Quando Dom Bosco sonhou — há 138 anos — com uma cidade construída às margens de um lago, não imaginava que as águas, um dia, receberiam uma procissão em homenagem a ele. Em 1883, o santo italiano recebeu a revelação do local de onde nasceria uma nova e revolucionária civilização. Para celebrar o aniversário da visão que inspirou a construção da capital federal, a Secretaria de Turismo do Distrito Federal (Setur) e a Arquidiocese de Brasília retomaram, nesse domingo (30/8), a Procissão Náutica de Dom Bosco, no Lago Paranoá, que não ocorria desde 2011.
O cortejo fez parte das celebrações ao santo, que começaram horas antes no Santuário São João Bosco, na 702 Sul, de onde saiu uma carreata em direção à Ermida Dom Bosco, no Lago Sul. Antes da procissão, o Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar, celebrou a tradicional missa campal, que ocorre anualmente em homenagem ao padroeiro de Brasília. O tributo não poderia ocorrer em outro lugar que não a Ermida Dom Bosco, primeira construção de alvenaria de Brasília. De costas para o Lago Paranoá, o pároco preparou as águas para receber o desfile santo e falou aos cerca de 430 presentes — entre eles, o governador Ibaneis Rocha (MDB).
As medidas de segurança contra a covid-19 foram seguidas à risca durante as celebrações. No culto, as cadeiras estavam distantes um metro umas das outras e em cima de cada uma havia um frasco de álcool em gel. Todos os presentes permaneceram de máscara no evento, acomodados embaixo de quatro grandes tendas com as laterais abertas. “Depois de 10 anos, esse passeio é retomado em um dia importante para Brasília, no qual celebramos Dom Bosco e o sonho sobre essa região, que Juscelino deu forma quando construiu a capital. Essa visão relembra a nós que é preciso sonhar grande como o santo. Uma sociedade vislumbra seu futuro quando homens e mulheres sonham”, profetizou o arcebispo.
Surpresa
Gorete Oliveira, 50 anos, frequenta a Paróquia São João Bosco do Núcleo Bandeirante, região onde mora, e participa da missa campal em homenagem ao santo italiano todos os anos. A administradora estava na última procissão náutica feita em homenagem a Dom Bosco, em 2011, mas, neste ano, Gorete frequentou apenas o culto. A fiel acompanhou o embarque do cortejo da orla. “Está tudo muito bonito”, elogiou. Apesar de ser evangélico, Wilson Costa, 60, acompanhou Gorete durante a missa. “Não tenho nenhum tipo de preconceito, graças a Deus”, ressaltou o comerciante. Wilson, também morador do Núcleo Bandeirante, elogiou o sermão do Arcebispo Dom Paulo Cezar. “A mensagem foi espetacular e muito inspiradora. O bispo falou sobre a importância da interioridade, e não da exterioridade. Palavras muito felizes”, destacou.
Por volta das 11h30, a procissão náutica saiu do deck da ermida em direção à Ponte JK, onde o arcebispo concedeu uma bênção. O veículo clerical conduzia o desfile, com a imagem de Dom Bosco na proa. Cerca de 30 embarcações, entre barcos, lanchas e catamarãs, participaram do cortejo sagrado. O governador Ibaneis acompanhou parte do desfile, conduzindo a própria lancha. Minutos antes da largada das embarcações, a organização do evento convidou as pessoas que assistiam às comemorações para um dos catamarãs da procissão. Uma das sortudas que embarcou foi a estudante Thays Elene, 39. A maranhense está visitando uma tia que mora no Entorno do DF, e as duas decidiram passar o dia na Ermida Dom Bosco e fazer um piquenique às margens do Lago Paranoá.
"Foi a primeira vez que fiz um passeio de barco no lago. Achei impressionante. Eu não sabia que a procissão ocorreria e, quando chegamos, a missa já tinha acabado. Estávamos perto quando convidaram para entrar”, contou Thays. A tia, Célia Maria Silva, 51, também passeou de barco pela primeira vez no lago. A moradora de Valparaíso foi surpreendida com o convite. “Tivemos a sorte de participar. Gostei muito”, comentou a autônoma.
Nem todos que participaram do evento foram pegos de surpresa. A aposentada Giseuda Batista, 57, ouviu sobre a procissão durante uma missa no Santuário São João Bosco, na 702 Sul. “Não frequento (o santuário), mas vou de vez em quando. Vim para a missa, mas queria mesmo era ver o desfile. Eu já tinha feito passeio de barco no lago, mas foi minha primeira vez na procissão, não conhecia o evento. Foi muito bonito”, elogiou a moradora do Sudoeste, que também entrou em uma das embarcações de última hora. Depois do trajeto no Lago Paranoá, as cerimônias continuaram na Paróquia São João Bosco do Núcleo Bandeirante, onde houve o encerramento do evento.
A secretária de Turismo do DF, Vanessa Mendonça, destacou o interesse do Governo do Distrito Federal (GDF) em incluir o Lago Paranoá no cotidiano dos brasilienses por meio de atividades. “Desde o início do governo, começamos a estruturar o turismo náutico e a resgatar as ações que já existiam e estavam na memória afetiva da nossa população, além de criar novas. Temos o maior lago urbano do mundo, que é um atrativo turístico muito especial. Uma série de ações no lago serão implementadas daqui para frente”, informou a secretária.
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