A Justiça converteu em preventiva a prisão em flagrante do homem que atropelou a servidora Tatiana Thelecildes Fernandes Machado Matsunaga, 40 anos. A decisão foi dada durante audiência de custódia realizada na manhã desta quinta-feira (26/8). Paulo Ricardo Moraes Milhomem, 37, responde por tentativa de homicídio. "Reforça-se que Ricardo é primário, de bons antecedentes, tem residência fixa, profissão estável, apresentou-se espontaneamente e está disposto a colaborar na investigação do ocorrido. Dessa forma, não há subsídios suficientes para mantê-lo preso", frisou o advogado de defesa, Leonardo de Carvalho.
Na decisão, à qual o Correio teve acesso, a juíza Paula Afoncina, que presidiu a sessão, justificou que os elementos da prova documentados revelam "gravidade concreta", ou seja, "gravidade que extrapola os elementos básicos do tipo penal". "O quadro indiciário desenhado até o presente momento aponta que o autuado teria se envolvido numa discussão de trânsito com a vítima em determinado local do Lago Sul, próximo ao restaurante Dom Orione, e a teria perseguido até a rua onde ela reside, continuando a discutir verbalmente com ela. Em dado momento, o autuado acelera seu veículo e atropela a vítima, que se encontrava na calçada, passando o carro por cima dela. A vítima, ainda de acordo com informações atuais, está internada no hospital, em estado grave. Essas circunstâncias indicam, num primeiro juízo, a especial periculosidade do agente e fornecem base empírica idônea à conclusão de que sua liberdade afetará a ordem pública", pontuou a magistrada.
Tatiana permanece internada na unidade de terapia intensiva (UTI). Nessa quarta-feira (25/8), ela passou por cirurgias no tornozelo, no secro (osso abaixo da coluna) e na cabeça, mas o quadro clínico ainda é delicado. A mulher foi atropelada após uma briga de trânsito que começou na altura da QI 15 do Lago Sul e terminou em tragédia, em frente à casa da vítima. O advogado Paulo Ricardo Moraes Milhomem foi preso em flagrante pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
O caso
Por volta das 9h, Tatiana saiu de casa para buscar o filho mais cedo na escola, pois a criança, 8 anos, não passava bem. A caminho de casa, a mulher teria sido “fechada” por um motorista que dirigia um Idea prata. Os dois, então, iniciaram uma discussão. Na delegacia, Paulo contou que a vítima o teria xingado e feito gestos obscenos. “Após a briga, ela foi para a casa e ele a seguiu por quase 2km. Em frente à residência, os dois voltaram a se desentender”, detalhou o delegado-adjunto da 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul), Renato Fayão.
Imagens do circuito interno de segurança registraram o momento exato em que Tatiana está dentro do carro, em frente de casa. Paulo dirige até o fim da rua e retorna. Poucos segundos depois, assustado com o barulho das discussões, o marido da servidora sai de dentro da residência para ver o que está acontecendo. “Na hora em que a câmera não consegue filmar, é o momento que ela desce do veículo e vai em direção ao Idea. Depois, retorna ao carro para buscar o celular na intenção de filmar”, afirmou o delegado. Enquanto a mulher está no meio da rua, Paulo acelera o carro e passa por cima de Tatiana e foge em seguida.
Paulo se apresentou à 10ª DP pouco tempo depois na companhia de um advogado. Ainda abalado, em depoimento, o marido da servidora contou que estava em casa quando ouviu um barulho estranho na área externa e saiu para ver. Alegou, ainda, que em nenhum momento ameaçou ou injuriou Paulo. No local do crime, as marcas de sangue evidenciam a tragédia.
Defesa
O advogado de Paulo, Leonardo de Carvalho, afirmou que vai recorrer da decisão da Justiça. Em entrevista concedida ao Correio nesta quarta-feira (26/8), o advogado contou outra versão da história. Segundo ele, o autor acabara de passar por um exame em um hospital e, no caminho de casa, teria sido “fechado” por Tatiana. “Ele ultrapassou o veículo dela, mas ela continuou fazendo manobras agressivas, buzinou e reproduziu gestos obscenos”, disse.
Após os fatos, o advogado conta que Paulo decidiu tirar satisfações com a servidora. “Ele entrou em uma rua e conversou com ela, perguntando o motivo dela estar agindo daquela forma e pedindo desculpas. Depois, ele foi até o final da rua e, quando voltou, foi surpreendido pelo carro dela bloqueando a via intencionalmente”, defendeu Leonardo.
De acordo com a defesa, no momento em que o marido de Tatiana saiu de casa, Paulo teria “se sentido ameaçado”. “Ele viu que ela deu um passo para o lado, então ele viu uma forma de sair dali. Ele só fugiu porque o marido correu e ele sentiu medo”, diz o advogado. Leonardo acredita que Paulo responderá o processo em liberdade. “Nunca houve a intenção de machucar a mulher. Ele ficou com medo da reação do marido, não sabia se estava armado ou algo do tipo”, finalizou.