Jornal Correio Braziliense

Florada de ânimo na seca

Por Adriana Bernardes

Debaixo do sol escaldante, quando a seca racha a terra, o nariz e os pés de uns e outros, eles desabrocham exuberantes. Indiferentes às condições climáticas que tingem de marrom-avermelhado as áreas verdes do Distrito Federal desde o fim de semana, os ipês-brancos atraem olhares e lentes de fotógrafos profissionais e amadores.

Quando o auge da seca parece minar meu ânimo e tropeço em um ipê-branco florido, penso que esse nome não lhe faz jus. Mais apropriado seria “ipê-resistência”, em letras garrafais sempre que for grafado. Ou, quem sabe, devêssemos batizá-lo com nome e sobrenome: “ipê-apesar-de-você-seca-e-por-você-resisto”. Ou algo mais despojado, sucinto: “ipê-desaforo!”, com ponto de exclamação.

Vou e volto nos meus pensamentos enquanto busco o melhor ângulo para capturar a beleza da florada enganchada nos galhos e daquelas que encerram o ciclo no chão — ou estariam ali depositadas renascendo?

Respiro fundo, desejando que as flores miúdas invadam minhas narinas, fundindo-se à minha existência; emprestando-me a resistência delas quando tudo em volta parece ruir; suavizando os maus sentimentos e enchendo-me de esperança, sussurrando em cada poro do meu corpo: tudo tem seu tempo. Vai ficar tudo bem!