INVESTIGAÇÃO

Preso piloto de helicóptero

Terceiro sargento do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro confessou que foi contratado para pilotar a aeronave que caiu no Pantanal com cerca de 300kg de cocaína. Aparelho é um dos cinco em nome de policial civil do DF

O piloto do helicóptero que caiu, no último domingo, na região de Poconé (MT), com cerca de 300kg de cocaína, foi preso na quarta-feira, no município mato-grossense. Em depoimento à Polícia Civil de Mato Grosso, o terceiro sargento do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) Alberto Ribeiro Pinto Junior, 45 anos, confessou que havia sido contratado para pilotar a aeronave, que está registrada no nome do papiloscopista da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Ronney José Barbosa. Ele alega ter vendido o aparelho. O policial do DF tem outros quatro helicópteros.

Em entrevista ao Correio, o delegado da Polícia Civil Maurício Pereira, da cidade de Poconé, afirmou que o homem foi encontrado em uma região de mata, deitado no chão, com sede e debilitado. A equipe do Corpo de Bombeiros da cidade apagava um incêndio nas proximidades do local do acidente, quando avistou Alberto próximo ao helicóptero. Inicialmente, ele disse aos militares que era mecânico e que estava atrás de peças para vender. Os bombeiros suspeitaram da versão, encontraram indícios de que ele havia colocado fogo na mata e o conduziram para a delegacia.

Durante o trajeto, o investigado confirmou que foi contratado para pilotar a aeronave e que ele e sua família estavam sendo ameaçados. O homem tentou coagir os bombeiros para que o soltasse e acabou detido em flagrante em decorrência dos crimes de incêndio e corrupção ativa.

“Além da prisão em flagrante pelos crimes de incêndio em lavoura ou pastagem e corrupção ativa, ainda foi expedido contra o suspeito o mandado de prisão temporária, representado pela Polícia Federal, em razão do tráfico internacional de drogas. Ele confessou em depoimento que pilotava a aeronave, mas o caso segue com a Polícia Federal”, relatou o delegado Maurício Pereira. O Correio entrou em contato a Polícia Federal e o Corpo de Bombeiros do RJ, mas, até o fechamento desta edição, as corporações não haviam se pronunciado.

Relembre o caso

O helicóptero modelo Robson R44 caiu em uma fazenda, na região do Pantanal mato-grossense, no último domingo. A equipe do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) avistou a aeronave praticamente destruída. Em buscas na área, a equipe não encontrou vítimas a bordo nem indícios de feridos. No entanto, achou 278,5 kg de cocaína, avaliada em quase R$ 7 milhões.

Agentes da Polícia Federal, com o apoio do Grupo Estadual de Segurança na Fronteira (Gefron) da Polícia Militar de Mato Grosso (PMMT) e do Ciopaer, encontraram a aeronave durante operação que visa combater uma organização criminosa envolvida em tráfico internacional por meio aéreo.

O helicóptero está registrado em nome do papiloscopista da PCDF Ronney José Barbosa. Após o acidente, o Correio entrou em contato com ele, que alegou ter vendido a aeronave em 25 de maio. Citou, ainda, o nome do comprador. “Vendi e não transferiram. (Isso) está me dando uma dor de cabeça”, afirmou.

Cinco helicópteros

Consta no sistema da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que Ronney possui em seu nome cinco helicópteros, adquiridos entre 2002 e 2021. Um não tem o fabricante registrado no sistema da Anac e outro, do modelo Mike Seymour Exec 162F, não teve o valor estimado. Uma é do modelo Robinson R22, com preço base de cerca de R$ 2,2 milhões. As duas restantes são do modelo Robinson R44, incluindo a que caiu no Pantanal, e podem custar cerca de R$ 3,8 milhões, segundo levantamento feito pelo Correio. Ontem, a reportagem retomou o contato com policial civil, que não quis se pronunciar sobre as aeronaves. Perguntado se possui advogado, ele declarou: “meu advogado é Deus”.

O documento da aeronave que transportava cocaína está vencido há quatro anos. A aeronave tem registro particular e não pode ser usada para fins comerciais. Ela possui capacidade para transportar até três passageiros, além do piloto, e carga máxima de 340 kg. O caso segue sob investigação da Polícia Federal de Mato Grosso, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT), e da Polícia Civil do DF.

Para o presidente da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves (Aopa Brasil), Raul Marinho, uma única pessoa pode ter cinco helicópteros registrados nominalmente, desde que esteja com as aeronaves regularizadas para uso comercial, o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA). “Isso não pode acontecer no caso de pessoa física. Uma empresa de táxi aéreo poderia, por exemplo, arrendar esse helicóptero e utilizá-lo numa operação de transporte de passageiros, desde que ela fosse inspecionada e autorizada para isso. Mas não foi o caso. Nada impede que uma pessoa tenha cinco aeronaves, assim como cinco carros. Tem algumas aeronaves, que estão no nome do Ronney, que não são certificadas. São chamadas de aeronaves experimentais. Essas não poderiam de maneira alguma serem utilizadas para operações comerciais. O helicóptero que caiu poderia, se fosse o caso”, analisa o especialista.

Colaborou Pedro Marra

 

 

 

Golpes contra servidores do DF

Quatro pessoas suspeitas de integrarem um grupo criminoso que aplicava golpes em servidores do Distrito Federal foram presas, ontem, pela Polícia Civil, na Operação Shark. As vítimas eram idosos e aposentados que possuem ou possuíram empréstimos consignados, mas que ainda tinham margem para novos empréstimos. Durante a ação, foram apreendidos notas de dólares e euros, relógios e cartões. Além do DF, a ação também ocorreu nos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e em Pernambuco. Cerca de 19 mil euros, 8 mil dólares, joias, relógios, cartões, aparelhos de telefone celular e documentos foram apreendidos pelos agentes na operação.