INSEGURANÇA

Latrocínio de estudante muda rotina escolar no CED 11 de Ceilândia

Alunos e professores do Centro Educacional 11 de Ceilândia vivem dias de tristeza e medo após assassinato de Geoffrey Stony, na semana passada. Polícia reforçou fiscalização na área, mas diretor de escola cobra atuação frequente

Ana Isabel Mansur
postado em 29/09/2021 06:00
Com medo, pais têm pedido para que filhos assistam aulas remotamente -  (crédito: Francisco Gardelha)
Com medo, pais têm pedido para que filhos assistam aulas remotamente - (crédito: Francisco Gardelha)

A escola deve ser um ambiente acolhedor e livre do medo. Infelizmente, no Centro Educacional 11 (CED 11) de Ceilândia, a sensação de insegurança é constante desde o assassinato do estudante Geoffrey Stony Oliveira do Nascimento, de apenas 16 anos, há uma semana, nas proximidades do colégio. O adolescente foi morto com um tiro no peito após um assalto enquanto esperava o pai buscá-lo depois das atividades escolares.

O diretor Francisco Gadelha conta que a demanda por atendimentos pedagógicos cresceu muito nos últimos dias. “O clima é de tristeza, esse tem sido o assunto na escola, todos ainda comentam, mas estamos tentando superar e seguir em frente. O setor de orientação educacional está sendo muito procurado pelos alunos. Muitos estão revoltados e querem mais segurança, que nosso ato não seja lembrado apenas como um momento bonito”, pediu o diretor, citando a homenagem que a comunidade escolar fez a Geoffrey, na segunda.

O educador relatou que não só os alunos estão com medo. “Muitos pais não querem deixar os filhos irem às aulas, e pedem para que eles acompanhem as aulas remotamente. Com a pandemia, metade da turma vem presencialmente em uma semana e o restante, na semana seguinte. Mais de 50 pais pediram para aderir às aulas a distância integralmente, não por medo da covid-19, mas pela falta de segurança”, pontuou o diretor.

Desde a trágica morte de Geoffrey, Francisco tem observado que as rondas policiais aumentaram na região e o policiamento, tanto nos arredores quanto na escola, tem sido mais frequente. “Tomara que isso perdure, não fique apenas por uma ou duas semanas. Não adianta ter policiamento só na região da escola, muitos alunos vão andando para casa e percorrem até 3km”, frisou.

Segurança

Desde 1989, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) tem o Batalhão Escolar, iniciativa pioneira no Brasil. Segundo a corporação, a unidade atua em todas as escolas e faculdades públicas e particulares do DF, à exceção do câmpus Darcy Ribeiro da Universidade de Brasília (UnB), que é de responsabilidade do 3º Batalhão da Asa Norte.

Correio pediu à PMDF os dados das operações do batalhão dos últimos três anos, a título de comparação, mas não obteve resposta. Na semana do assassinato de Geoffrey, o diretor da escola lembrou que o batalhão que atendia a escola tinha sido desativado.

A PMDF afirmou à reportagem que a unidade atua em cerca de 1,3 mil instituições de ensino, desde creches até universidades. “O batalhão realiza o policiamento ostensivo e preventivo com a aproximação e a antecipação do crime dentro do ambiente escolar. Entre agosto e setembro de 2021, mais de 500 crianças com idades entre 11 e 14 anos foram contempladas com o Programa de Prevenção ao Uso e Tráfico de Entorpecentes (Proerd)”, informou, por meio de nota.

A corporação ainda esclareceu que o professor Alexandre Bernardi de Figueiredo, vítima de bala perdida na Escola Classe 10 de Ceilândia Norte há 20 dias (leia Memória) “estava no ambiente escolar, mas o disparo veio de um lugar desconhecido”. Quanto ao caso de Geoffrey, a polícia explicou que o estudante “foi vitimado em local a mais de 2km da escola” e que os “autores foram presos pela Polícia Civil, cabendo ao Judiciário, dentro do que é regido por lei, julgar o caso”.

Procurada pelo Correio, a Secretaria de Educação do DF afirmou não manter dados de casos de violência nas proximidades das escolas.

Memória

Insegurança ameaça alunos e funcionários

Junho de 2016: pai e filho foram vítimas de assalto quando chegavam a um dos estacionamentos internos de uma escola particular na Asa Sul, por volta das 7h. Os dois homens fugiram com carro, relógio, celular e carteira. Casos como esse têm se tornado recorrentes. As câmeras do circuito de segurança captaram o crime, mas a equipe de vigilância do colégio não percebeu o roubo. Os bandidos tiveram acesso ao mesmo espaço onde os pais param o carro para desembarcar os filhos. A ação durou menos de cinco minutos e os criminosos ainda deixaram o menino de 10 anos abrir o porta-malas do veículo para pegar o material escolar.

Julho de 2021: vendedor de cachorro-quente morreu após ser esfaqueado no abdômen em frente a uma escola, no Riacho Fundo 1. Conhecido como “Batata”, ele chegou a ser levado para o Hospital de Base, mas não resistiu. O autor foi preso pouco tempo depois por um policial militar que estava de folga. O suspeito alegou que foi ameaçado pela vítima. Testemunhas informaram aos policiais que o acusado era usuário de drogas e alvo de reclamações constantes pelos comerciantes da região.

Setembro de 2021: professor Alexandre Bernardi de Figueiredo, 62 anos, foi vítima de bala perdida na Escola Classe 10 de Ceilândia Norte, enquanto crianças da educação infantil entravam na instituição. O crime aconteceu enquanto o professor consertava o controle do portão automático da escola, na área externa. O docente foi atingido na parte inferior da perna esquerda. O colégio atende alunos de 4 a 10 anos e, no momento exato do crime, crianças entravam pelo portão frontal, que fica a cerca de 18 metros de onde estava o professor.

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