A proposta de loteamento de uma área verde entre a QI 17 e o Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, mobilizou os moradores da região. A população questiona o projeto que vai alterar a dinâmica do local e impactar o meio ambiente e a infraestrutura da quadra. O abaixo-assinado on-line, organizado pela associação de moradores, já reúne 816 assinaturas. Para esta quinta-feira (9/9), está prevista uma audiência pública, às 19h, organizada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e tem o objetivo de discutir o Estudo de Impacto de Vizinhança com os moradores.
A expectativa da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) é delimitar 122 lotes de 800 a 1.800 metros quadrados na área verde. Os moradores defendem que o espaço constitui uma reserva ambiental e está próximo de nascentes e córregos. “O Lago Sul tem essa característica de terrenos com áreas verdes e bastante espaço entre as casas. Isso mantém a umidade e absorção de água e preserva a beira do lago. A baixa densidade populacional é importante para isso”, destaca Solon Kouzak, presidente da associação dos moradores da QI 17 e dos conjuntos 1 a 3 do Setor de Mansões Dom Bosco.
Solon também questiona a falta de consulta à comunidade. “Descobrimos (sobre o projeto) porque veio uma empresa fazer um relatório na área e perguntamos o que era. E não há nenhum benefício aos moradores. Nós que cuidamos dessa área verde e nosso objetivo era criar um bosque da saudade, em homenagem às vítimas de covid-19”, conta.
Moradora há 42 anos da QI 17 do Lago Sul, a servidora pública aposentada, Jane Carol Azevedo, 72 anos, se preocupa com o impacto ambiental. “Há cerca de dois dias veio um tucano aqui beber água no gradil de casa. Temos muito forte a presença da natureza”, pondera Jane.
A aposentada explica, também, que os moradores investem no local. “Temos uma portaria permanente na entrada e câmeras na quadra. Aqui, muita gente vem para ver o pôr do sol, porque é um espetáculo. Mas esse loteamento altera totalmente a proposta do Lago Sul. E a nossa rede de água e elétrica é muito antiga, não tem nem a capacidade de atender os moradores que já estão na QI 17”, conta.
Questionado, o Ibram disse que existe um processo de licenciamento ambiental em andamento. “O órgão realizará uma audiência pública virtual, que é uma das fases obrigatórias do processo de parcelamento do solo, para discutir o empreendimento que ainda está em fase de estudos”, explica por meio de nota.
Impacto
Não apenas os moradores da QI 17 se preocupam, como os do Setor de Mansões Dom Bosco (SMDB). Durcemar Martins, 70 anos, engenheiro civil e morador há 25 anos da região, ressalta o impacto para o trânsito. “Temos apenas uma saída e pela manhã e fim de tarde esse trecho causa transtorno. Colocando mais moradores e carros, isso vai piorar muito”, pontua.
Frederico Flósculo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), destaca: “não há planejamento urbano sem um diagnóstico do local, sem um estudo científico que avalie a realidade urbana e ambiental”. Para o especialista, é preciso consultar os limites ecológicos e econômicos. “Dessa forma há um desrespeito na escala do lote que caracteriza o Lago Sul e o substitui por um loteamento de subúrbio. Esse não é o padrão brasilienses. Estamos sofrendo uma constante queda da qualidade do desenho urbano da capital”, pontua.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh). A pasta pontuou que “o assunto será tratado em uma audiência pública” e acrescentou: “esse projeto é da Terracap e até o momento não foi encaminhado para a Seduh”. A Terracap disse, em nota, que “em todos os seus projetos segue as leis, normas, diretrizes urbanísticas e condicionantes ambientais. O projeto está suspenso para ajustes. É uma área de parcelamento futuro na QI 17, previsto desde a década de 1980”, finaliza.