Quando a coluna Favas Contadas estreou no Correio, em 1998, a jornalista Liana Sabo lembra bem que as três ou quatro notas impressas em preto e branco no espaço do jornal refletiam a escassez de restaurantes no Distrito Federal. A ousadia de uma repórter experiente, que escrevera sobre assuntos cotidianos da cidade e até sobre política externa, fez dela a primeira pessoa “a fazer de comida e vinho notícia”.
O resultado foi que, meses depois, quem passava pela capital federal poderia notar a abertura de mais e mais espaços para comer bem. A expansão do cenário gastronômico logo após o lançamento da coluna não é coincidência. Mais de duas décadas depois, é possível ter certeza de que a culinária da capital não é mais a mesma, e que Liana tem grande parte nisso.
É essa relação que recheia as 250 páginas do livro Histórias dos sabores que vivi, a ser lançado nesta quarta-feira. Mais de duzentas matérias e notas sobre gastronomia que a jornalista Liana Sabo produziu estão organizadas para trazer ao leitor uma viagem no tempo e conhecer os registros que contam uma parte da história da cidade.
A obra é organizada por Rosualdo Rodrigues, jornalista que foi finalista do Prêmio Jabuti na categoria livro reportagem, com a obra O Fole Roncou, com Carlos Marcelo. Rosualdo foi repórter do Correio e compartilhou anos com Liana na coluna, editando matérias e sendo leitor assíduo. Foi dele a ideia de reunir as histórias contadas pela amiga.
“Rosualdo sentava na cadeira em minha frente da redação, e enquanto ele editava, lembro dele se divertir, sorrir e gostar do que estava lendo. Ele sempre falou que éramos para reunir as histórias, e agora aconteceu”, lembra Liana.
Para Rosualdo, o lançamento da obra é a concretização de um desejo antigo, que vai além de reunir histórias, mas também homenagear a gastronomia em si. “Eu queria que o livro fosse uma evolução do mercado gastronômico em Brasília, e chegamos a isso. É um livro que trará a memória gustativa da cidade. Você vai folhear, se divertir e lembrar até mesmo do que viveu nos locais”, conta.
O jornalista afirma que o livro é uma forma de homenagear Liana. “Ela se tornou uma referência para todo mundo e impulsionou o mercado”, diz. De acordo com Rosualdo, Liana era comprometida com a gastronomia a ponto de ser sincera com os chefs para que o serviço melhorasse, notas e dicas que não eram passadas para os leitores da coluna.
“Ela não é crítica de gastronomia, mas era extremamente crítica no contato com os chefs. Ela não escrevia os pontos negativos na coluna, mas era sincera no local, falava o que precisava melhorar ou o que estava ruim e não deveria ser servido”, lembra.
“O Gil Guimarães, quando inaugurou o Baco, ficou nervoso com a ida da Liana, e serviu um prato que não tinha nada a ver com a proposta da casa, e foi confrontado com isso. Depois, a Liana comentou com ele sobre o slogan, que era ‘Pizza de verdade’. Ele me disse que ela perguntou se as outras eram de mentira, e isso fez ele repensar o que queria dizer”, conta, sorrindo. “Então, isso é uma coisa muito legal, porque, dessa forma, ela ajudou muito o mercado, sem queimar ninguém”, frisa.
Abrir caminhos
Liana afirma que o que a move é a oportunidade de “contar histórias e abrir caminho para outras pessoas”. Um dos momentos de felicidade que gosta de lembrar foi quando a então reitora e dona do Iesb, Eda Coutinho, compartilhou com Liana que a implementação do curso de gastronomia na instituição foi resultado do jornalismo gastronômico feito pela repórter.
A jornalista de 52 anos de experiência, apenas no Correio, também foi consagrada sendo uma das juradas do The World’s 50 Best Restaurants (Os 50 melhores restaurantes do mundo), criado pela William Reed Business Media. “Eu faço parte e é uma coisa muito honrosa para mim. Somos menos de mil jurados”, diz.
Da cozinha à organização de histórias
A ideia de Rosualdo saiu do papel após consolidar o blog Boníssimo!, voltado para cultura, viagens e gastronomia. Com ele, o jornalista gostaria de produzir projetos pessoais e de terceiros. Como o desejo de reunir as histórias da coluna Favas Contadas era antigo, o Histórias dos Sabores que Vivi foi o primeiro a se tornar realidade e a ganhar o selo Boníssimo!.
“Começamos a reunir as histórias. Foram vários almoços na casa da Liana, relembrando as histórias, e saindo de lá carregando dezenas e dezenas de matérias. A Liana tem absolutamente tudo guardado. Ela tem em casa tudo o que escreveu”, lembra.
Rosualdo lembra que pegar as colunas do arquivo foi um empréstimo ‘tenso’, porque Liana se preocupava com a condição dos registros. “Meu patrimônio é de papel. Eu amo o papel, e o meu ofício é a palavra”, declara Liana, confirmando o apego com as histórias. “Mas ele já me devolveu tudo, está guardadinho”.
Com os arquivos em mão, Rosualdo teve a difícil tarefa de escolher as histórias que contemplassem todos os momentos da cidade, além das fases da escrita de Liana. Depois de muito esforço e quase três anos, ele chegou a pouco mais de 200 matérias e notas selecionadas e sete capítulos.
“O primeiro é a História de Pioneiros, dos primeiros restaurantes da cidade. Logo depois tem o capítulo A cozinha e o poder, em que trago matérias dos locais em que políticos tinham afinidades, como o restaurante da Tia Zélia, que o Lula adorava ir”, revela Rosualdo. Há, ainda, os capítulos Brasília à mesa, que conta a histórias dos chefs e restaurantes da capital; O gosto do mundo, com histórias do Brasil e do exterior feitas por Liana; e um apenas com o vinho como protagonista”, detalha Rosualdo.
“Outro capítulo interessante revive uma fase da Liana em que ela escolhia um ingrediente e falava tudo o que poderia fazer com ele, como matérias sobre flores na salada, ou café, ou até mesmo uma azeitona produzida aqui no Planalto. O último capítulo traz os primeiros registros de Liana, em que ela costumava entrevistar personalidades da capital e mostrar o que cozinhavam”, complementa.
Histórias dos sabores que vivi
Boníssimo! Edições, 2021,
250 páginas, R$ 80
Em pré-venda a preço
promocional de R$ 70 no boníssimo.blog até terça-fe
Boníssimo Edições
O selo Boníssimo! Edições foi criado a partir do blog Boníssimo!, do jornalista Rosualdo Rodrigues, com o objetivo de editar publicações que se aprofundem nos temas tratados rotineiramente na página virtual — ou seja, cultura, gastronomia e viagem. Histórias dos Sabores que Vivi é o primeiro livro físico do selo, que iniciou com a publicação experimental do e-book 35 Coisas Para Fazer em João Pessoa Depois do Banho de Mar, em 2018.
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Boníssimo Edições
O selo Boníssimo! Edições foi criado a partir do blog Boníssimo!, do jornalista Rosualdo Rodrigues, com o objetivo de editar publicações que se aprofundem nos temas tratados rotineiramente na página virtual — ou seja, cultura, gastronomia e viagem. Histórias dos Sabores que Vivi é o primeiro livro físico do selo, que iniciou com a publicação experimental do e-book 35 Coisas Para Fazer em João Pessoa Depois do Banho de Mar, em 2018.
Ficha
Histórias dos sabores que vivi
Boníssimo! Edições, 2021,
250 páginas, R$ 80
Em pré-venda a preço
promocional de R$ 70 no boníssimo.blog até terça-feira.
Da cozinha à organização de histórias
A ideia de Rosualdo saiu do papel após consolidar o blog Boníssimo!, voltado para cultura, viagens e gastronomia. Com ele, o jornalista gostaria de produzir projetos pessoais e de terceiros. Como o desejo de reunir as histórias da coluna Favas Contadas era antigo, o Histórias dos Sabores que Vivi foi o primeiro a se tornar realidade e a ganhar o selo Boníssimo!.
“Começamos a reunir as histórias. Foram vários almoços na casa da Liana, relembrando as histórias, e saindo de lá carregando dezenas e dezenas de matérias. A Liana tem absolutamente tudo guardado. Ela tem em casa tudo o que escreveu”, lembra. Rosualdo lembra que pegar as colunas do arquivo foi um empréstimo ‘tenso’, porque Liana se preocupava com a condição dos registros. “Meu patrimônio é de papel. Eu amo o papel, e o meu ofício é a palavra”, declara Liana, confirmando o apego com as histórias. “Mas ele já me devolveu tudo, está guardadinho”.
Com os arquivos em mão, Rosualdo teve a difícil tarefa de escolher as histórias que contemplassem todos os momentos da cidade, além das fases da escrita de Liana. Depois de muito esforço e quase três anos, ele chegou a pouco mais de 200 matérias e notas selecionadas e sete capítulos.
“O primeiro é a História de Pioneiros, dos primeiros restaurantes da cidade. Logo depois tem o capítulo A cozinha e o poder, em que trago matérias dos locais em que políticos tinham afinidades, como o restaurante da Tia Zélia, que o Lula adorava ir”, revela Rosualdo. Há, ainda, os capítulos Brasília à mesa, que conta a histórias dos chefs e restaurantes da capital; O gosto do mundo, com histórias do Brasil e do exterior feitas por Liana; e um apenas com o vinho como protagonista”, detalha Rosualdo.
“Outro capítulo interessante revive uma fase da Liana em que ela escolhia um ingrediente e falava tudo o que poderia fazer com ele, como matérias sobre flores na salada, ou café, ou até mesmo uma azeitona produzida aqui no Planalto. O último capítulo traz os primeiros registros de Liana, em que ela costumava entrevistar personalidades da capital e mostrar o que cozinhavam”, complementa.