Ser pai pela primeira vez é uma mistura de sentimentos e mudanças radicais na vida de um homem. Não existe manual com regras para seguir. É nas noites em claro e nas primeiras descobertas que se aprende a ser pai. Mas, o que antes não tinha receita, agora está ainda mais incerto: a pandemia chegou, e o cuidado com os filhos tornou-se uma experiência mais profunda.
Enfrentar a paternidade durante a pandemia é um desafio, uma vez que tarefas simples, antes consideradas benéficas, passaram a ser um risco e um vetor de contágio. Para quem sempre sonhou em ser pai e conseguiu realizar a meta, ou foi surpreendido com a notícia durante a pandemia, as mudanças foram inevitáveis: visitas precisaram ser reduzidas; a rede de apoio de avós, tios e amigos ficou restrita. Por isso, os papais de primeira viagem tiveram que se encontrar em meio à nova realidade.
Para encarar a paternidade, muitos optam em seguir exemplos. É o caso do empreendedor Jonata Diniz Monteiro dos Santos, 30 anos, que segue os passos de Waldir, seu avô. Ele conta que é filho de pais divorciados e, após passar pela ruptura familiar, foi morar com os avós durante um tempo. É para Waldir que Jonata atribui o crédito de se tornar um pai dedicado. “Ele criou 12 filhos, e pude aprender o que é ser pai com ele”, diz.
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Há um mês, nasceu o primogênito do empreendedor, Matteo. Ele lembra que receber a notícia durante a pandemia foi difícil, uma vez que estava desempregado. “Bateu um desespero, mas precisei encarar a realidade”, ressalta.
Foi Matteo que impulsionou o pai a mudar de vida. Jonata iniciou novos negócios e, hoje, gerencia duas empresas. “Foi por ele que me tornei uma pessoa melhor, mais dedicada. O Matteo abriu a minha mente, me fez tirar uma força de onde achei que não tinha. Hoje, não falta nada para o meu filho. Tenho uma vida melhor do que antes”, garante. Com Matteo, nasceu também um pai dedicado. “Passei a me planejar, organizar a minha vida. Tudo por ele”, afirma.
Mais presente
Em 18 de maio, o técnico de manutenção em celulares Jobson Ferreira Calixto, 30, iniciou uma nova fase: sua primogênita, Aurora, nasceu. Ser pai sempre foi um sonho para ele, por isso, fez um planejamento com sua companheira, a psicóloga Anna Karolyna de Almeida, 25, para terem o primeiro filho. “Nós não estávamos imaginando que isso fosse acontecer na pandemia. Pensávamos que, após um ano, tudo ia ficar bem, mas não foi o que aconteceu”, admite.
Jobson explica que, a partir do momento em que recebeu a notícia da paternidade, fez questão de estar presente. “Acompanhei desde o início da gravidez, até o parto. Talvez, se não fosse a pandemia, eu não teria essa oportunidade. Foram horas de sessão, mas quando a vi… É um sentimento que não tem explicação. É uma sensação de paz, porque ela veio no momento certo”, desabafa. “Minha ficha só caiu quando eu a peguei no colo pela primeira vez, no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Eu chorei, foi uma explosão de sentimento”, emociona-se.
Companheirismo
O gerente Maurílio Correa Marques Irineu, 25, iniciou a sua trajetória como pai há dois meses, quando nasceu Maria Agnes. Casado há um ano, o presente foi a chegada da filha. Após um mês da cerimônia, a família descobriu que estavam grávidos. Católico, Maurílio diz que a menina foi aguardada por todos. “A notícia foi muito feliz, era algo que a gente estava esperando”, celebra.
Cada relação é excepcional e única, assim como entre pais e filhos. Para o farmacêutico Lucas Franco Faria, 27, esse laço é baseado no companheirismo. Casado com a farmacêutica Thalia Maria Faria, 24, ele adianta que a chegada da filha, Anna Luísa, cinco meses, não foi planejada. “Eu acho que fiquei de cama por uns dois dias quando descobri, tentando assimilar”, brinca.
Ele trabalha em um hospital, então a pandemia não possibilitou que acompanhasse a gravidez. “Meu trabalho intensificou. Assim como o medo. Eu ficava receoso de chegar em casa e contaminá-las. Então, sempre tomava todo o cuidado, até porque, toda a nossa rede de apoio estava distante. A Thalia passou todo o processo de gravidez dentro de casa”, afirma. Para eles, foi difícil. “A gente queria sair, se reunir com a família e os amigos, comemorar a chegada da Anna. Mas não era possível. A pandemia tirou, de certa forma, a nossa liberdade”, lamenta Lucas.
De acordo com o papai estreante, a medida que Anna descobre coisas novas, ele também vive os seus aprendizados. “Eu sempre quis ser pai, sempre fui muito de família, mas tinha muito medo de cuidar, de pegar, de fazer algo errado. A gente fica em uma neura sem fim. Assim que ela nasceu, fizemos um combinado com a minha sogra de que ficaríamos na casa dela, e assim foi. Ainda bem que tivemos esse apoio, porque conseguimos aprender muito nesse tempo. Agora, sabemos até ninar, algo que não tínhamos nem ideia antes”, pontua.