E-mail de aviso

Crônica da Cidade

Tenho por princípio não abrir e-mails de correntes, mensagens edificantes e similares desde que, aos 12 ou 13 anos, descobri, do pior modo, que revelar o nome da garota amada em uma engenhoca maléfica denominada Calculadora do Amor não era um bom negócio. Apesar disso, a missiva digital que reluziu na minha tela hoje criou em mim um efeito estranho.

O título, em caixa-alta e negrito, trazia a seguinte inscrição: “MAIS UMA PRAGA NO PLANETA TRAZENDO MORTE!”. Inicialmente, permaneci sóbrio. Pensei, olhos postos no relógio do canto da tela: “Mais asneiras para roubar nosso precioso tempo”. Por alguns instantes, cogitei enviá-lo, com requintes de crueldade, ao diretório reservado aos terríveis spams. Não foi o que fiz. Observei mais uma vez o enfático título e me enterneci.

Algum sentimento nobre, adormecido nos recônditos de mim, emergiu e voltou à vida com intensidade suficiente para me levar à lona. Compreendi, dentro daqueles segundos eternos, que poderia eu, ao não abrir a mensagem de alerta, ser responsável pelo fim de toda a humanidade. Quem, com o mínimo de coração, permitiria o surgimento de uma nova praga ou a disseminação dela durante a pior pandemia de todos os tempos? Já nos bastam os atuais problemas.

Senti que tinha a obrigação moral de não só abrir o e-mail, mas fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para impedir que o mal se espalhasse. Felizmente, na primeira leitura, descobri que não se tratava de um novo vírus nem era algo relacionado à saúde. Um pouco de alívio me preencheu, e chequei novamente a data da segunda dose da minha vacina contra a covid-19.

Quando estava prestes a fechar o e-mail, resolvi ler novamente o arquivo. Fiquei preocupado. O texto tinha um estilo forte. Palavras duras ganhavam destaque com o uso de cores vermelhas, de negrito e de muitos pontos de exclamação. A pessoa que escreveu o texto queria chamar muito a atenção. Geralmente, esse tipo de recurso me entedia, e o natural seria que eu nem desse bola. Mas havia algo diferente.

Talvez não fosse o texto que estivesse diferente. É possível que o tempo de pandemia tenha me tornado mais suscetível a esse tipo de apelo. Sem dúvidas, fiquei mais paranoico, redobrei cuidados e passei a derrubar lágrimas ao ouvir histórias de superação em reality shows de baixa qualidade. Talvez, tudo isso tenha aberto meu coração para a mensagem. Tenho vergonha de contar o que estava escrito. Agora, horas depois do acontecido, percebo um pouco do ridículo da situação. Estou com a mensagem aberta. Leio novamente. Um pouco de medo começa a aparecer. Cá, entre nós, vou apagá-la. Por favor, não contem nada disso a ninguém.