alfredo Nunes, 54, admitiu que a família não tinha ciência da violência e afirmou que a mãe entrou com pedido de guarda.
Em relato, os três filhos contam que perceberam quando a situação piorou e não tiveram dúvidas de que o padrasto passava a maior parte do dia dopado, deitado em uma cama, sem conseguir fazer as atividades básicas do dia a dia, como colocar comida no prato e tomar banho. “Ele ficou submisso a ela e falava para nós que minha mãe só estava cuidando dele e só queria o bem. Mas aí iniciaram as agressões. Ela já fechou a mão dele na porta do carro por várias vezes. Quando chegávamos em casa, tinha panela quebrada, e ele sempre com marcas pelo corpo. No período em que morei com eles, tinha vezes que nem água ela queria comprar e começou a faltar tudo, e não entendíamos o porquê”, afirmou uma das filhas.
Tristeza
Em vídeo, Aída Nunes, mãe do servidor, desabafou. A professora aposentada mora em Niterói (RJ) e criou os três filhos sozinha. A vítima é o caçula e, como conta a mãe, levava uma vida normal, era estudioso e sonhava alto. “Ele passou no vestibular, fez economia, passou para vários concursos, mas queria algo maior. Se esforçou, foi aprovado no Banco Central e teve que se mudar para Brasília”, detalha.
Ela lembra que, poucos anos depois, o filho a apresentou a Maruza, e, logo depois, anunciou a gravidez da mulher. “Ela brigava muito com o ex-marido por causa de pensão. Sempre pelo dinheiro. Com o tempo, fui percebendo que ela era uma pessoa agressiva com os filhos, com meu filho e até comigo”, ressalta Aída.
A mãe da vítima revela de uma vez em que visitou o filho e a nora no DF e, em determinado momento, Maruza a trancou no quarto e começou a gritar com Aída. “Ela vinha desabafar, dizendo que meu filho estava surtando, que ele era doido e tinha tido uma crise. Eu estava passando mal com aquela conversa e a pedi para que deixasse eu sair do quarto, mas ela negou e disse: ‘Não vai sair. Se eu aguento, você também vai aguentar’. Lembro que chorei muito”, lamenta.
Abalada com toda a situação, a aposentada clama por Justiça e pede para que Maruza pague pelos crimes que cometeu. “Eu sou uma pessoa equilibrada. Tenho condições de cuidar do meu filho. Quero dar a ele todo o amor de mãe. Eu tenho desejo. Eu quero meu filho”, finaliza, emocionada.