O anúncio do Ministério da Saúde de aplicar uma terceira dose em idosos acima de 70 anos mexeu com as emoções desse público, na quarta-feira (25/8). No Distrito Federal, muitos que completaram a imunização seguem uma vida com restrições. Em instituições de longa permanência como asilos, os moradores não ganham abraços de visitantes desde o início da crise sanitária. A expectativa, agora, é pela chegada do momento de um novo reforço. A Secretaria de Saúde (SES-DF) aguarda o envio de vacinas para atender esse público, o que deve ocorrer a partir de 15 de setembro, segundo o Governo Federal.
No DF, há 142.131 idosos com 70 anos ou mais (leia No detalhe). O Ministério da Saúde informou que aplicará a terceira dose naqueles que tomaram a segunda há, ao menos, seis meses. O atendimento seguirá ordem decrescente por grupos de idade, dos mais velhos aos mais novos. Eloy Barbosa de Oliveira, 75, mora em Taguatinga e completou a imunização em 12 de maio. Agora, aguarda ansioso pelo reforço, para ficar mais perto da família. “Estou há muito tempo sem ver os netos”, lamenta.
As duas doses foram cruciais para salvar a vida de Eloy. Ele contraiu a covid-19 e ficou internado em estado grave, mas sobreviveu e não teve sequelas. Depois da experiência, ele reforça a importância da atenção às medidas não-farmacológicas de proteção. “Saí do hospital há três dias e continuo me cuidando direitinho, pois acredito que me infectei após um descuido meu. Agora, é máscara, álcool em gel e distanciamento. Só assim para prevenir (a infecção)”, destaca.
Outra pessoa que tomará a terceira dose sem pestanejar é Olavo David, 84. Morador da 112 Norte, ele conta que permanece angustiado por causa da pandemia e das consequências da crise sanitária. “Estou há muito tempo sem me reunir com a família da mesma forma que antes. Fico apavorado de pensar em pegar covid-19 ou de que algum familiar pegue e fique em estado grave”, desabafa. “Mas confio na ciência e na saúde pública. Quero me proteger, sem essa de escolher a vacina. A melhor é a que tem”, completa.
Angústia
Em instituições de longa permanência, a realidade não é diferente. O enfermeiro Diogo Pinheiro, 31, atua no Instituto Integridade — o qual inclui dois lares para idosos e uma creche, todos no Núcleo Bandeirante — e relata que os moradores estão ansiosos para voltar à normalidade. “Mesmo com todos daqui com o ciclo vacinal completo, os cuidados continuam. Conversas são apenas virtuais ou com uma distância de, no mínimo, dois metros. Tudo para evitar que os pacientes peguem a doença”, pontua. “Eles (os idosos) ficam tristes com tanto tempo sem ter contato com algum parente ou amigo. Fazemos o máximo para amenizar isso, mas sabemos da importância de protegê-los contra o novo coronavírus.”
Priscila Fernandes, 29, é psicóloga e coordenadora do Lar dos Velhinhos. Ela afirma que o reforço da dose é bem-vindo, principalmente porque passeios e visitas estão suspensos na instituição. “Na vez de eles tomarem a primeira dose foi uma festa, e tenho certeza que será assim com o reforço. São pessoas muito vulneráveis, que precisam de proteção. A maioria daqui é cadeirante ou tem doenças. Para nós, é importante que eles estejam seguros. Nós tínhamos o costume de ir a feiras e parques, mas nem isso podemos fazer mais. É um pouco angustiante ver a situação”, relata.
Adiantamento
Nesta quinta-feira (26/8), começa a antecipação da segunda dose da Pfizer/BioNTech. A medida vale para todos com aplicação marcada para até 3 de setembro. Quem recebeu o imunizante da Oxford/AstraZeneca e deveria tomar o reforço até 31 de agosto também pode antecipá-lo. Os que não receberem a vacina com antecedência terão de aguardar novo calendário de adiantamento, divulgado pela Secretaria de Saúde.
Integrantes da pasta afirmam que a SES-DF faz cálculos semanais, a fim de verificar a possibilidade de novas antecipações. Ainda não há data para a próxima de quem recebeu a primeira dose da Oxford/AstraZeneca, pois a medida depende da quantidade de imunizantes enviada pelo Ministério da Saúde. Por enquanto, os disponíveis no estoque da Rede de Frio Central do Distrito Federal não são suficientes para uma nova etapa de adiantamentos.
No detalhe
Idosos no Distrito Federal
Com 80 anos ou mais: 42.355
De 75 a 79 anos: 38.594
De 70 a 74 anos: 61.182
Fonte: Secretaria de Saúde (SES-DF)