Crônica da Cidade

Clima apocalíptico

Estamos assistindo, em vários pontos do planeta, sinais das consequências do aquecimento global. Na Alemanha, mais de 100 pessoas morreram e mais de 1.000 ficaram desabrigadas em razão da violência das inundações dos rios. No Brasil, as temperaturas frias alcançaram recordes de graus negativos. As secas são cada vez mais rigorosas e afetam o ciclo das chuvas e o fornecimento de energia elétrica.

Basta sair à rua e expor-se aos raios solares para perceber que uma mudança grave está ocorrendo no planeta. A pele parece queimar sob a incidência da luz calcinante. Enquanto isso, os negacionistas afirmam que é exagero dos cientistas, dos comunistas e das ONGs. Li, no ano passado, durante o confinamento mais extremo, o livro A terra inabitável — Uma história do futuro, de David Wallace-Wells.

O cenário desenhado pelas projeções do autor é apocalíptico. E o mais grave é que ele está se confirmando com uma velocidade ainda maior do que a prevista. Wallace é jornalista e trabalha como editor da New York Magazine desde 2011. Para escrever o livro, ele consultou cientistas de todo o mundo. Das quase 400 páginas, mais de 100 são de referências científicas.

Não é produtivo alarmar, mas, ao mesmo tempo, enfiar a cabeça na alienação do problema, num ardil de avestruz, só agravará a questão. Precisamos nos conscientizarmos do desafio da maneira mais realista possível e agirmos com toda a urgência: “É pior, muito pior do que você imagina”, escancara o autor: “O ritmo lento atribuído à mudança climática é um mito, talvez tão pernicioso quanto aquele que nega sua existência.”

Calor letal, fome, inundações, incêndios, piora na qualidade do ar, desertificação, morte dos oceanos, colapso econômico, lista David: “Essa é só uma amostra do que está por vir. E virá rápido. Se não revolucionarmos completamente a maneira como bilhões de seres humanos vivem, grande parte do planeta se tornará inabitável até o fim deste século.”

Vejamos um trecho sobre as enchentes, que mataram mais de 100 pessoas e desabrigaram mais de 1.000 na Alemanha. “Até 2.100, se não detivermos as emissões de carbono, pelo menos 5% da população mundial sofrerá com enchentes todo ano.” Segundo cientistas, a se manter o cenário atual, a quantidade de dias mais quentes poderia aumentar mais de 100 vezes até 2080.

É esse o mundo que legaremos a nossos filhos e a nossos netos? Se quisermos mudar esse cenário precisaremos lutar muito. Temos as ferramentas necessárias. Lideranças mundiais e segmentos importantes já acordaram para o problema. O bilionário Bill Gates é um dos ativistas do desaquecimento global. Biden também está alinhado. Os acionistas de fundos bilionários fazem pressão contra o desmatamento das florestas brasileiras.

Mas os políticos brasileiros ainda estão alienados. Não escaparão das consequências desastrosas. Daqui para frente, não é mais possível votar em um candidato que não tenha efetivo compromisso com o meio ambiente. Em um cenário como esse, as Forças Armadas não podem permanecer omissas e apoiar a política de exploração predatória das florestas dos índios por garimpeiros.

Nós temos os meios para mudar o nosso destino, mas já estamos em contagem regressiva dramática. É preciso agir com o sentimento de urgência.