GASTRONOMIA

O suíno que chegou de avião

Cortes vindos de porcos da raça Duroc têm encantado o brasiliense, com suculência, maciez e muito sabor. No DF, a Fazenda Miunça se destaca na criação dos animais, com 10 mil exemplares, e comercialização da proteína para grifes da cidade

Uma das carnes mais saborosas do mundo — a suína — está sendo produzida com tanto cuidado, tecnologia e sofisticação que algumas raças, como a Duroc, tiveram o início de seu desenvolvimento no Distrito Federal graças à importação de matrizes trazidas dos Estados Unidos de avião.

Foi em abril de 2020 que cerca de 250 animais, a maioria fêmeas, vindos de Orlando, na Flórida, desembarcaram em Campinas (SP) e foram levados para Cananéia, ilha do litoral paulista, onde permaneceram em uma reserva do Ministério da Agricultura cumprindo protocolos sanitários. Passada a quarentena, o produtor rural Alexandre Cenci, da Fazenda Miunça, mandou vir de caminhão o rebanho obtido mediante intercâmbio com uma empresa de genética chamada DNA South America.

“Recebemos com muita alegria os animais na nossa fazenda, dando início à criação a partir da importação de 200 matrizes e 50 machos reprodutores, todos Duroc. Esse projeto se encontra em expansão no mercado, tanto para a multiplicação da genética quanto para o consumo de carne de qualidade com segurança alimentar”, pontua Alexandre, de 44 anos, zootecnista e gestor de agronegócio. Desenvolvida nos Estados Unidos, no começo do século 19, a raça Duroc é considerada o Angus da suinocultura. Aos seis meses de vida, os animais pesam 130kg, e adultos podem chegar a 250kg. A primeira importação data de 1956 quando chegaram ao Brasil matrizes americanas adquiridas por um produtor no Rio Grande do Sul.

Do bacon à picanha

Alexandre Cenci não hesita em afirmar que “o Duroc é a melhor carne de porco do Brasil, devido ao sabor, à maciez e à suculência”. Como o suíno tem os mesmos cortes dos bovinos, o que mais agrada o consumidor são a pancetta, picanha, costelinha, ribeye, além do torresmo, irresistível friturinha crocante feita com lascas da barriga do animal.

“Ainda há muita margem para o mercado brasileiro conhecer mais essa opção de carne”, comenta o produtor que fornece para diversos endereços gourmets da cidade, em especial, para a Casa do Holandês, que foi o seu primeiro cliente. O holandês Raymond Graumans comercializa produtos como pancetta, bacon natural (defumado com sal na madeira de laranjeira), presunto de pernil, copa lombo, linguiça pura sem conservantes e salame, entre muitos outros. O preço dos cortes variam de R$ 31 a R$ 36, o quilo.

Outro cliente, a Sobradinho Carnes, na 506 Sul, considera o marmoreio do Duroc “inconfundível”, definiu o sócio-proprietário Marcelo Furtado. Trata-se de gordura saudável que se acumula dentro do músculo e entre as fibras e garante o gosto e maciez da carne em qualquer preparação. Recentemente, a proteina chegou ao Muuh Butcher Shop, na 405 Sul e faz parte do portfólio da VPJ. “Os animais são enviados aos frigoríficos com inspeção estadual e federal e, posteriormente, comercializados pelos nossos parceiros em Brasília e nas demais capitais, chegando aos restaurantes como uma boa opção de carne marmorizada, suculenta e saborosa — uma proposta diferenciada para a gastronomia”, ressalta Cenci.

De cinco anos para cá, as carnes especiais passaram a ocupar as gôndolas dos supermercados. Elas respondem por 10% de toda a demanda nacional. O Distrito Federal produz mais de 10 mil toneladas de proteína suína; e o país, mais de 4 milhões de toneladas.

Atualmente, a Fazenda Miunça, localizada na DF 295, distante 70 quilômetros da rodoviária de Brasília, conta com 10 mil porcos Duroc. O local produz uva, trigo e outros cereais para alimentar os animais que, por sua vez, devolvem o esterco orgânico para adubação da lavoura, além de passar pelos biodigestores para produção de energia.