Aos poucos, e com segurança, os palcos da cidade começam a ser retomados por companhias de teatro. Desde março, teatro, cinemas e eventos culturais foram autorizados a retornar suas atividades, mas com limites: funcionamento com 50% da capacidade, vendas de entradas on-line, regras de distanciamento e uso obrigatório das máscaras dentro do local, assim como fornecimento de itens de higiene.
Para o ator João Antônio de Lima Esteves, também diretor e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), o teatro presencial traz experiências e emoções únicas para o público, que são insubstituíveis pelo modelo virtual. “Não tem dúvida que o teatro é uma atividade que exige a presença, é uma emoção muito diferente, só existe com a presença física. Quando você vê por uma tela, em casa, você tem milhões de outras distrações, pode ser chamado no telefone, conversar com alguém, um cachorro late. Na sala de espetáculo, só tem a luminosidade do palco, e ouvir as reações do público junto com você é outra emoção. Rir com outras pessoas é diferente do rir solitário em casa, não tem nem comparação. É fundamental que tenha essa volta, obviamente, com toda segurança”, completou o professor.
Em virtude da necessidade de produção artística durante a pandemia, muitos grupos de teatro investiram em lives, apresentações on-line, espetáculos com cada ator em sua casa, entre outros formatos. Este tipo de modelo derrubou barreiras geográficas e pode permanecer para agregar ao espetáculo, segundo João Antônio. “A pandemia nos trouxe uma outra linguagem, que é essa linguagem on-line, que não é exatamente vídeo, cinema, mas é outro formato que não definimos ainda, que nos proporcionou essa experiência, muitas delas interessantes. É provável que não se perca, quando tudo voltar ao novo normal”, concluiu.
O Festival Cena Contemporânea, por exemplo, pelo segundo ano consecutivo foi totalmente on-line. A 22°edição reuniu peças teatrais de diversos países e promoveu debates com especialistas. Diretor e curador do festival, Guilherme Reis comentou que “o teatro foi um dos segmentos mais prejudicados durante a pandemia, mais do que música, mais do que o cinema. O teatro envolve muita gente, gera muito emprego.”
“Foi um aprendizado a mais, e o principal desafio foi saber como está chegando o conteúdo ao público, e as respostas se dão por e-mail, mensagens e comentários. Tivemos um público de mais de 13 mil pessoas, ampliado tanto aqui dentro do DF, quanto no Brasil inteiro, além de participações de outros países. Então para o festival foi muito importante o fato de estar acontecendo, porém não é a mesma coisa”, explicou Guilherme Reis.
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Oportunidades on-line
A Néia e Nando Companhia Teatral está nos palcos brasilienses há mais de 20 anos. Com mais de 30 atores, o grupo teatral foi idealizado pelos atores e diretores Néia Paz e Nando Villardo e é formado por atores, cenógrafos, maquiadores, figurinistas, iluminadores, sonoplastas, coreógrafos e outros profissionais. Com foco no público infanto-juvenil, a Cia parou totalmente suas atividades durante a pandemia e está retornando aos poucos as apresentações com todos os cuidados, como o uso de máscara durante as apresentações. “Durante muitos meses ficamos parados de todas as atividades, mas, aos poucos fomos retornando os ensaios virtualmente, conforme a demanda de trabalho”, explicou Nando.
Atualmente, a companhia está apresentando alguns espetáculos nos shoppings de Brasília aos finais de semana: sábados e domingos, às 16h, no Pátio Brasil e sábado, às 15h, no Liberty Mall, com apresentações gratuitas. Segundo Nando, o fato de estar de volta com apresentações presenciais recarrega as energias para continuar o trabalho. “É muito emocionante saber e ver que o nosso público estava com saudades de nos ver nos palcos da cidade, nos dá força. Para o ator, não importa a quantidade de pessoas na plateia, hoje precisamos estar no palco para recarregar as nossas energias de artistas que somos”, disse.
O teatro Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) também retornou com espetáculos teatrais. Até o início de agosto, o musical infantil O pescador e a estrela estava em cartaz no centro cultural. A proposta do projeto é dar protagonismo à deficiência visual, ampliando a reflexão sobre a acessibilidade dentro das artes cênicas, dentro e fora dos palcos, além de trazer esse debate para o público infantil. A peça retornou a Brasília após as apresentações terem sido suspensas no início de 2020. “Nesse momento estamos vivendo uma das coisas que as pessoas mais precisam — além da vacina, lógico! — que é uma injeção de esperança e otimismo. E as artes, a cultura e, principalmente, o teatro, podem contribuir muito para isso”, afirmou Lucas Drummond, ator e escritor da peça.
*Estagiária sob a supervisão de José Carlos Vieira