Crônica da Cidade

Saia da bolha, Congresso!

O Congresso Nacional e, de maneira especial, a Câmara dos Deputados, vive dentro da bolha do orçamento, da bolha do orçamento secreto e da bolha do fundão. Está de costas viradas para o Brasil, para os interesses da nação e do povo brasileiro. A campanha do voto impresso é uma tentativa de golpe, que só prosperou até aqui graças à pusilanimidade do presidente da Câmara, Artur Lira, que posa de machão nordestino, mas age da maneira mais servil e irresponsável.

Ao alugar a consciência para o governo, o Centrão coloca em risco a democracia. Essa proposta de voto impresso é uma farsa que não resiste à menor análise racional. Nosso presidente macaqueia Donald Trump e prepara um golpe anunciado. Todos já viram esse filme e no que ele vai resultar. Quem se omite autoriza o golpe.

Contra todas as evidências, Trump alardeou fraudes nas eleições para presidente nos Estados Unidos, mas é um mentiroso de carteirinha e nunca provou nada. É interessante porque, nos EUA, teria havido fraude, porque o voto é impresso, enquanto, aqui, a suposta maracutaia decorre do fato de que o voto é eletrônico.

Nas últimas eleições para a presidência dos EUA, nós vimos como o sistema de votação norte-americano é uma carroça perto do brasileiro, reconhecido internacionalmente como uma referência de funcionalidade, de agilidade e de segurança. O presidente brasileiro mente de maneira deslavada ao afirmar que só o voto impresso é auditável. O voto eletrônico é auditável.

Como disse uma postagem do STF, uma mentira propagada mil vezes não se transforma em verdade. Está claro que o voto eletrônico é apenas pretexto para uma farsa e uma ameaça à democracia. Para o presidente, se ele não ganhar a eleição, só pode ter havido golpe. Isso só é possível porque ele dispõe de uma poderosa máquina da mentira, que precisa ser estancada.

Qual é a prioridade do voto impresso quando mais de 14 milhões de brasileiros estão desempregados; quando outro tanto de cidadãos luta, diariamente, para ter algo no prato para comer; quando falta vacina e sobram indícios de propina; quando as nossas florestas são devastadas, enquanto o planeta fica mais quente e sofre as consequências apocalípticas do aquecimento global?

Quem apoia o voto impresso é golpista ou covarde. Repito: nada disso prosperaria se o Congresso Nacional não fosse tão omisso e irresponsável. Engana-se quem acha que vai se dar, necessariamente, bem em uma ditadura. Juscelino e Carlos Lacerda apoiaram o golpe militar de 1964 e, logo em seguida, foram cassados e relegados ao ostracismo. Tudo pode acontecer sob a órbita do arbítrio.

O parlamento brasileiro deveria demonstrar, hoje, na votação do voto impresso, que não é constituído apenas por invertebrados que se curvam às bravatas de falastrões e, ao quedarem genuflexos aos desejos dos candidatos a ditadores de republiquetas de banana, humilham toda a nação. Espero que o parlamento tenha um gesto de dignidade e sepulte, de uma vez por todas, essa palhaçada do voto impresso.

E, com isso, abra espaço para o debate sobre as verdadeiras questões relevantes para a nação brasileira, neste momento tão dramático. Saia da bolha, Artur Lira. Honre a origem nordestina. Saiam da bolha do orçamento, excelências. Vossas senhorias nos representam. Não se acovardem, tenham dignidade.