ENTREVISTA

Segunda dose não será mais antecipada no DF, diz secretário da Casa Civil

Gustavo Rocha destaca que o GDF monitora o avanço da variante Delta e que não há nenhum tipo de medida restritiva ou de flexibilização à vista devido ao atual cenário da pandemia. Diz, ainda, que o governo manterá o modelo de vacinação atual

Samara Schwinghel
postado em 14/08/2021 06:00
 (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
(crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)

Mesmo com os recentes avanços na vacinação contra a covid-19 no Distrito Federal, a pandemia não dá sinais de estar perto do fim, e o Governo do Distrito Federal (GDF) tem muitos desafios sanitários, econômicos e sociais pela frente. Atualmente, a taxa de transmissão do vírus está em 0,98, o que indica que um grupo de 100 pessoas infecta outras 98.

Além disso, as médias móveis de casos e de mortes registraram, nesta sexta-feira (13/8), queda de 18,3% e aumento de 23,5%, respectivamente, quando comparados com 14 dias atrás. O secretário-chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha, em entrevista exclusiva ao Correio, afirmou que o atual cenário pandêmico está melhor que há alguns meses e, por isso, não há qualquer tipo de nova medida, seja restritiva, seja de flexibilização, em estudo.

Segundo ele, o GDF investe em campanhas de comunicação para conscientizar a população em relação ao uso de máscaras e à vacinação. “O governo sozinho não consegue resolver todos os problemas. A população precisa fazer sua parte”, completou. O gestor também explicou que o motivo de o governo local não autorizar, por enquanto, a antecipação da segunda dose das vacinas contra a covid-19 para todos. “O risco de antecipar é justamente gerar um descompasso. Quando se antecipa, muita gente busca. Uma pessoa que só ia receber a dose daqui uns dias recebe hoje, e quem deveria receber hoje pode ficar sem”, exemplificou.

À frente da pasta por pouco mais de um ano, Gustavo Rocha avaliou que todas as secretarias do GDF trabalham de forma integrada no combate à pandemia. Além disso, segundo ele, a relação entre o Executivo local e o governo federal é boa, apesar de algumas discordâncias de gestão serem passíveis de ocorrer. “Há a gestão do Distrito Federal em que o governador (Ibaneis Rocha) precisa defender os interesses da população local. Algumas vezes, essa defesa pode ir de encontro com a visão do presidente (Jair Bolsonaro), mas isso é normal em uma democracia”, disse.

O senhor assumiu o cargo de chefe da Casa Civil em plena pandemia, em junho do ano passado. Como foi entrar no meio do furacão e começar a gerir a pasta? Quais foram os principais desafios?

Ninguém estava pronto para passar por uma pandemia igual a que o país e o mundo está passando. Tivemos que nos preparar enquanto a pandemia estava em curso. Nesse sentido, a preparação da área de saúde é muito difícil, a atenção que precisa continuar sendo dada à economia também, além da área social, que o governador (Ibaneis Rocha) pede muito para que se dê atenção. São as maiores dificuldades. Ao mesmo tempo em que muita gente fica doente, medidas restritivas fazem com que a economia retraia, pessoas perdem o emprego e isso aumenta a quantidade de pessoas em situação de vulnerabilidade. Tudo isso faz com que a busca pela solução fique muito difícil.

Como avalia o desempenho integrado das pastas no combate à pandemia?

Todos estamos empenhados em superar a pandemia. No meu caso específico, minha formação é jurídica, e eu tenho que estudar para entender a questão da saúde para poder auxiliar as outras pastas, que é o dever da Casa Civil. Estou aqui para facilitar o trabalho de outras secretarias, olhar para dentro. E há uma integração muito grande entre as secretarias.

A fiscalização das medidas restritivas e do uso de máscaras é realmente efetiva? Pensam em mudar alguma coisa?

A fiscalização continua em vigor. No último relatório que a Secretaria do DF Legal passou, 700 pessoas foram multadas pelo não uso de máscaras. Vale destacar que essa multa é para aqueles que não querem usar máscara. Não para aquelas pessoas que esqueceram e, quando questionadas, colocam ou aceitam uma. A multa é para aqueles que, quando se oferece uma máscara, se recusam a usar. Nesse caso é que a multa vem sendo aplicada. O DF Legal está na rua de forma ostensiva não só em relação à máscara, mas também em relação ao cumprimento dos decretos. Temos que lembrar que, apesar de a situação estar melhorando, a pandemia continua. Então, temos que alertar a população que só vamos conseguir ultrapassar isso se todo mundo fizer sua parte. O governo sozinho não consegue resolver todos os problemas dela. A população precisa fazer a parte, como a grande maioria vem fazendo. Dou exemplo da vacinação dos jovens ontem, que bateu todos os recordes.

A vacinação está próxima de chegar à última faixa etária dos adultos. Quais os próximos passos? E em relação à pandemia, quais os desafios que vêm pela frente?

A vacinação vai continuar e vamos buscar vacinar todos os moradores do DF. Aqueles que por algum motivo não se vacinaram, vamos continuar insistindo para que vacine. Aqueles que têm resistência, vamos tentar quebrar isso para que todos busquem a imunização. O fato de chegarmos à faixa etária de 18 anos não quer dizer que a campanha vai acabar. Pelo contrário, ela vai continuar. Em relação às medidas restritivas, para que o governador decida sobre abertura e fechamento, é analisado o retrato atual da pandemia e do sistema de saúde do DF. Dito isto, neste momento, não tem previsão de outra medida a ser tomada. Houve flexibilizações no mês julho e estamos aguardando mudanças no cenário para deliberar sobre isso. Mas, não há previsão de novas medidas, principalmente restritivas.

Como é o relacionamento com o governo federal? Acha que os atrasos e a defasagem nos repasses das vacinas têm a ver com alguma crise entre o Executivo local e a União?

A questão do recebimento de vacinas não tem qualquer relação com supostas crises entre os governos. Foi o cálculo feito erroneamente pelo Ministério da Saúde. Desde fevereiro brigamos pelas vacinas extras. Em fevereiro foi feito o primeiro pedido junto ao ministério para que isso se regularizasse. Como chegou a um ponto que o prejuízo do DF estava muito grande, foi necessário ação judicial que culminou no envio das 290 mil doses. Sobre a relação do governador Ibaneis com o governo federal, ela é muito boa. Tanto que ex-secretários do GDF hoje são ministros. Agora, há a gestão do DF em que o governador precisa defender sempre os interesses da população local. Algumas vezes, essa defesa pode ir de encontro com a visão do presidente, mas isso é normal em uma democracia.

Então, agora, esperam receber as doses na quantidade correta?

Esperamos que se mantenha a regularidade das doses necessárias. A gente sempre falava que recebia menos. Recebemos essas 290 mil doses como complemento do que já era devido ao DF e, a partir de agora, a gente espera que venha no montante correto.

Quais as ações do GDF para evitar problemas em licitações ligadas à compra de insumos e remédios contra a covid-19?

Essas operações são investigadas pela Justiça. O GDF aguarda a conclusão e contribui para as investigações. Por ser advogado e preocupado com essas questões, o governador determinou o aprimoramento de todas as regras de compliance nas pastas para que se evite qualquer tipo de questionamento futuro com relação às licitações. É uma determinação para todas as secretarias, principalmente aquelas que movimentam os maiores valores e têm um volume de licitação maior.

Há algum tipo de fiscalização e prevenção para os alunos e professores de escolas públicas?

Antes do início das aulas, a secretária Hélvia Paranaguá (Educação) junto ao secretário Osnei Okumoto (Saúde), durante a elaboração do protocolo de volta às aulas, montaram o procedimento, caso alguém apareça com sintomas da doença. Há um protocolo específico em todas as escolas, há uma Unidade Básica de Saúde determinada e com orientação para cada escola com uma equipe de prontidão caso algum aluno precise ser analisado. As secretarias estão lado a lado para que o retorno às aulas ocorra da melhor forma possível. Mas o próprio governador disse que pode haver algum caso, porque o vírus continua circulando. Temos que trabalhar para minimizar isso. Os nossos alunos sofreram um prejuízo muito grande pela falta de aulas presenciais. As escolas públicas tiveram as aulas presenciais suspensas por mais de um ano e isso é um prejuízo muito grande para o ensinamento dessas crianças.

Apesar do avanço da vacinação, há pessoas de várias faixas etárias que relutam em se imunizar, afetando toda a comunidade. O que pode ser feito para convencer esse grupo?

Existe um percentual de pessoas que têm resistência à vacina. E a vacinação não é obrigatória. A gente incentiva, mostra a necessidade e a importância da imunização. Até o momento, tem a campanha de comunicação, incentivo por parte de todas as secretarias do GDF. Assim, a gente espera que um maior número de pessoas venha aderir à imunização. E vamos continuar até que tenhamos vacinados todos.

Qual a estratégia do GDF para barrar o avanço da variante Delta? Há possibilidade de barreiras sanitárias?

Por enquanto, não. A Secretaria de Saúde faz o acompanhamento e monitoramento dos casos e toma todas as providências necessárias. Então, neste momento, não há previsão de medida restritiva ou barreira sanitária por causa da variante Delta. A variante é monitorada e a Secretaria de Saúde está muito atenta a essa questão. Vai acompanhar, orientar, aperfeiçoar o sistema de saúde para o tratamento até que a gente supere essa fase.

Há estudos logísticos para compra de vacinas em 2022 ou o GDF manterá o modelo do PNI, do Ministério da Saúde?

Somos um dos poucos estados que seguem à risca o PNI. Não há previsão de aquisição de vacinas. O governador chegou a analisar isso, quando a Anvisa liberou a importação de um percentual de determinada vacina, mas chegou à conclusão que era inviável.

Os estados têm autonomia para definir a vacinação. Por que o DF não antecipa a segunda dose de imunizantes da Pfizer, considerando que a bula orienta prazo de 21 dias?

Há uma previsão de entrega de vacinas informada pelo Ministério da Saúde que pauta as perspectivas e noções da Secretaria de Saúde do DF. Assim, a pasta sabe quantas doses precisam ser aplicadas no mês. Só falamos que a segunda dose está garantida quando ela já está aqui ou sabemos que está a caminho. Porém, a gente só recebe essa informação muito em cima da hora. Então, o risco de antecipar, neste momento, sem ter a confirmação da segunda dose carimbada para todas as pessoas do DF, é justamente um descompasso. Quando se antecipa, muita gente busca. Uma pessoa que só ia receber a dose daqui uns dias recebe hoje, e quem deveria receber hoje pode ficar sem. Para evitar esse tipo de problema, só é feita a antecipação quando vemos que não terá prejuízo. Mas, sem dúvida, sendo possível, será feita a antecipação desta segunda dose.

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