O calor e a baixa umidade relativa do ar têm castigado os brasilienses nas últimas semanas. Ontem, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou a umidade mais baixa do ano: a taxa ficou em 10% no Gama, gerando alerta vermelho e situação de “grande perigo” na capital federal. As temperaturas também se mantêm extremas e passam dos 35°C este mês. O clima típico desta época tem aumentado a procura de produtos para amenizar os danos causados pela seca. No comércio, houve crescimento nas vendas, principalmente de ares-condicionados, umidificadores, sorvetes e hidratantes.
Dados do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindvarejista) revelaram crescimento de 20% na busca por ar-condicionado neste mês, na comparação com 12 meses atrás. O item foi um dos mais buscados pelos consumidores. O vice-presidente da entidade, Sebastião Abritta, afirma que o resultado está dentro do esperado. “Como, neste ano, está fazendo mais calor do que em 2020, é natural que o fenômeno cause efeitos positivos para as lojas”, comenta.
Supervisor técnico em uma loja especializada nesse tipo de equipamento, Jonas Diniz Landim, 32 anos, conta que a procura no estabelecimento subiu 50%, em média, em relação a agosto. Com a pandemia da covid-19, muitas pessoas tiveram de trabalhar em casa e isso impactou para a demanda por ar-condicionado, segundo o comerciário. Ele relata que, no ano passado, a procura foi maior, mas os empresários temem que o aparelho falte no mercado, em 2021. “A procura tem ficado parecida, por causa do calor, que está mais intenso. Nossa agenda (de atendimentos) está cheia, e a expectativa é de que continuemos nesse ritmo até fevereiro. Temos lucrado bastante, porque não é só a venda de aparelhos. Tem a manutenção e a instalação”, relata Jonas.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF), José Aparecido, observa que, ano a ano, a busca por produtos para amenizar os efeitos da seca e do calor aumenta nesta época do ano. “É normal. Com as altas temperaturas e a baixa umidade, sempre registramos mais vendas. O ar-condicionado não é mais só um acessório, aqui (no DF) passou a ser um equipamento obrigatório”, avalia.
Apesar das consequências para o organismo, o clima acelerou a recuperação econômica no pós-pandemia para Adriano Cavalcante, 43. Dono de uma distribuidora de bebidas e de uma sorveteria no Sol Nascente há cinco anos, ele diz que as vendas saltaram nas últimas semanas. “Tudo que é gelado tem saído muito. Cerveja, açaí, geladinho. Graças a esse calor, temos conseguido lucrar bastante”, ressalta. Após um longo período de baixa, os estoques de sorvete se esgotaram no estabelecimento, e o comerciante aguarda reposição. A expectativa é de que, neste sábado (11/9) e no domingo (12/9), os resultados dobrem: “Até tentamos comprar muito, mas a fábrica não consegue suprir a demanda. Só que isso é um bom sinal, é ótimo para o pequeno empresário”.
Riscos
Além do recorde da seca, o Distrito Federal vive os dias mais quentes do ano. Na última segunda-feira (6/9), a estação meteorológica de Águas Emendadas registrou 35,9°C, a maior temperatura de 2021, por enquanto. Além dos ares-condicionados, as vendas de produtos para a pele subiram cerca de 32%, segundo o Sindivarejista, em razão da baixa umidade relativa do ar. Atendente de uma farmácia na Asa Norte, Maria Pereira confirma que a procura por umidificadores, hidratantes, óleos corporais e por spray nasal aumentou. “Nesta época, principalmente aqui, que é muito seco, a busca por esses itens cresceu bastante. E essa alta permanece até novembro, mais ou menos”, acrescenta.
Para quem mora na capital federal, não está fácil suportar o calor. E o organismo pode pedir socorro: sintomas como tontura ou dor de cabeça chegam para completar o cenário que gera indisposição (leia Sinais). Médica no Hospital Santa Lúcia e integrante titular da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, Larissa Camargo destaca que um dos principais motivos para o mal-estar nesta fase é a desidratação. “A falta de água é fator fundamental, pois 70% da constituição do nosso cérebro é água. O ideal é que todos consumam, diariamente, 35 mililitros de água para cada quilo de peso corporal”, recomenda.
Outra orientação é optar por alimentos leves e o uso de produtos específicos para hidratação das mucosas. “Coceira e irritação ocular podem ser prevenidas com lubrificantes (como colírios), para diminuir o risco de infecções. No nariz, o ressecamento e a ardência devem ser reduzidos com o hábito de limpar a região de quatro a seis vezes por dia com soro fisiológico. No caso da pele, é preciso passar hidratantes, de acordo com cada tipo. Esses hábitos devemos ter mesmo sem sintomas. Com isso, blindamos o organismo contra os efeitos da seca”, pontua Larissa. Deve-se ter atenção, ainda, a crianças e idosos, pois são grupos mais suscetíveis às consequências da desidratação.
Sinais
Sintomas comuns que ligam os alertas para um possível quadro de desidratação
» Cansaço
» Indisposição
» Dor de cabeça
» Pele com perda da elasticidade
» Urina com cor amarela de aspecto forte
» Mucosas (boca, olhos, narinas) e pele secas
» Sensação de tontura (por provável queda de pressão arterial)
Colaborou Cibele Moreira