DEBATE

Com abaixo-assinado, moradores do Lago Sul se mobilizam contra loteamento

População do bairro argumenta que proposta comprometerá reserva ambiental próxima a nascentes e córregos. Área em questão pode ser dividida entre 122 terrenos de até 1,8 mil metros quadrados

Edis Henrique Peres
postado em 07/09/2021 06:00 / atualizado em 07/09/2021 10:02
 (crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)
(crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press)

A proposta de loteamento de uma área verde entre a QI 17 e o Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul, mobilizou os moradores da região. A população questiona o projeto que vai alterar a dinâmica do local e impactar o meio ambiente e a infraestrutura da quadra. O abaixo-assinado on-line, organizado pela associação de moradores, já reúne 816 assinaturas. Para esta quinta-feira (9/9), está prevista uma audiência pública, às 19h, organizada pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e tem o objetivo de discutir o Estudo de Impacto de Vizinhança com os moradores.

A expectativa da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) é delimitar 122 lotes de 800 a 1.800 metros quadrados na área verde. Os moradores defendem que o espaço constitui uma reserva ambiental e está próximo de nascentes e córregos. “O Lago Sul tem essa característica de terrenos com áreas verdes e bastante espaço entre as casas. Isso mantém a umidade e absorção de água e preserva a beira do lago. A baixa densidade populacional é importante para isso”, destaca Solon Kouzak, presidente da associação dos moradores da QI 17 e dos conjuntos 1 a 3 do Setor de Mansões Dom Bosco.

Solon também questiona a falta de consulta à comunidade. “Descobrimos (sobre o projeto) porque veio uma empresa fazer um relatório na área e perguntamos o que era. E não há nenhum benefício aos moradores. Nós que cuidamos dessa área verde e nosso objetivo era criar um bosque da saudade, em homenagem às vítimas de covid-19”, conta.

Moradora há 42 anos da QI 17 do Lago Sul, a servidora pública aposentada, Jane Carol Azevedo, 72 anos, se preocupa com o impacto ambiental. “Há cerca de dois dias veio um tucano aqui beber água no gradil de casa. Temos muito forte a presença da natureza”, pondera Jane.

A aposentada explica, também, que os moradores investem no local. “Temos uma portaria permanente na entrada e câmeras na quadra. Aqui, muita gente vem para ver o pôr do sol, porque é um espetáculo. Mas esse loteamento altera totalmente a proposta do Lago Sul. E a nossa rede de água e elétrica é muito antiga, não tem nem a capacidade de atender os moradores que já estão na QI 17”, conta.

Questionado, o Ibram disse que existe um processo de licenciamento ambiental em andamento. “O órgão realizará uma audiência pública virtual, que é uma das fases obrigatórias do processo de parcelamento do solo, para discutir o empreendimento que ainda está em fase de estudos”, explica por meio de nota.

  • O ponto que será urbanizado é usado por visitantes para apreciar o pôr do sol.
    O ponto que será urbanizado é usado por visitantes para apreciar o pôr do sol. Moradores do Lago Sul/Reprodução
  • Moradores do Lago Sul se mobilizam contra loteamento de área verde
    Moradores do Lago Sul se mobilizam contra loteamento de área verde Moradores Lago Sul/Divulgação
  • Abaixo-assinado reúne mais de 800 pessoas contra a urbanização da área verde
    Abaixo-assinado reúne mais de 800 pessoas contra a urbanização da área verde Moradores Lago Sul/Divulgação

Impacto

Não apenas os moradores da QI 17 se preocupam, como os do Setor de Mansões Dom Bosco (SMDB). Durcemar Martins, 70 anos, engenheiro civil e morador há 25 anos da região, ressalta o impacto para o trânsito. “Temos apenas uma saída e pela manhã e fim de tarde esse trecho causa transtorno. Colocando mais moradores e carros, isso vai piorar muito”, pontua.

Frederico Flósculo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), destaca: “não há planejamento urbano sem um diagnóstico do local, sem um estudo científico que avalie a realidade urbana e ambiental”. Para o especialista, é preciso consultar os limites ecológicos e econômicos. “Dessa forma há um desrespeito na escala do lote que caracteriza o Lago Sul e o substitui por um loteamento de subúrbio. Esse não é o padrão brasilienses. Estamos sofrendo uma constante queda da qualidade do desenho urbano da capital”, pontua.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh). A pasta pontuou que “o assunto será tratado em uma audiência pública” e acrescentou: “esse projeto é da Terracap e até o momento não foi encaminhado para a Seduh”. A Terracap disse, em nota, que “em todos os seus projetos segue as leis, normas, diretrizes urbanísticas e condicionantes ambientais. O projeto está suspenso para ajustes. É uma área de parcelamento futuro na QI 17, previsto desde a década de 1980”, finaliza.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação