O primeiro dia de vacinação contra a covid-19 para a população a partir de 30 anos no Distrito Federal foi marcado por grandes filas e longas esperas. Apesar disso, os brasilienses não desanimaram, e a capital federal bateu um novo recorde total de aplicações em um dia. Balanço da Secretaria de Saúde mostra que 74.962 pessoas receberam a primeira dose dos imunizantes; 10.629, o reforço; e 319, a dose única da Janssen. No total, 85.910 moradores do DF foram vacinados. Nesta quarta-feira (4/8), a campanha de continua para essa faixa etária, das 8h às 17h, em 79 pontos de atendimento (veja Mudanças). Às 14h, será aberto o agendamento para adolescentes de 12 a 17 anos com comorbidades se imunizarem.
O tempo médio de espera para receber a vacina ficou entre três e quatro horas nas unidades básicas de saúde (UBS), onde o atendimento era apenas para pedestres. No drive-thru do Parque da Cidade, no Estacionamento 13, a fila de 2km de veículos chegou até o Pavilhão de Exposição. Mesmo com o início da vacinação marcado para as 8h, muitos madrugaram. Na UBS 2 da Asa Norte, na Quadra 114/115, quem chegou às 6h encontrou cerca de 100 pessoas aguardando. A cientista política Ludmila Castro, 34 anos, pediu para o marido Tomás Macedo, 36, esperar na fila enquanto ela terminava de se arrumar. Imunizada, Ludmila não escondeu a felicidade. “É um alívio, uma sensação indescritível. E, agora, continuar usando máscara, manter todos os cuidados necessários”, ressalta.
Na mesma UBS, Lorena Barros, 33, e Kássio Rangel, 32, decidiram se fantasiar de jacaré como uma brincadeira e protesto à declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro, em dezembro do ano passado, quando o mandatário alegou que quem tomasse a vacina iria virar jacaré. O casal estava acompanhado da amiga Yana Pimenta, 32, que colocou uma blusa em que estava escrito “vacinadah”. Os três foram preparados para a longa espera, com cadeiras e lanches. “Nós fomos os últimos do grupo de amigos a receberem a vacina, porque muitos deles foram se vacinar em outros estados. Preferimos aguardar a nossa vez aqui”, revela Lorena.
O infectologista Leandro Machado defende que, apesar das filas, a forma de atendimento sem o agendamento é a melhor opção para grandes grupos, como no caso das faixas etárias. “O número de pessoas vacinadas diariamente sem a necessidade de um agendamento prévio é muito grande. Assim, a vacinação consegue chegar a mais pessoas com mais rapidez. Além disso, o agendamento excluía algumas pessoas, como as que não tinham internet tão boa ou tempo para ficar atualizando a página”, argumenta.
O especialista ressalta que é importante seguir com os cuidados não farmacológicos, como o uso de máscaras e o distanciamento social. “Todos têm que colaborar para isso (fim da pandemia). O risco de se contaminar na fila de uma unidade de saúde é o mesmo de quando se vai ao shopping ou a um restaurante. Por isso, a máscara e a distância entre as pessoas são essenciais”, alerta Leandro.
Vulneráveis
O governador Ibaneis Rocha (MDB) ampliou, nessa terça-feira, o número de vagas disponíveis para adolescentes de 12 a 17 anos com comorbidades agendarem a vacinação contra o novo coronavírus. Ao Correio, o chefe do Executivo local afirmou que seriam 5 mil vagas no total e não 3 mil, como anunciado anteriormente. “Temos espaço para isso”, disse. O agendamento para esse público será aberto às 14h desta quarta-feira no site vacina.saude.df.gov.br. O atendimento será amanhã e sexta-feira.
O GDF acrescentou mais doenças à lista de comorbidades a serem contempladas nesse público. De acordo com a Secretaria de Saúde, serão atendidos adolescentes com Síndrome de Down; autismo; deficiência física, visual, mental ou auditiva; e deficiência múltipla. Para a vacinação dos adolescentes com autismo ou com deficiência, será necessário apresentar relatório médico ou outro documento que comprove a condição como carteirinha ou registro.
No ato do agendamento, o sistema da Secretaria de Saúde vai reconhecer, por meio do CPF do usuário, se ele é portador de alguma comorbidade no caso de haver registro de atendimentos no SUS. Não havendo esse reconhecimento, o usuário poderá se cadastrar, no entanto, deverá apresentar um laudo médico — no caso, aqueles com autismo — quando for vacinar.
A infectologista Joana Darc Gonçalves considera que a vacinação desses jovens é importante para o combate à pandemia e afirma que, assim como foi feito com os adultos, é preciso privilegiar os mais debilitados. “O adolescente, em geral, tem uma característica de se arriscar mais e obedecer menos às regras. Então, vaciná-los é essencial. Claro que depende da quantidade de vacina que se tem, mas, quando se tem a quantidade adequada, tem que se priorizar os mais vulneráveis”, diz.
Doses extras
O GDF desistiu da ação judicial que movia no Superior Tribunal de Justiça (STJ) requisitando que o Ministério da Saúde enviasse 292 mil doses extras de vacinas contra a covid-19 para a capital federal. A oficialização da desistência foi protocolada nessa terça-feria, após o ministério sinalizar que vai enviar 290.055 doses extras — das quais 90 mil foram entregues. “O saldo remanescente visando o atendimento pleno das 290.055 mil doses, serão enviados nas próximas duas pautas de distribuição”, detalha um dos documentos obtidos pelo Correio. Quando os imunizantes chegarem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) espera ampliar a campanha para pessoas a partir de 25 anos.
Três perguntas para
Eliana Bicudo, infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI)
Por que a média móvel de casos e de mortes não cai com mais rapidez?
A gente vê uma pequena queda nos números absolutos. Porém o valor das médias não vai cair expressivamente, porque ainda temos o vírus circulante e mutações dele. Além disso, temos grande parte da população economicamente e socialmente ativa, os jovens e adultos até uns 40 anos, sem a imunização completa ou até sem a primeira dose. Então, essas pessoas, principalmente as que vão para festas ou que não se cuidam, fazem com que o vírus circule e com que as médias fiquem mais estáveis ou sem queda significativa.
Há risco de uma nova onda devido a pessoas que recusam a vacina?
Eu não consigo dizer qual o quantitativo de pessoas que se recusam a se vacinar no Brasil, muito menos no DF. É um dado que deveríamos ter, até para controle da situação. Mas sim, a recusa aumenta o número de casos. Só não podemos dizer, ainda, que teremos um novo pico como o registrado em março e abril deste ano. Só posso dizer que é triste termos pessoas que seguem essa premissa de não se vacinar. As vacinas são seguras e são a única forma de combate à covid-19 que temos atualmente.
A imunidade de rebanho está longe de ocorrer no DF?
Primeiro, preciso dizer que, pessoalmente, não gosto dessa definição porque, na verdade, vírus que são transmitidos por contato ou por vias aéreas — como é o caso da covid-19 — só são controlados com vacinas. Com a imunidade coletiva, que seria atingir mais de 50% da população com o ciclo vacinal completo, o vírus vai continuar circulando, mas, aqueles que não estão vacinados têm menos chances de pegar a doença devido à vacinação dos outros. No entanto o vírus ainda estará circulando. No DF, não estamos tão longe desta realidade, mas não podemos relaxar.
Erramos
Ao contrário do publicado nesta página, na edição de terça-feira, o paciente infectado pela variante Delta e internado no Hospital da Criança de Brasília José de Alencar (HCB) não morreu. O menino de 6 anos permanece na unidade de terapia intensiva (UTI), sob cuidado das equipes de saúde e em um leito isolado.
Mudanças
Três pontos de vacinação tiveram alterações. Confira como fica o atendimento neles. Nos outros 76, a aplicação de vacinas segue igual a terça-feira
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Administração Regional da Fercal (2ª dose) — Pedestre
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