O Distrito Federal caminha para um cenário com a maior parte da população adulta vacinada por, ao menos, uma dose contra a covid-19. Nessa semana, o atendimento alcançou pessoas com 20 anos ou mais. Na próxima terça-feira, o Executivo ampliará essa faixa etária para o grupo a partir dos 18 anos. O avanço será possível graças à chegada de 115.990 imunizantes à capital do país, ontem, sendo 55.150 da CoronaVac e 60.840 da Pfizer (leia mais na página 15). Até o momento, 1.784.763 indivíduos receberam a primeira aplicação; desses, 689.609 estão com o esquema vacinal completo, sendo que 54.442 tomaram a dose única.
Para o médico e doutor em saúde pública Roberto Bittencourt, a adesão entre jovens vista na semana passada é positiva. No entanto, o controle da pandemia só será possível quando 75% da população tiver tomado as duas doses ou a única (ontem, apenas 22,59% da população estava imunizada com a D2 ou dose única e 60,25% com a D1). “Chegar a esse índice é muito importante para nós. Não basta avançarmos na primeira aplicação. Precisamos ter uma busca ativa em relação à segunda. Não podemos deixar ninguém para trás”, ressalta.
O médico lembra que deve haver um trabalho conjunto para o DF e o país avançarem na imunização de quem não recebeu a primeira dose e conscientizar a população sobre a importância de completar o esquema vacinal. “Temos um caminho a seguir: primeiro, chegar a 75% da população com a primeira dose garantida; depois, a 75% das pessoas com a segunda; por fim, pensar em estratégias para o reforço com a terceira dose, principalmente na população idosa”, orienta. “Precisamos andar rápido na imunização. Quanto mais gente vacinada, menos pessoas expostas a variantes. Temos perdido muita gente para a doença. Precisamos mudar isso.”
Para quem viu pessoas próximas morrerem por causa da covid-19, ter a chance de receber o imunizante trouxe grande alívio. “Estou animada para tomar a vacina. Pela minha idade, pensei que demoraria mais. Fiquei feliz que conseguiram adiantar”, comemora a estudante Julia Lopes de Oliveira, 18 anos. Apesar da alegria, a jovem enfrentou dificuldades no último ano. “Foi horrível, muito difícil para me adaptar. Sou de escola pública e me senti muito prejudicada (nos estudos). Fora alguns familiares que eu perdi”, desabafa a moradora do Cruzeiro.
Mãe de Julia, a fisioterapeuta Ana Maria Lopes, 47, conta que ver a família se vacinar foi um momento muito aguardado. A filha mais velha dela, Natália Lopes, 23, tomou a primeira dose do imunizante contra a covid-19 na quinta-feira. Nesta semana, Julia será a próxima. “Em casa, estávamos na expectativa. Essa doença não escolhe idade. Então, meu marido e eu ficamos muito felizes por elas. Uma já foi. E a imunização delas também interfere na de outras pessoas. O importante é manter a saúde de todos”, reforçou Ana Maria.
No aguardo
Para a estudante Vitória Ferreira Guimarães, 18, a notícia do início da imunização para pessoas da faixa etária dela chegou em um momento de preocupação. “Com as novas mutações que têm surgido, espero que a vacina traga um pouco de alívio. Meus amigos e eu contamos os dias para as coisas voltarem a ser como eram. Mas sabemos que vai demorar um pouco e que temos de continuar a nos proteger e usar máscara”, comenta a moradora de Taguatinga Norte. “Quase todo mundo da minha família se vacinou. Agora, só faltam uns primos da minha idade e eu. Somos uns dos últimos.”
Acompanhada da irmã Dayana Lucena, 40, e do namorado, Samuel Koch Schubert, 20, Anna Lucena, 19, tentou se vacinar na quinta-feira no posto de vacinação do Parque da Cidade. Contudo, teve de esperar mais um pouco. Apenas Samuel pôde receber a primeira dose, por causa da idade. Apesar da tentativa, Anna diz não estar ansiosa: “Quando chegar minha vez, vai ser bom. Quis tentar logo, para aproveitar a viagem. Se não desse, tudo bem. Esperei tanto tempo, posso esperar mais um pouco”, diz a estudante.
Palavra de especialista
Benefícios da imunização
Todas as vacinas, não só contra a covid-19, nasceram para evitar a forma grave da doença e para evitar que as pessoas morram. Essa é a efetividade delas. Consequentemente, evitamos a hospitalização, a alta demanda no serviço de saúde e a superlotação, até porque outras doenças continuam a existir. O segundo benefício da vacina é dificultar a circulação do vírus, principalmente nesse cenário que vivemos, no qual há uma variante com grande poder de transmissão (Delta). Quando se reduz a faixa etária na campanha de vacinação, a ideia é diminuir, além da mortalidade, a circulação do vírus, porque sabemos que, mesmo em casos assintomáticos ou leves, as pessoas continuam a transmiti-lo.
Ana Helena Germoglio, infectologista
» Mutações
Saiba quais cepas da covid-19 foram identificadas pelos cientistas até o momento
Variantes de preocupação
» Beta (B.1.351) — identificada primeiro na África do Sul, em maio de 2020
» Alpha (B.1.1.7) — identificada primeiro no Reino Unido, em setembro de 2020
» Delta (B.1.617.2) — identificada primeiro na Índia, em outubro de 2020
» Gamma (P.1) — identificada primeiro no Brasil, em novembro de 2020
Variantes de interesse
» Epsilon (B.1.427/B.1.429) — identificada primeiro nos Estados Unidos, em março de 2020
» Zeta (P.2) — identificada primeiro no Brasil, em abril de 2020
» Kappa (B.1.617.1) — identificada primeiro na Índia, em outubro de 2020
» Lota (B.1.526) — identificada primeiro nos Estados Unidos, em novembro de 2020
» Lambda (C.37) — identificada primeiro no Peru, em dezembro de 2020
» Eta (B.1.525) — identificada em diversos países, em dezembro de 2020
» Theta (P.3) — identificada primeiro nas Filipinas, em março de 2021
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Circulação de 11 variantes preocupa
Um dos objetivos da vacinação é evitar o avanço da covid-19 e, consequentemente, o surgimento de novas variantes do novo coronavírus, com alto poder de transmissão e de provocar casos graves. Até o momento, pesquisadores identificaram 11 cepas do Sars-CoV-2. Quatro delas são denominadas variantes de preocupação, pelo grande potencial para levar à morte (leia Mutações). No Distrito Federal, a Gamma — identificada primeiro em Manaus — é a que predomina entre as notificações registradas pela Secretaria de Saúde, segundo amostragens do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-DF).
No entanto, o Distrito Federal tem mais de 80 casos e duas mortes provocadas pela Delta — identificada, inicialmente, na Índia. Especialistas destacam que essa tem maior poder de transmissão, principalmente entre pessoas não vacinadas. “As variantes resultam em uma alteração aleatória. Cada vez que um vírus passa por um organismo, ele tende a se multiplicar. E, nessa replicação, podem surgir mutações. Portanto, quanto menos pessoas infectadas, menores as chances de termos variantes”, explica o epidemiologista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Wildo Navegantes. “A vacinação completa é o ideal para as pessoas estarem protegidas de casos graves. Se reduzirmos o contato físico, mantivermos o uso da máscara, evitarmos aglomerações e fizermos a higienização correta, teremos melhores resultados.”
Wildo observa que parte considerável da população tem relaxado nos cuidados, o que prejudica a contenção da crise sanitária. “Não é o momento para isso (abrir mão do recomendado pelas autoridades de saúde). Se as pessoas continuarem, será pouco provável termos um cenário de controle da pandemia daqui a três meses (quando os jovens receberão a segunda dose)”, alerta.