Em um momento de incerteza pelo qual a imunização contra a covid-19 para adolescentes passa no país, o Distrito Federal vai manter a vacinação de 14 a 17 anos. Nesta sexta-feira (17/9), integrantes da Secretaria de Saúde (SES-DF) participarão de uma reunião para decidir se haverá a inclusão de jovens de 12 e 13 anos na campanha ou se essa faixa etária — e alguma outra — ficará de fora. O debate surgiu após o envio de uma nota do Ministério da Saúde às unidades da Federação e municípios, na noite de quarta-feira (15/9). O texto orienta a suspensão do atendimento ao público adolescente sem comorbidades.
O encontro desta sexta-feira (17/9) está marcado para as 10h e terá representantes do governo federal, bem como de secretarias de Saúde estaduais. A possível suspensão da vacinação não foi bem recebida pela SES-DF. Em coletiva à tarde, o chefe da pasta, general Manoel Pafiadache, afirmou que dará continuidade ao atendimento de pessoas com mais de 14 anos, pois não há registro de reações adversas à vacina da Pfizer/BioNTech. Atualmente, o imunizante é o único autorizado para aplicação em adolescentes. Até essa quinta-feira (16/9), 88.705 deles haviam tomado a primeira dose na capital do país.
Na data, o governador Ibaneis Rocha (MDB) chegou a anunciar a ampliação da campanha de vacinação para jovens de 13 anos. O atendimento teria início esta sexta-feira (17/9). Porém, no começo da tarde, o chefe do Executivo local divulgou uma nota suspendendo a decisão: “Vamos suspender até a reunião no Ministério da Saúde amanhã (hoje)”, disse ao Correio.
A mudança do atendimento de um grupo incluso no público-alvo da campanha ainda teria potencial para gerar problemas de logística, segundo Pafiadache. “As vacinas estão nos postos. Nós não podemos recolhê-las e colocá-las novamente na Rede de Frio (Central). Essa foi a maneira de, neste momento, seguirmos com o planejado. O mais importante é ir vacinando com o imunizante previsto para o adolescente, e o único que tem registro mundial”, reiterou.
O subsecretário de Vigilância à Saúde, Divino Valero, observou que os critérios da nota do Ministério da Saúde não justificam a decisão. Ele ressaltou que o DF segue as orientações do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. Até essa quinta-feira (16/9), nenhum documento com orientações específicas sobre riscos a jovens de 12 a 17 anos havia sido encaminhado à capital federal, segundo o integrante da SES-DF.
Divino comentou que a relação com o governo federal não sofreu desgastes, mas a pasta distrital precisará de “elementos comprobatórios” e “bem fundamentados tecnicamente” para, se for o caso, interromper a vacinação de pessoas entre 14 e 17 anos. O órgão aguarda um parecer técnico que comprove ineficácia ou insegurança para aplicação de doses da Pfizer em adolescentes. “Precisamos de evidências científicas mais robustas e sistematizadas para que a secretaria, baseada nessas documentações, possa tomar um posicionamento”, afirmou.
Marcas diferentes
Em coletiva na tarde dessa sexta-feira (16/9), antes dos anúncios do governo distrital, o Ministério da Saúde divulgou dados sobre a aplicação de doses diferentes da Pfizer em adolescentes. No Distrito Federal, 222 jovens de 12 a 17 anos teriam sido vacinados com imunizantes Coronavac (111), Oxford/Astrazeneca (90) e Janssen (21).
Após a notícia, o secretário de Saúde do DF declarou que os casos serão apurados. “Vamos investigar se isso não foi uma questão de digitalização ou alguma desatenção, porque tomamos todas as medidas para que os jovens fossem direcionados aos locais onde estariam (apenas doses da) Pfizer”, ressaltou Pafiadache. A medida visava evitar aplicações de marcas diferentes nesse público e, segundo a pasta federal, o grupo deverá receber vacinas da mesma fabricante usada na primeira fase.
Enquanto alguns aguardam pelo parecer definitivo da SES-DF, outros correram para a fila na quinta-feira (16/9), para receber a primeira dose, com medo de perder a aplicação. Entre eles, estava o estudante David Manoel Marra, 16, que, após uma tentativa sem sucesso, na quarta-feira (15/9), voltou aos postos de atendimento.
O primeiro dia teve muita procura e filas dando voltas, segundo a mãe do jovem, Keila Cristina Marra da Silva, 41. “Acho que hoje (quinta-feira) tinha pouca gente porque muitos acharam que o DF suspendeu a vacinação. Se não fosse isso, com certeza, estaria cheio. Não tem nada a ver fazer essa suspensão. Adolescente também tem de ser prioridade”, cobrou a professora.
Insegurança
Para a infectologista Joana Darc Gonçalves, a orientação do governo federal veio em um mau momento. “O adolescente faz parte de um grupo que tem menos riscos de adoecimentos e, estatisticamente, são os que menos morreram e menos foram hospitalizados. No entanto, eles são essenciais para diminuir a circulação viral e a transmissão da doença. Esses jovens circulam em diversos ambientes, como escolas, trabalho, restaurantes e comércio. Eles são uma população que leva o vírus e, por isso, deveriam ser imunizados”, recomendou.
Joana destaca que, até o momento, pelas pesquisas publicadas, os imunizantes são seguros. “Antes de a vacina chegar ao braço, ela passa por uma série de ensaios. Claro que a tecnologia (de RNA mensageiro) é nova, mas todo imunizante apresenta possibilidade de gerar reações adversas. Havendo disponibilidade de doses, deve haver vacinação, como há em diversos países”, afirmou.
Para o professor da Universidade Católica de Brasília (UCB) e infectologista César Carranza, a recomendação do governo federal leva a outra consequência: a insegurança. “Essa portaria não saiu no momento adequado. O ministério poderia ter avaliado maneiras de não deixar a população desse jeito. Essas decisões precisam ser bem pensadas, pois recuar deixa as pessoas desconfiadas das autoridades”, pondera. “A decisão tomada agora só vai fazer se perguntarem por que permitiram e, depois, suspenderam. Torna um cenário produtivo para teorias.”
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