Com o avanço da vacinação contra a covid-19, no Distrito Federal, o brasiliense aproveita o calor para beber um chope, comer com os amigos e curtir um momento de lazer, mas ainda com os protocolos sanitários sendo respeitados pelos comércios locais. Com 67% do público geral vacinado com a primeira dose e 32% com a segunda, de acordo com a Secretaria de Saúde (SES-DF), o Sindicato patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar) estima que, com a retomada econômica do setor, fature mensalmente 10% a mais do que antes da pandemia.
Uma das pessoas que criou coragem para sair de casa foi a promotora de vendas Andreia Rodrigues, 34 anos, moradora de Vicente Pires. Ela ficou de 2 de junho a 22 de agosto de 2020 internada com covid-19, no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), o que deixou sequelas. Desde a alta, ela saiu pela segunda vez — após novembro do ano passado, quando foi a um bar do Guará 2 —, e foi ao restaurante Fausto & Manoel com a sogra para aproveitar o frescor do local e aliviar a sensação de calor.
"Estamos cada uma nos cuidando e fazendo a nossa parte, usando máscara e álcool em gel, só tirando para comer e beber mesmo. É uma sensação de medo e alívio ao mesmo tempo. Aqui é bom, porque está muito quente em Brasília, aí vim para aproveitar a brisa do Lago (Paranoá)", afirma.
Andreia tomou a segunda dose (D2) da CoronaVac em 6 de agosto, o que a deixou mais confiante para sair pela segunda vez nesta pandemia. "Eu precisava colocar a cabeça no lugar e fui a um bar do Guará 2. Mas fiquei com escaras (feridas na pele) no corpo todo, tive as cordas vocais atingidas, perdi 4 cm do pulmão e saí da UTI só mexendo o pescoço. Fiz dez meses de fisioterapia para retomar os movimentos do corpo. Atualmente, faço acompanhamento com pneumologista e médico cardiovascular", relata a promotora de vendas.
Gestora de RH, a sogra de Andréia, Rosane Maria, 50, recebeu a aplicação da D2 na última quarta-feira (8/9), o que ainda não a deixou totalmente relaxada quanto às medidas de contenção do novo coronavírus. “Desde quando começou a abertura de bares, (em julho de 2020) saio não com tanta frequência, mas não pude me conter desta vez. Eu temo muito (o contágio), porque sou mãe de três filhos, tenho família, mas também não deixei que essa pandemia me tomasse psicologicamente”, diz Rosane, com a nora, à mesa.
De acordo com o gerente do Fausto & Manoel, Leonardo Dalpissol, 45, o movimento do local aumentou de 10% a 15% em relação há dois meses. "As pessoas estão procurando o Pontão por ser um lugar ao ar livre, onde conseguem se sentir mais seguras do que em um estabelecimento fechado. Todos estão se sentindo bem tranquilos quando a gente cobra o uso da máscara, álcool e distanciamento social. A vacina é a solução, então, as pessoas estão mais confiantes mesmo. A esperança é que no fim do ano a gente comece a contar com uma rotina normal", avalia Leonardo, que mora no Sudoeste.
Reencontro de amigos
O professor de física aposentado João Alberto Souza, 63, se reuniu com os amigos de infância pela primeira vez nesta pandemia, na noite de quinta-feira (9/9), no bar e restaurante Faisão Dourado, na 414 Sul, após ficar os meses anteriores em isolamento social. "Tomei a segunda dose da AstraZeneca em 5 de julho. Estou mais confiante porque fiquei muito retirado em casa, pois tenho comorbidades. Sou diabético e obeso. Agora que estou saindo uma vez por semana para ir aos bares. Antes, a gente costumava se reunir uma vez por mês. Acho que a pandemia vai melhorar daqui para frente", diz o morador do Setor Habitacional Tororó.
Servidor público aposentado, Flávio Carvalho, 64, comemorou o encontro na mesa do bar, junto dos demais. Em 27 de julho, ele tomou a dose de reforço da AstraZeneca, o que o deixou mais tranquilo para se reunir com os amigos. "Depois que todo mundo tomou a segunda dose, a gente se sentiu mais confiante, porém em alerta, com a variante (B.1.621 do coronavírus), que foi identificada na Colômbia, tudo pode piorar de novo. Então está todo mundo usando álcool em gel por aqui. É um risco calculado, mas hoje valeu a pena", conta o morador da Asa Sul, que contraiu a covid-19 em 4 de abril.
Ele ficou assintomático durante o período de quarentena em casa. “Entre o diagnóstico e a alta, deu 15 dias. Acho que a vacinação vai melhorar os efeitos de uma eventual contaminação, mas a situação da contaminação, em si só, vai melhorar se o vírus estiver diminuindo", conclui Flávio. Para o gerente do Faisão Dourado, Luiz Carlos Rodrigues, 32, o movimento do último mês para cá está melhor do que antes da pandemia. Com a maioria do público adulto a idoso, ele destaca que não só o happy-hour, mas as vendas no almoço também melhoraram. "A gente teve a alternativa de delivery que ajudou muito durante a semana. Neste mês para cá, deu uma melhorada significativa. Nossa clientela é de um pessoal mais velho, que está mais tranquilo para vir aqui. A preferência da maioria é por se sentar na área externa do bar, por conta do distanciamento e do ambiente arejado.
Luiz destaca que o bar tem avisos de usar álcool em gel na entrada e na saída. "Aqui a gente não tem esse problema. É muito difícil ver alguém descumprindo as medidas sanitárias. O cliente pega a mesa de dentro e coloca na área de fora, embaixo de um pé de árvore, onde é mais fresco. Se você notar, fica bem espaçado. Mesmo sendo uma empresa pequena, nosso custo operacional é alto. Consegui segurar os meus 10 funcionários desde o começo da pandemia, mas tive que fazer empréstimo para poder suprir os custos", acrescenta o gerente do Faisão Dourado.
Gerente do Bar Beirute, na Quadra 109 Sul, Manoel Pereira, 62, diz que o estabelecimento teve alta de 15% no movimento perto do fim de semana em relação ao último mês. "No almoço, está melhor de vendas, mas o happy-hour é bom mesmo na sexta-feira, sábado e domingo. E o nosso público é bem consciente. Usa álcool em gel e máscara de proteção quando vai ao banheiro. Além disso, as mesas ficam dois metros distantes umas das outras. Alguns clientes falam que vão vir com mais amigos em breve, outros falam que ainda estão com um pouco de medo", comenta o comerciante.
Sindhobar
De acordo com o presidente do Sindicato patronal de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Antônio da Silva, a liberação do GDF para que os comércios do setor funcionem conforme previsto no alvará de funcionamento e sem toque de recolher fez a diferença. “Sexta-feira foi o teste definitivo, pois a gente tem uma expectativa de que vamos aumentar as vendas. Aí, não precisaremos expulsar o nosso cliente, porque, antes da liberação do governo, dava 22h30 e os estabelecimentos tinham de fechar. Agora, o bar fecha no seu horário de funcionamento normal”, declara Jael.
O presidente do Sindhobar destaca, ainda, que não vê perigo de disseminação do novo coronavírus porque os protocolos de segurança sanitária dos bares e restaurantes do DF “são os melhores do nosso setor produtivo”, assegura. “Os empresários têm que cumprir todos os procedimentos estabelecidos, como o distanciamento entre as mesas, álcool em gel, uso de máscara para circulação de pessoas, não poder haver o consumo de bebida em pé. Nossos clientes também estão se conscientizando”, conclui Jael
» Medidas sanitárias para bares e restaurantes
» Uso obrigatório de máscara de proteção
» Higienização dos ambientes
» Distanciamento social de dois metros entre as mesas e as pessoas
» Proibição de shows com venda de ingressos
» Revogados os artigos do decreto nº 41.913, de 19 de março de 2021, que tratavam do toque de recolher e proibia a venda de bebidas alcoólicas após as 24h em todos os estabelecimentos comerciais autorizados a funcionar, inclusive em operações de delivery, drive-thru e take-out
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