A produção de energia solar tem crescido no Distrito Federal e mostra ser uma boa opção para reduzir o impacto do aumento na conta de luz. Entre janeiro e agosto deste ano, 854 usinas solares foram instaladas na capital do país. Ao todo, cerca de 3,7 mil unidades consumidoras têm rede fotovoltaica com produção de 74,3kw de potência. Em 2015, esse número era de 35 sistemas com produção própria. Apenas no ano passado, 1.323 iniciaram a geração energética a partir da captação da luz do sol, recorde. Os dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Para Samuel Araújo, engenheiro eletricista do Instituto Senai de Tecnologia em Construção Civil do Distrito Federal, o sistema de energia fotovoltaico é vantajoso em todos os sentidos. “Você utiliza um recurso que está disponível em abundância durante o dia, transforma em energia e ainda consegue guardar para usar durante a noite. Na prática, o cliente não paga a energia elétrica que gasta”, explica o especialista. Samuel destaca que houve um crescimento geral no país na procura por esse sistema, que consegue reduzir mais da metade os custos junto à distribuidora de energia elétrica.
Um sonho antigo de Fernando Antônio de Aquino Pavie, 60 anos, se tornou realidade há dois meses. Após muito debater com os condôminos do prédio onde mora, o síndico de um bloco na 210 Sul conseguiu aderir à produção fotovoltaica, que compensará todos os gastos da área comum do bloco, além de gerar 100kw para cada apartamento. “Tínhamos um fundo de reserva sobrando, que estava parado e não estava rendendo nada. Então propus a instalação das placas solares, que foi bem-aceita pelos moradores”, conta o aposentado.
Dos R$ 2 mil de despesas com a conta de energia da área comum — que inclui elevador, pilotis, salão de festas, corredores —, Fernando prevê uma economia de R$ 1,5 mil, mesmo com a tarifa vermelha. “Vamos saber de fato o impacto na conta neste mês de setembro, pois o sistema só começou a funcionar agora, 30 de agosto”, afirma.
De acordo com a resolução da Aneel, o cliente que tem usina fotovoltaica permanece conectado à rede de distribuição de energia, tendo uma compensação do que é gerado e do que é de fato consumido. Em relação ao impacto na conta de energia, os valores variam a depender do perfil de consumo do cliente e da potência do sistema fotovoltaico instalado.
Levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) avalia a produção deste sistema no país. Segundo ranqueamento das cidades que mais geram eletricidade por meio do sol, Brasília aparece em segundo lugar, com 74,5 megawatt (1 megawatt (MW) equivalente a 1.000 quilowatts) produzidos. A capital fica atrás apenas de Cuiabá, com 79,9MW. No entanto, no comparativo por unidade da Federação, o Distrito Federal cai para a 20ª posição.
Casa verde
Para Thaís Aquino, 52, ter uma casa — na medida do possível — sustentável é uma realidade. Moradora do Lago Sul, há 20 anos ela implementou o sistema de aquecimento solar para reduzir os gastos com o chuveiro elétrico. Em setembro do ano passado, ampliou o aproveitamento do recurso natural com a instalação de placas fotovoltaicas. “Era uma coisa que já queria há um tempo e, quando surgiu a oportunidade, nós a implementamos. E, olha, eu achei que foi um ótimo negócio”, relata. A conta de energia, que antes variava em torno de R$ 500, atualmente está a R$ 100. Mesmo com a bandeira vermelha, ela conta que o aumento foi mínimo, de R$ 4 a R$ 5.
“Não sei muito quantificar essa economia, pois nosso consumo aumentou. Acabei mudando muitas coisas, por exemplo, deixei de utilizar o forno a gás para utilizar o elétrico. Tenho dois aparelhos de ar-condicionado, além de outros aparelhos eletrodomésticos”, conta a servidora pública. Thaís também tem na casa dela outras ações sustentáveis, como o aproveitamento do lixo orgânico com composteiras e reaproveitamento da água para lavagem da área externa e para aguar o jardim.
Evolução
Quantidade de usinas fotovoltaicas instaladas no DF, ano a ano
2015 — 35
2016 — 88
2017 — 205
2018 — 392
2019 — 890
2020 — 1.323
2021 — 854*
Fonte: Aneel
*até 1º de setembro de 2021
Entenda
Como funciona a energia solar fotovoltaica
- As placas instaladas captam a luz do sol e a transformam em corrente elétrica contínua
- A corrente passa por um inversor, onde é transformada em corrente alternada
- O excesso de eletricidade produzido pode voltar para a rede de distribuição de cada região
- A rede faz o uso da energia e, por isso, as unidades consumidoras recebem créditos para sua conta de luz
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.
Estações do Metrô sustentáveis
Desde 2017, a Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) conta com usina de energia fotovoltaica para gerar energia limpa no sistema metroviário da capital. Das 27 estações operacionais, duas implementaram a produção própria de eletricidade. A primeira a ser inaugurada foi na Estação de Guariroba, em Ceilândia, com 578 placas fotovoltaicas, que geram 288 mil quilowatts/hora. Segundo a companhia, o suficiente para tornar a estação 100% sustentável.
Em 2018, outro sistema foi implementado na Estação Samambaia Sul. São 561 painéis, com capacidade para gerar 308 mil quilowatts-hora por ano, o equivalente a 100% do consumo da estação. Ao todo, foram investidos R$ 2 milhões (R$1 milhão para cada usina solar). De acordo com o Metrô-DF, há uma expectativa de implantação de mais estações sustentáveis, porém não existe previsão de novo investimento por agora.
Se calculados os custos com a tarifa de energia de agosto, a companhia chega a economizar aproximadamente R$ 211 mil/ano na Guariroba e R$ 225 mil em Samambaia. “Sem aplicação de bandeira, o sistema já se mostra eficiente. Com a aplicação da bandeira 2 nas faturas de energia o sistema, se torna ainda mais eficiente, do ponto de vista econômico”, destacou a companhia, em nota.
Alta na luz impulsiona mudança
Nascida no interior do Maranhão, em uma família pobre e grande — pai, mãe e sete irmãos — Juliana Andrade, 35 anos, cresceu ouvindo “os berros” da mãe para sair do chuveiro e economizar energia. “Meu pai ficava louco da vida quando chegava e tinha lâmpada acesa pela casa. Querendo ou não, ficávamos todos no mesmo cômodo, com luz acesa, ou no escuro, para ‘economizar’”, relata.
Hoje, casada e mãe de duas crianças, se vê repetindo o mantra dos pais. Aprendeu com o filho, 12, que alguns eletrodomésticos são mais econômicos. Quando comprou a primeira geladeira, há três anos, escolheu a que tinha o selo com a indicação de que era mais econômica.
O mesmo aconteceu quando oficializou o casamento com o vigilante Milton Braga Filho, 40, no ano passado, numa cerimônia no gramado da chácara de um amigo, em Santo Antônio do Descoberto (GO). “Os amigos do trabalho me deram um ‘vale microondas’. Era um sonho, porque deixo o almoço pronto para as crianças quando saio para trabalhar e ficava preocupada de eles mexerem no fogão. Na loja, também procurei o que tinha aquele selinho de ser econômico”, conta.
Apesar das mudanças, Juliana relata que não viu tanta diferença. “Não temos muitos eletrodomésticos. É tevê, geladeira, microondas e chuveiro. Vi diferença não. Até porque o valor da energia está pela hora da morte, como dizia minha falecida mãe. Mas, pelo menos, fico com a sensação de que estou fazendo a minha parte”, pondera.
O doutor em Economia Aplicada à Energia, Juan José Verdésio ressalta que, para a classe média baixa, o chuveiro elétrico, geladeira e ferro elétrico, são os maiores vilões no fim do mês nas despesas com energia elétrica. “Outra questão importante de destacar são os equipamentos eletrônicos ligados no modo dormente. Aquela luzinha da televisão ou do microondas quando está em descanso, já gasta muito. É praticamente 24 horas consumindo energia”, explica. Para a população de classe média-alta, o ar-condicionado é o que mais puxa a conta de gastos com eletricidade doméstica.
Colaborou Adriana Bernardes
Fique atento
Veja a lista de eletrodomésticos que mais consomem energia:
- Chuveiro elétrico
- Geladeira
- Ferro de passar roupa
- Ar-condicionado
- Equipamentos eletrodomésticos como airfryer, microondas, panelas elétricas