Em meio à alta de casos da covid-19 e do avanço da variante Delta — responsável pelas infecções predominantes no Distrito Federal —, o governador Ibaneis Rocha (MDB) decidiu revogar mais medidas restritivas que evitavam o avanço da doença. Com as novas regras, que passam a valer na quarta-feira (8/9), ficam suspensos o toque de recolher e os horários específicos para funcionamento de estabelecimentos. A medida saiu em edição extra do Diário Oficial (DODF), nessa quinta-feira (2/9), e não trata de casas noturnas nem da lotação dos espaços. Shows continuam proibidos.
O novo decreto libera bares, restaurantes e demais comércios para funcionar no horário previsto nos respectivos alvarás. O documento também pôs fim ao horário limite para eventos como casamentos, batizados e festas de aniversário. Ao Correio, o governador afirmou que a decisão de flexibilizar resultou da diminuição da quantidade de leitos ocupados em unidades de terapia intensiva (UTIs) da rede pública, que gira em torno de 50% (leia abaixo). “Há uma folga nos hospitais. As pessoas estão se contaminando, mas como a vacinação está adiantada, elas não têm sido internadas. Diminuíram os casos graves”, ressaltou Ibaneis.
O chefe do Executivo local adiantou que há possibilidade de recebimento de mais imunizantes contra covid-19. “Falei com o ministro da Saúde (Marcelo Queiroga), e ele me informou que receberemos um reforço neste fim de semana. Não sei exatamente o número, mas foi sinalizado o envio. Pedi 150 mil doses”, declarou o governador. A nova remessa permitirá reduzir a faixa etária de imunização para pessoas de 15 e 16 anos.
Na quarta-feira (1º/9), o DF recebeu 19,8 mil vacinas da Pfizer/BioNTech, para aplicação da segunda dose. Em coletiva da Secretaria de Saúde (SES-DF) nessa quinta-feira (2/9), representantes da pasta comentaram sobre a previsão de envio de 9,7 mil doses da Oxford/AstraZeneca à capital federal, também para o reforço. No entanto, até o fechamento desta edição, a pasta não confirmou a chegada do lote. Para esta sexta-feira (3/9), o Executivo local aguarda mais 28 mil imunizantes, todos para dose 2.
A Secretaria de Saúde também comunicou que o estoque da Rede de Frio Central estava zerado para primeiras doses, nessa quinta-feira (2/9). Houve sinalização do cenário para o Ministério da Saúde, mas o órgão vai priorizar as unidades da Federação que não começaram o atendimento do público de 18 anos. Em 15 de setembro, o governo federal enviará mais imunizantes ao DF para primeira aplicação.
Movimentação
Em relação à ampliação dos horários, o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Beto Pinheiro, destacou que tem incentivado os empresários, funcionários e clientes do setor a se vacinar. “A situação da pandemia está bem mais controlada, em comparação a outros cenários que passamos. Temos casos ainda, mas muitos (pacientes) não precisam de internação, e isso é muito positivo. (A flexibilização) era um pedido que a categoria havia mandado para o governador em 25 de agosto. Entendemos que o momento atual permite isso, pois vai ajudar as empresas”, afirmou.
O presidente do Sindicato Patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, calcula que a medida contemplará cerca de 10 mil estabelecimentos desse setor em todo o DF. “Vai trazer mais tranquilidade para os empresários, que não vão precisam mais expulsar os clientes quando der meia-noite. E, também, beneficiará a população, que poderá se deslocar para casa com mais calma sem o toque de recolher”, opina.
Na avaliação da infectologista Ana Helena Germoglio, a flexibilização de restrições e o comportamento da população tem se refletido na alta de registros dos últimos dois dias. “Temos a transmissão comunitária da Delta, e ela está espalhada. É de se esperar que tenhamos esse aumento de casos, até porque há uma transmissibilidade muito maior quando a comparamos com outras variantes. Juntando isso a uma flexibilização praticamente total das restrições que, antes, eram impostas, é de se esperar uma crescente de casos. Mas uma coisa boa que temos observado é a redução dos graves, e isso é fruto da vacinação”, ponderou.