Cotidiano

Brasilienses mudam hábitos para driblar os efeitos da crise econômica

Alta nos preços impulsiona mudanças de comportamento dos moradores do Distrito Federal. População busca alternativas para amenizar o impacto provocado no orçamento pelo cenário econômico atual

Cibele Moreira
postado em 02/09/2021 06:00
Administradora de um açougue, Luana diz que aposta em promoções -  (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)
Administradora de um açougue, Luana diz que aposta em promoções - (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

O Distrito Federal é uma região historicamente com o custo de vida elevado em relação à outras unidades da Federação. Porém, nos últimos meses, os brasilienses têm sentido mais no bolso o impacto da alta dos preços em diversos setores da cadeia produtiva. Com um cenário de elevação constante, a população tem se reinventado e desenvolvendo alternativas para lidar da melhor forma com a crise econômica. Na busca por não comprometer tanto as despesas básicas e familiares, muitas pessoas mudaram a rotina do dia a dia, com cortes de gastos e consumindo produtos mais baratos.

A servidora pública Maria Cardoso, 49 anos, avalia que as compras no mercado e o preço da gasolina são os itens que mais têm pesado no orçamento. “A gente diminuiu algumas coisas na lista de compras do mês. Normalmente, você acaba indo ao mercado e comprando supérfluos, como doces. Agora, estamos só comprando o básico e o necessário”, ressalta a moradora da Asa Norte. Em relação ao combustível, ela e o marido têm feito um combinado: sempre sair juntos, no mesmo carro. “Ele me deixa no trabalho primeiro e, depois, me busca. Otimizamos o combustível e tempo”, pontua.

Segundo o último levantamento do Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), a capital do país registrou variação de +0,90% no mês de julho, impulsionada pelo aumento do combustível e da energia elétrica. Esta é a maior alta de preços para o período desde 2002, quando houve oscilação de +1,07%.

O preço da luz teve aumento de 6,68% em julho, levando em consideração o reajuste de 52% no valor das tarifas referentes à cobrança de bandeira tarifária vermelha de patamar 2, que subiu de R$ 6,24 para R$ 9,49 a cada 100 quilowatts-hora (kWh). Ontem, a tarifa sofreu novo reajuste e passou para R$ 14,20 a cada 100 KWh.

Para a administradora de um açougue em Sobradinho, Luana Amaral, o impacto foi duplo. Além da população estar economizando em relação ao consumo de carnes, o custo com a energia subiu exponencialmente entre julho e agosto. Ela conta que houve um aumento de R$ 8,3 mil na conta do mês passado. “E a energia não tem como economizar, temos câmaras frias, freezers para acondicionar as carnes. Pesou muito, foram R$ 31 mil de despesa”, revela.

Apesar do aperto, Luana ressalta que o local tem se reinventado para manter os clientes e a saúde financeira da empresa. “Todos os dias, tem produtos em ofertas. As pessoas estão comprando menos. Mas estão levando sempre nossa proteína que está em promoção”, afirma. De acordo com a administradora, mesmo durante a fase mais crítica da crise econômica provocada pela pandemia da covid-19, nenhum funcionário foi demitido.

Alimentos

A despesa com alimentação subiu nos últimos meses. Uma compra no mercado que saía a um custo médio de R$ 100, mais do que dobrou. Com isso, os brasilienses fizeram ajustes na hora de adquirir os produtos. “Sempre tem que fazer adaptações, não tem jeito. Está tudo muito caro. Antes, comprava filé mignon, salmão. Agora, a tilápia está R$ 50, não dá para bancar. Estou só no franguinho e na sobrecoxa”, desabafa a bancária Bruna Brito, 36. A moradora de Águas Claras destaca que está no home office e, por isso, não tem sentido o efeito do aumento da gasolina no orçamento. “Por outro lado, a conta de energia já veio mais alta no último mês. Já estou pensando em estratégias para economizar mais”, adianta.

Michele Souza, 25, comenta que retirou o contra filé da lista de compras. O quilo do corte custa entre R$ 40 e R$ 50 nos estabelecimentos do DF. “Estou comprando coxão duro, até o frango aumentou. Arroz e feijão também estão muito caro, tenho substituído por salada”, relata a moradora de Sobradinho. “O gás também subiu. Estou cozinhando uma vez no dia, no almoço, para durar para a janta”, completa.

A advogada Mara Costa, 43, frisa que o custo de vida do brasiliense aumentou de maneira geral. “Um serviço básico, como o fornecimento de energia teve um reajuste altíssimo, o botijão de gás é um produto de primeira necessidade, e muitas pessoas estão tendo dificuldade de aquisição. A majoração do aumento foi exorbitante”, destaca. Para driblar os efeitos da crise econômica, ela tem reduzido os gastos com energia em casa, utilizando menos o ar-condicionado e deixando de andar com o veículo próprio e utilizando o transporte por aplicativo.

Variáveis

Para o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli, o cenário de altas poderá se agravar pelos próximos meses. “Tivemos muitos fatores que estão impactando no aumento dos preços, como a própria pandemia — que contribuiu com a escassez de insumos para a indústria, além dos problemas climáticos que têm relação direta com as safras de alimentos —, e o próprio preço internacional”, explica Piscitelli.

O professor analisa que fatores políticos contribuem para reajustes de preços, seja para mais, seja para menos. “Os conflitos entre os Poderes têm uma enorme influência. A própria política de preço, como a presença de muitos cartéis que dificulta a variação dos preços”, finaliza.

 

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