Acusado por sete crimes de estelionato em Valparaíso (GO) e preso desde 15 de junho, David Alves Bezerra, 30 anos, continuará detido preventivamente, após o cumprimento de mais um mandado de prisão contra ele, na segunda-feira (16/8). Ele é acusado de praticar golpes contra, ao menos, 90 vítimas, em quatro estados e no Distrito Federal.
Mesmo com o estelionatário detido em Caucaia (CE), a cerca de 16km da capital cearense, integrantes do Grupo de Repressão a Crimes Patrimoniais (Gepatri) da Polícia Civil de Goiás (PCGO) cumpriram o pedido da Justiça goiana e enviaram o documento à do Ceará, para evitar que David seja liberado.
Natural de Fortaleza, David fingia ser analista da Receita Federal e fez vítimas em Goiás, Mato Grosso, Roraima, Santa Catarina, no DF e no Entorno. Até o momento, a polícia identificou 90 delas. O acusado era conhecido pelos apelidos de Berlim e Alemão, devido ao fato de ser loiro e ter olhos claros.
Para enganar os alvos, David dizia ter acesso a bens apreendidos pela Receita Federal e pela Fazenda dos estados. Na sequência, oferecia aparelhos eletrônicos e itens importados de alto custo às vítimas. As vendas, porém, ocorriam por valores abaixo do mercado, segundo a PCGO.
Golpes
Com a promessa de entregar celulares, notebooks, perfumes importados e computadores, David recebia transferências bancárias das vítimas. Na data combinada, ele não aparecia. Além disso, usava contas bancárias de terceiros, que repassavam os valores a ele, segundo a Polícia Civil.
O delegado Leonilson Pereira afirma que o investigado mudava de estado constantemente e, por isso, aplicava golpes por todo o Brasil. Onde chegava, procurava mulheres para ter relacionamentos amorosos e as persuadia a encontrar possíveis vítimas — normalmente, pessoas do convívio delas.
Por conquistar a confiança das companheiras e das vítimas, o criminoso ganhou um terceiro apelido: Don Juan. "Durante as investigações, tivemos acesso a imagens que demonstram uma vida de luxo que o acusado levava. (Ele) exibia viagens, andanças em carros de luxo e manuseio de altos valores em dinheiro, menosprezando, inclusive, a atividade policial que o investigava", afirmou o delegado Leonilson.
Para tornar a atuação crível, o estelionatário postava fotos nas redes sociais como servidor público e enviava imagens usando um uniforme de trabalho para as vitimas.
Prisões
Em 15 de junho, a Polícia Civil do Ceará (PCCE), por meio da Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), prendeu o estelionatário em Fortaleza, no bairro Papicu. David foi detido no apartamento de uma namorada, que não sabia dos antecedentes criminais do companheiro.
Até o momento, a PCCE identificou duas vítimas do criminoso no estado. Uma delas se envolveu com o suspeito e repassou a ele uma quantia referente a pecúnias para que ele financiasse dois veículos de luxo. A segunda deu R$ 80 mil para o estelionatário. Ele dizia que o valor seria usado para compra de bens em leilões da Receita Federal.
No apartamento onde David estava, os policiais civis encontraram dinheiro, cartões de banco, documentos de terceiros, contratos, planilhas e até um carimbo com nome da Receita Federal. Na delegacia, ele foi autuado em flagrante por estelionato, falsidade ideológica, uso de documento falso e lavagem de dinheiro.
Defesa
David foi preso pela primeira vez pela Polícia Civil de Roraima (PCRR), em fevereiro de 2017, também por estelionato. À época, a instituição informou que ele era investigado desde 2014. Quando da prisão em flagrante, a polícia havia identificado mais de 70 vítimas e, depois, outras apareceram na delegacia para reconhecimento do estelionatário.
Ao Correio, o advogado de David, Roberto Castelo Branco, afirmou que David não apresenta ameaça à sociedade, pois "nunca cometeu agressões físicas". "A defesa elabora um documento de revogação do pedido de prisão preventiva da PCGO, pois entende que ele preenche requisitos e tem condições de responder ao processo em liberdade. Em seguida, entraremos com pedido de habeas corpus", adiantou Roberto.
O Tribunal de Justiça do Ceará, por meio de nota, informou à reportagem que um processo tramita contra o réu no estado, na 2ª Vara Criminal de Fortaleza, além de um inquérito policial, em análise pelo Ministério Público cearense (MPCE). Os dois documentos envolvem crimes de estelionato.
A atualização mais recente do processo ocorreu em 4 de agosto, quando a 2ª Vara Criminal intimou o MPCE e a defesa do acusado para participar da primeira audiência na Justiça. A oitiva ocorrerá por videoconferência, devido à pandemia da covid-19, e terá depoimentos das testemunhas de defesa e de acusação.
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