HÁBITOS

Alimentação saudável: pandemia aumenta consumo e produção de orgânicos no DF

Com o distanciamento social e a adoção do home office, muitas pessoas passaram a ser mais criteriosas com os alimentos no prato

Mariane Rodrigues
postado em 11/08/2021 06:00

A produção de alimentos orgânicos no Distrito Federal vive um momento de crescimento no consumo. A percepção é dos próprios produtores e empresas que fornecem os alimentos. Desde o início da pandemia, em março de 2020, a busca por hábitos mais saudáveis virou item prioritário para alguns moradores da capital federal.

O aumento da variedade de itens orgânicos cultivados e a expansão de área para atividade são outros indicadores dessa mudança de comportamento. Em 2019, o espaço destinado ao plantio de orgânicos era de 512 hectares, com 1.600 produtores envolvidos e 77 variedades. Em 2020, houve um aumento para 598 hectares, 2.018 agricultores e, em termos de opções, o consumidor brasiliense passou a contar com 89 itens. Este ano, os dados apontam para a expansão do segmento. A área de cultivo chegou a 696 hectares, 2.190 produtores estão na atividade e a diversidade de produtos subiu para 94. Os dados são da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater).

De acordo com a empresa, a tendência vem desde 2016 e, nos últimos 5 anos, registrou-se o crescimento de 528% no setor. Os cinco principais produtos na composição do Valor Bruto da Produção (VBP) são, respectivamente: alface, tomate, couve, brócolis-cabeça e cenoura.

Quem passou a compor essa estatística foi o empresário Alexandre Nogales, 25 anos, sócio da Flora Orgânicos. Em 2016, enquanto cursava agronomia na UnB, o jovem queria investir em um negócio que promovesse saúde por meio da alimentação e da prática da educação ambiental. “Eu entrei em um programa de iniciação científica (PIBIC) e fiquei três anos fazendo pesquisa em agroecologia em uma fazenda da UnB. Com o tempo, comecei a plantar e ter produtos para colher. No início de tudo, eu saí vendendo com um carrinho na Asa Sul, na rua, e um amigo meu comentou de um terreno no Lago Sul”, lembra o agrônomo. O espaço era uma área ociosa na chácara de familiares, foi quando os dois decidiram usá-lo para desenvolver um sistema Agroflorestal com foco em hortaliças.

Das hortaliças, eles passaram a cultivar outros vegetais. “Criamos a marca e começamos a fazer as vendas via WhatsApp. Fazíamos uma lista dos produtos disponíveis e enviávamos”, detalha. Com o tempo, a demanda cresceu, e a pandemia gerou um aumento de pedidos e da produção. Em 2019, eles recebiam uma média de 35 pedidos por semana. Hoje, a empresa tem 140 encomendas semanais, além de ter diversificado a oferta de produtos. Atualmente, o projeto mobiliza 30 produtores locais e as entregas aos consumidores são feitas às terças e sábados, além de contarem com espaço próprio na Asa Norte.

O trabalho articulado de quem produz é uma das estratégias para alcançar os consumidores. A Fazenda Orgânica, existente há 11 anos, é uma plataforma coletiva de produtores de orgânicos do DF e conta com 46 agentes locais. Eles oferecem, em média, 360 itens entre legumes, verduras, frutas e laticínios. Tudo orgânico e certificado. Antes da pandemia, a produção também era vendida em uma feira presencial em um templo budista. Com o distanciamento social e sem possibilidade de escoar a produção, eles desenvolveram uma plataforma on-line com serviço delivery no DF, que realiza entregas às terças e sábados. “A gente foca em manter viva a agricultura familiar local e conseguimos fazer uma conexão direta do campo para a cidade”, explica a fundadora do projeto Maria das Dores Souza Macedo, 42. Ela conta que também acompanha as produções e seleciona os melhores produtos. “Se a gente tem 10 produtores de tomates, eu fecho com os melhores, com quem tem excelência no produto”, explica. Em julho, completaram um ano de plataforma on-line e com a implementação da nova proposta, garantiram emprego para mais seis famílias.

Saúde e sustentabilidade

Antônio Martins Araújo, 44 anos, é produtor há oito anos. “Comecei a trabalhar com orgânico para levar alimentos saudáveis para a mesa dos consumidores e percebo que cada vez mais a população busca por produtos livres de agrotóxicos”, ressalta. Para ele, o mês de julho teve uma queda de 40% nas vendas. “Acredito que por ter mais pessoas vacinadas, agora estão voltando a trabalhar presencialmente e também estão voltando a viajar, então estão diminuindo o consumo”, especula. Apesar da queda, itens como batata doce, batata inglesa e cenoura somam 300 kg de vendas semanais da sua lavoura. Além de vender para cooperativas e associações, Antônio vende direto para famílias e tem uma feira no Ceasa, aberta aos sábados.

Em uma chácara na Taquara, Gilliard Mendes de Souza Barbosa, 32, produz alimentos há 15 anos. “Sempre trabalhei aqui na chácara, mas eu era produtor convencional e já tem 6 anos que migrei para os orgânicos”, explica o jovem. Mesmo acreditando na importância da oferta de alimentos saudáveis, o jovem conta que a atividade nem sempre é valorizada e que chegou a passar necessidades, mas de 2020 para cá, sentiu o aumento na procura.

A nutricionista Mônica Campelo da Silva Rocha, 35, sempre preferiu orgânicos, mas confessa que com a correria do dia a dia, por um tempo, deixou de lado a escolha. Em 2020, com o home office, voltou a comprar produtos da agricultura familiar. “A gente está vivendo em uma época que é imprescindível cuidar da saúde e ter um olhar para que tipo de alimento a gente coloca no nosso prato, que seja limpo e livre de agrotóxico é uma busca não só minha mas de muitos clientes”, aponta a profissional. Por passar mais tempo em casa, a nutricionista afirma que as pessoas estão fazendo mais a sua própria comida e, com isso, melhores escolhas, como a compra de produtos orgânicos.

O profissional de tecnologia Gabriel do Nascimento, 26, é outro adepto de escolhas mais conscientes. Para ele, é comprovado o quanto esse consumo faz bem para o meio ambiente. “O motivo pelo qual comecei a comer orgânicos não foi nem porque é mais saudável ou porque é melhor para o planeta, mas como minha empresa oferece serviços para uma empresa de orgânicos, me aproximou desse universo e, há dois anos, aderi a compra frequente por notar que é incomparável no paladar ”, constata.

 

 

 

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