Brasília perdeu na noite de domingo uma das principais vozes de defesa das mulheres, a professora da Universidade de Brasília (UnB) Lourdes Maria Bandeira, 72 anos, por complicações de uma embolia pulmonar. Ela estava internada desde o dia 18 de agosto, quando passou mal em casa.
Docente no Departamento de Sociologia desde 2005 e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Mulher do Centro de Estudos Avançados Disciplinares (Nepem/Ceam/UnB), Lourdes era referência em temas como feminismo e violência contra a mulher.
Sob forte comoção de familiares e amigos, o corpo da professora foi velado e cremado na tarde de ontem no cemitério e crematório Jardim Metropolitano, em Valparaíso de Goiás. Leda Bandeira, irmã de Lourdes, contou, emocionada, que a professora era extremamente dedicada à vida acadêmica, aos alunos e à família. “Na vida, ela era uma referência de amor, dedicação e era ligada com a família. Dedicou a vida para o coletivo, formou diversos alunos nos seus 42 anos de profissão. É uma perda irreparável, nós conversávamos diariamente e trocávamos ideia. Ela era uma mulher engajada politicamente, muito bem formada. É uma dor que vai me acompanhar pela eternidade”, lamenta. Leda se orgulha ao falar do legado de Lourdes na academia e destaca que o trabalho da pesquisadora foi citado mais de 1,7 mil vezes em artigos acadêmicos no ano passado. Para Marcela Amaral, ex-aluna e orientanda, a professora marcou sua trajetória acadêmica e pessoal. As duas se conheceram em 2003, tornando-se amigas para além da academia. “Ela se tornou uma grande amiga e parceira de trabalho. Na minha leitura, ela tem um papel muito importante na trajetória de muitas pessoas, mas em especial de muitas mulheres. Ela tinha o dom de nos preparar para sermos mulheres fortes para enfrentar esses desafios. Acho que ficamos um pouco órfãs com a perda, ela sempre me deu colo”, destacou com a voz embargada. Outra ex-aluna e orientada, Marlene Teixeira conheceu a professora em 1993 e se emocionou ao comentar a trajetória feminista da professora na luta contra a violência à mulher e todos os aprendizados que teve ao longo dos anos. Marlene conta que a professora a incentivou a defender o doutorado mesmo com o filho recém-nascido no braços e amamentando. Viviane Resende, diretora do Ceam da UnB e colega de trabalho de Lourdes, destacou a importância acadêmica da pesquisadora e a falta que fará para os alunos. “Ela se dedicou muito à UnB. Não é à toa que se vê tantas homenagens a ela”, relata.
Trajetória
Nascida em Porto Alegre, Lourdes deixa três filhos e dois netos e a mãe, moradora de Porto Alegre (RS), com 96 anos. Lourdes Maria Bandeira concluiu a graduação no curso de Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1973. Logo após, obteve mestrado em Sociologia pela Universidade de Brasília-UnB no ano de 1978. A docente se tornou doutora em Antropologia pela Université René Descartes de Paris em 1984. Além disso, concluiu pós-Doutorado na área de Sociologia do Conflito na École des Hautes Études en Sciences Sociales também em Paris entre 2001 e 2002.
Atualmente, estava como membro do comitê editorial da Editora da Universidade de Brasília e desenvolvia projetos de pesquisa: Feminicídio no Brasil e Relações de cuidado e cuidadoras nas redes inter-institucionais de apoio às mulheres vítimas de violência. Atuou por uma década como Editora-chefe da Revista Sociedade e Estado. Em nota, a UnB lamentou com profundo pesar a perda da professora Lourdes e destacou a importância do papel da docente nas pesquisas realizadas ao longo da sua trajetória acadêmica.