As Olimpíadas deste ano revelaram grandes talentos brasileiros no esporte, mas também serviram para trazer ao pódio um debate sobre a saúde mental. Apesar do grande foco do tema nos jogos de Tóquio, Esther Duarte, coordenadora da Comissão Especial de Psicologia do Esporte e do Exercício do Conselho Regional de Psicologia (CRP1), explica que essa cobrança sempre existiu. “Mas quando chegam os jogos olímpicos e paraolímpicos todos os olhos estão voltados para os atletas. E existem as cobranças e expectativas pessoais, mas também da família, do treinador e patrocinador. Dependendo da modalidade, são segundos para o atleta mostrar que se preparou durante os quatro anos”, explica.
Esther destacou que a surpresa do público em relação a grandes atletas com ansiedade ou depressão veio porque muitas vezes o esporte está associado à saúde. “No entanto, antes de sermos atletas, estamos falando de um ser humano, que sente todas as emoções que sentimos”, pontua. A coordenadora do CRP1 foi a convidada desta quinta-feira (5/8) do CB Saúde — uma parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília —. Ela foi entrevistada pela jornalista Carmen Souza.
A psicóloga comentou o caso de Simone Biles, ginasta norte-americana que desistiu das finais do individual geral e de quase todos os aparelhos da ginástica artística nas Olimpíadas. “Provavelmente ela já vinha com questões pessoais e emocionais que estava lidando até chegar nesse ponto, onde decidiu parar e se priorizar. O atleta se colocar em primeiro lugar é um avanço, uma coragem muito grande”, afirma.
A cobrança é agravada no caso das mulheres, que também sofrem com a pressão sobre o corpo. “Às vezes, no mesmo esporte e modalidade, temos premiações diferentes para homens e mulheres. Como tivemos o futebol feminino protestando e pedindo mais visibilidade. E além da atleta pensar no seu rendimento, o público quer que ela se adeque ao padrão esperado por ele. É uma cobrança que existe sobre as mulheres há muito tempo, mas é sobre um corpo irreal”.
Desafios
Esther explica que, mesmo que os profissionais entendam que não precisam se importar no posicionamento do público, isso é um processo que leva tempo. “Trabalhar isso é um processo de aceitação, de auto conhecimento. Entender que fez o máximo, que está na sua melhor forma e que deu tudo que tinha naquele momento”, frisa.
A especialista conta que se entristece com algumas situações presenciadas nos jogos. “Eu vejo atletas pedindo desculpas quando perdem. Mas é assim, ele não tem que pedir desculpas. Para chegar em uma Olímpiada não é fácil, e ele já está ali. Deu o seu melhor. É muito triste a pessoa se dedicar e ver nas redes sociais os diversos comentários cruéis das pessoas, que não entendem que do outro lado existe outra pessoa, que se dedicou, se esforçou e treinou para estar ali”, finaliza.