A menos de quatro dias para o retorno presencial das aulas da educação infantil, pais de diversos estudantes da rede pública ainda se sentem inseguros e insatisfeitos com a decisão do Governo do Distrito Federal. A volta à escola, de forma escalonada, suscita diversos questionamentos e, se por um lado há quem aguarde ansioso pelo início das aulas, alguns responsáveis se organizam para pedir pelo direito de escolher se mandam ou não os filhos para o colégio neste momento.
O anúncio da Secretaria de Educação de que adotará medidas de higienização adequadas e de que os alunos estarão em número reduzido nas salas, indo para a escola em semanas intercaladas e com horário reduzido, não tranquilizou Alex Nazaré, 43 anos, empresário e pai de duas alunas da Escola Classe 304 Norte e Escola Paulo Freire. Ele integra o movimento que é contra a obrigatoriedade do retorno presencial e já reuniu 2,5 mil signatários em um abaixo-assinado. O grupo também direcionou documentos para deputados distritais, Secretaria de Educação e até para o governador Ibaneis Rocha (MDB). Eles defendem que o alto índice de contaminação pelo Sars-CoV-2 na capital federal e a chegada da variante Delta, identificada pela primeira vez na Índia, apresentam riscos para os estudantes.
“Até o momento, não tivemos informações de como está a vacinação dos outros profissionais que compõem a escola, como merendeiras, os serviços gerais e terceirizados. E, com a pandemia nesse descontrole, um índice tão alto de casos e a chegada de uma variante mais contagiosa (Delta), isso deveria ser um alerta para as autoridades. Além disso, falta um diálogo com os pais. O governo não conversou conosco para que falássemos da nossa realidade”, destaca Alex.
Outra mãe contrária ao retorno presencial é Poliana Nogueira Peixoto, 42, moradora de Sobradinho. A filha de 11 anos dela estuda no Centro de Ensino Fundamental 5 da região administrativa. “O governo sequer nos escuta para que possamos dizer o que achamos dessas decisões. Não são apenas as aulas presenciais. Isso vai aumentar o número de pessoas nos ônibus, porque muitos estudantes precisam do transporte coletivo. E, até agora a Secretaria não disse como será com os alunos especiais. Como o professor vai convencer uma criança autista, por exemplo, a ficar quatro horas com uma máscara? Eu, sinceramente, não quero ter de enterrar ninguém. Não quero que minha filha seja contaminada nem contamine um coleguinha ou algum professor”, desabafa.
Ana Passos, 40, moradora da Asa Sul e servidora pública, pontua que os protocolos anunciados pelas escolas não a deixaram segura. O filho dela tem 6 anos e estuda na Escola Classe 308 Sul. “O governo está focado na limpeza de superfícies da escola, no álcool em gel, em medir a temperatura, mas apenas isso não é suficiente contra essa doença. Ficar quatro horas dentro de uma sala com um vírus que é transmitido por aerossol é extremamente perigoso. Como vão fazer para os pequenos cumprirem essas recomendações? E na hora do lanche, por exemplo? Todos vão tirar as máscaras para comer, na sala fechada, e o vírus vai ficar no local”, observa.
Prejuízo
Para a vendedora autônoma e moradora do Santa Maria Andreia Correia Santos, 32, é uma questão de avaliar como será o retorno, porque as crianças estariam em prejuízo fora das escolas. Ela destaca que enviará a filha e nos primeiros dias verificará se é seguro. “Ela tem 6 anos de idade e está em fase de alfabetização. Sinto que está muito prejudicada nesse período de pandemia. Eu não tenho a formação de um professor nem estou preparada para alfabetizar uma criança. Minha filha está em desvantagem longe do ensino presencial”, afirma. Apesar da intenção de permitir o retorno da filha, Andreia complementa: “minha prioridade é a segurança dela. Terei de ver como ficam esses primeiros dias e, se eu sentir que vai ser arriscado, deixo de mandá-la imediatamente”, assegura.
A moradora do Recanto das Emas, Jéssica Honório da Silva, 30 anos, diz que levará a filha de 9 anos para a escola. “Não recebi qualquer informação sobre como funcionará caso as crianças não sejam enviadas. Vou mandá-la, até porque ela está bem animada para rever os coleguinhas e professores. Mas orientei sobre o uso de máscaras, álcool em gel e sobre o distanciamento. Estudar em casa também se tornou muito difícil para eles, porque, por mais que insistamos, o rendimento não é o mesmo”, destaca.
Sabrina Barbosa Lima, 29, moradora do condomínio Porto Rico conta que os seis filhos em idade escolar irão para o ensino presencial. “Tem um monte de menino correndo na rua, um monte de gente no bar, por que não vão para a escola? Meus filhos estão todos animados, querendo ir para o colégio de novo. Essa pandemia também foi muito difícil. Os professores pediam diversas atividades, e era difícil ter material para todos os filhos. Qualquer coisa diferente, uma fantasia ou um exercício com outra abordagem, exigia um gasto a mais”, relata.
A merendeira Cacilda Alves Soares, 40, moradora do Núcleo Rural Taquara, conta que a notícia do retorno foi motivo de festa para a filha de 13 anos. Mesmo assim, a mãe está preocupada. “Ela está louca para voltar, mas ela convive com a avó, que é idosa, porque eu e meu esposo precisamos trabalhar. Não sei como vou fazer. Vai que ela pega covid-19 e contamina as outras pessoas? Ela diz que vai se cuidar, que vai levar máscaras na bolsa para ficar trocando, que vai usar álcool em gel, mas nunca se sabe, né? Quero muito que ela volte, mas tenho de ponderar”, diz.
Posicionamento
O Correio entrou em contato com a Secretaria de Educação para questionar o protocolo adotado caso os pais não enviem os filhos para as aulas presenciais. Em nota, a pasta explicou que “a criança que não comparecer à escola, sem causa justificada, terá a ausência registrada e, a partir daí, entrará em contato com a família para esclarecer a situação e conclamar o retorno”. Em caso extremo, serão acionados os órgãos públicos responsáveis pela tutela das crianças.
Colaborou Ana Maria da Silva